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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 8 de outubro de 2024


Isaías Caldeira    isaias.veloso@yahoo.com.br
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Por Isaías Caldeira - 20/9/2024 22:09:56
SENESCÊNCiA


Sessentei há alguns anos.

Apenas sei que duro, e nem me importo com o calendário oficial- o meu tempo sou eu que faço.

Hoje, por exemplo, acordei com 30 anos .

A minha face jaz esquecida em algum espelho no passado, e dele sou cativo e sempre jovem, um Fausto sem o pacto sinistro com o Anjo caído.

Não vendi minha alma, mas estou longe da santidade, e me sei pecador.

Os hábitos nos escravizam, sabemos, e não é fácil libertar-se desses visgos do prazer postos nas armadilhas do pecado.

So sweet!

Ando nos mesmos espaços de antes e falo a linguagem destes tempos.

A senectude não se confunde com a senilidade.

Ambas integram a senescência , essa perda das faculdades físicas impostas pelo tempo, mas diferem quanto ao substrato cognitivo do indivíduo.

Ainda não tentei mudar o mundo em que vivemos, nem me fazer de democrata calando ou eliminando quem se opõe ao meu elixir da felicidade geral - essa poção politicamente correta que envenena a liberdade, pondo algemas douradas e guizos em escravos.

Na hora ínvita que a todos aguarda, o anjo da morte não lerá em meu testamento tal vileza, e minha alma atravessará o rio Aqueronte sem o peso desta estultice.

Sempre fui heterodoxo nos costumes e na politica, se é que sejam figuras distintas, pois se interagem, e tenho convicção que a tolerância é uma virtude impar, nos impondo o dever de respeito as ideias e jeito de cada um.

Até aqui, só gratidão!

Amei e fui amado, chorei e ri muito, não passei fome, pois arroz e feijão, com alguns complementos, bastam à saciedade.

Enfim, fui feliz em muitos momentos e, no conjunto da obra, a vida me foi leve.

Entre mocinhos e bandidos, soube entender o meu espaço, sem querer ser arquétipo de coisa alguma.

Me desculpem as pessoas destes tempos ambíguos, que respeito, pois, como disse, cada um que cuide de sua alma, mas amo minha condição masculina e nela afirmo a razão maior de ser homem, no gênero, que é e continuará sendo o seu oposto na especie, a mulher, o “leitmotiv” da nossa existência.

Então, envelhecido, mas vivo, espero apreciar esses atributos femininos insubstituíveis por mais alguns anos, até á senilidade, aí sim, perda do juízo.

Então, morrer.

Já será tempo!


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Por Isaías Caldeira - 4/9/2023 07:30:09
Um dia minha mãe falou com carinho sobre um prato de louça, indez, entre tantos pratos baratos, dizendo que ele tinha vinte anos, tempo do seu casamento. Reverenciei aquela peça-que hoje sei simples- como uma relíquia: 20 anos!!!! Uma eternidade!!! Dia 10 vou completar 64 anos, se Deus quiser! Dentro deste tempo, foram 40 de vida jurídica, 15 como advogado e 25 como juiz. Na verdade nada foi rápido, como se diz sobre a vida, porque tudo é ilusão: na juventude damos eternidade à vida, e na velhice lamentamos seu pouco tempo. Ambos equivocados, pois é somente uma questão de ótica e percepção. Quem logrou passar dos sessenta viveu tempo suficiente para entender o mundo, se foi bom observador, e fez o que lhe foi possível. Se nada fez e só lamentou, tivesse mil anos ao seu dispor, reclamaria da brevidade do tempo, porque sempre deixou para o amanhã as coisas que deveria ter feito ontem, ou há dez anos! Agora que completo bodas de prata na Magistratura, só lamento que minha mãe não esteja presente, para que eu possa lhe mostrar esta peça incrustada na minha vida, o meu ofício, como aquele seu humilde utensílio doméstico, e ela pudesse dizer, como me dizia no meu tempo de menino, “ este meu Isaías é caro!”e eu me enchesse de orgulho por ser uma peça tão valiosa! Mãe, sempre serei um prato modesto, um mero utensílio que Deus colocou no mundo, para servir ao próximo uma porção de amor, num mundo famélico de humanidade. Queria você aqui, com meu velho pai, para, felizes, comemorarmos a mesa farta e o cálice que transborda, neste coração que almeja acolher a todos!


86334
Por Isaías Caldeira - 28/6/2022 07:30:05
MAR DISPERSO
(Isaías Caldeira Veloso)

Vasto, sou inteiro em mim
Não por orgulho, mas por ser
Que é muito mais que ter
Que ser é um sem fim.


Um mundo só meu
Terra alheia, universo
A quilha dessa nau rompeu
O mar em mim disperso.

Na tormenta, velas pandas
Capitão sem leme e norte
À força das águas anda.
Num porto qualquer, a sorte

Talvez seja irmã.
Talvez, morte.


86307
Por Isaías Caldeira - 10/6/2022 19:17:56

Envelhecer tem suas vantagens. A maior delas é que o medo passa a ser apenas um fantasma escondido nas cortinas do passado. Não há nada mais a temer, senão a morte. Em mim, particularmente, ando mais destemido que Lampião diante das volantes, capaz de mastigar cactos para matar sede e fome, nas trincheiras cavadas neste terreno sáfaro de uma existência que ruma ao seu ocaso. Se nao tenho carabinas ou punhais, sou municiado de paz espiritual, haurida numa vida sem grandes aventuras e nada espetacular, ciente do que sou, no caso, um ser a caminho do nada, rumo ao esquecimento, que a todos cinge com seu fecho do tempo, eternamente. Isto me fortalece, afinal a liberdade agora se apresenta plena e cheia de si- sem o dever de prestar contas,face ao desapreço à opinião pública , fardo que a nobreza exige dos relacionamentos sociais. O tempo que resta é só meu, para meu uso e gozo. Não por este egoísmo dos que buscam seu lugar ao sol, tão comum na mocidade, mas ao contrário, de não se desejar nada além do ócio usufruído em “ dolce far niente”, em contraposição ao “ savoir- faire” das relações mundanas, exigido dos que se acham construtores do mundo e giram sua roda. Se não quero ir a algum lugar ou evento, simplesmente não vou, malgrado os convites generosos que chegam. Peço desculpas, inventando um pretexto qualquer. Também não guardo o melhor vinho para uma data especial- nunca se sabe se o sol nos testemunhará na manhã seguinte. Ainda na ativa nas minhas funções judicantes, mas sem a pretensão de converter os jurisdicionados à luz da razão, desviando-os das querelas inúteis. Afinal, sei que se acham todos com significativo quinhão de bom senso, prescindindo de meus conselhos. Então, a força da sentença dita as regras, como tem que ser. Cada dia mais admirador de Voltaire, só desejo cultivar meu jardim, deixando aos contemporâneos os embates da vida, sempre os mesmos em todas as gerações. Se hoje divirjo e brigo até, é apenas pelo gosto à liberdade, de modo deletério, ciente que o resultado prescinde de minhas ações e que no final do embate o vencedor terá batatas por prêmio, como disse o eterno Machado de Assis. Sim, guardei a fé, mas para meu consolo somente. Espero que os outros também possam usufruir desse emplastro que, se não resolve a dor de existir, ao menos a alivia, o que acho razoável e suficiente. No mais, que cada um leve sua cruz em paz, de bom grado. Logo ela será tirada de todos, num eterno descanso que merecemos.


86299
Por Isaías Caldeira - 6/6/2022 15:24:40
Todo lugar sem você é um Saara, é tempestade de areia em minhas manhãs, cobrindo o céu da minha vida. Acordo e estendo o braço à sua procura ao meu lado, e se não a encontro, meu coração se perde nesta amplidão da cama e sou um nômade na estéril e vasta paisagem sem você. Então, me invadem os mesmos pensamentos de Otelo e seu enredo de punhais, no desfecho de sangue de todas as tragédias amorosas. Há vezo de morte nessa Sharia ditada pelo código do ciúme. Os homens matam o que amam,segundo um bardo Inglês, em poema vertido na masmorra. Sublimo a dor da sua ausência, na esperança da sua volta.Passa o dia e aguardo ouvir sua voz na chegada, como sempre, e sei que, de novo e de novo, tão certo como o sol nas manhãs de todos os dias, como as estações do ano, cativo seu, farei festa por sua presença,mesmo que tardia, grato às migalhas de seu afeto atiradas “an passant”, porque a tragédia de quem ama é fazer, de um minuto da atenção de quem se ama, uma eternidade amorosa. Tudo é suportável , menos sua ausência!


86298
Por Isaías Caldeira - 5/6/2022 15:23:49
Um homem morreu. Seu corpo foi vestido com um terno da funerária e arrumado no caixão. Logo baixará à sepultura, após as exéquias contumazes, neste ofício que os vivos devem e prestam aos mortos. Nada levará de seu o “ de cujus”, liberto das ornamentações e bens que o escravizaram em vida. Todos os seus regalos, enquanto transeunte no mundo, debaixo do céu de todos os dias, jazem à espera de outras mãos e nomes que deles se apropriarão. Logo os registros públicos, que atribuem a posse das coisas no mundo, escreverão outros nomes nesta cadeia dominial que atesta a Impermanência de todas as gerações,firmando a nossa condição de locatários dos acervos materiais que acumulamos na vida. Sua fazenda, seu gado, sua casa e carro, continuarão sua saga de coisas alheias a quem lhes velava, à espera, indiferentes, dos novos proprietários e cuidadores.A esposa lembrará com saudades talvez, mas nada obsta que desvie o curso de um riacho para irrigar um outro amor que se faz rebento no deserto amoroso de sua vida, após o sétimo dia. Isto se tiver idade e hormônios condizentes. Enfim, cada morte está sob a atração do buraco negro que devora tudo que vive, cuja potestade invencivel nos oprime e subjuga. Portanto, busquemos à sombra na jornada, sempre que possível. Comer o mais apetitoso alimento, se tiver vontade. Amar muito, beber o melhor vinho que puder comprar, e divertir-se, mesmo sob tempestades. No fim, nada de seu permanecerá , e o que você foi e as coisas que teve como suas, seguirão seu destino sob o talante de outras mãos, das novas ilusões dos que o sucederão. O que você fez de sua vida será seu patrimônio no plano espiritual e não o que você acumulou. Na verdade, se te for possível, não guarde muito, só o suficiente para uma emergência. Nem sofra pensando no futuro, afinal ele nem existe concretamente. A cada dia seu mal, diz a Sabedoria. Trabalhe, aprenda, divirta-se enquanto pode. Se o final é conhecido, entre o presente e o dia que virá, podemos muito bem dançar a música que gostamos. No final, a roupa que vestiremos, para a jornada última, prescindirá de espelho e da nossa vontade. Até lá, lembre-se do Eclesiástico: carpe diem!!


86292
Por Isaías Caldeira - 2/6/2022 07:46:59
Estupefato, num mundo em guerra, pandêmico, inflacionário, corroído pelo autoritarismo do pensamento único, vejo uns grupelhos de arrivistas preocupados com a liberação da maconha e fazem disto o “leitmotiv” de suas vidas e lutas, com o patrocínio de partidos de esquerda.Tantas tragédias em curso, mas os nefelibatas fazem passeatas em favor de fumaça e alienação psicodélica! A esquerda brasileira parece que tem cérebro de camarão: só merda dentro, e pouca “ carne” , em si ,para oferecer aos apetites, mesmos os menos exigentes. Basta ser lógico, afinal esses nefelibatas que protestam, têm quem lhes paguem as contas, pois alguém tem que trabalhar, e isto é incompatível com alienados por efeitos alucinógenos. Garroteados por piercing nas narinas e nos cérebros, como bois arredios arrastados por cães pastores,com argolas nas narinas, sensíveis à força bruta de seus algozes- no caso força mental- esses alucinados cantam seus mantras pelas ruas e praças , porque, já destruídos pelas drogas, não mais conseguem elaborar pensamentos para além de refrões, com duas ou três palavras, num vocabulário pueril. A desgraça é que eles votam e grassam no mundo, cada dia mais estridentes. Há algumas décadas analfabetos não votavam, por ausência de espírito crítico e racional sobre o universo político. Fica evidente que aquela restrição era injusta, afinal, sabemos hoje, há universitários que leem, mas não interpretam, não elaboram conceitos- razão do pensamento - porque sob efeito da lavagem cerebral haurida nas universidades, onde duvidar é opor-se ao pensamento único imposto, em evidente afronta às verdades de falsários doutrinadores. Pertos do Armagedom, vemos o mundo dançando em seu festim diabólico, nesta imensa cornucópia entre interesses do baronato que dita as regras no planeta e o delirio niilista desses militantes úteis à causa globalista. Logo seremos todos transformados em estátuas de sal, não por olharmos para trás, como a esposa de Ló, mas pela cegueira de uma humanidade obtusa, que nao consegue enxergar um passo à frente


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Por Isaías Caldeira - 25/10/2021 19:18:48
AGOSTO, AGORA SEM ZANZA

Isaías Caldeira Veloso

Vim da roça em 1968, lá do Gorutuba, longe, longe.

E o trajeto até Janaúba era feito de carro de bois, durando um dia inteiro.

Depois, pegava o trem para Montes Claros. Lento, quase como o transporte no percurso anterior. Nas paradas, em terminais ao longo do trajeto, gente, bichos e malas eram acomodados.

Ninguém tinha pressa. A vida era devagar.

Vim para estudar. Morava na casa de minha tia Negrinha (Maria de Jesus), na Rua Teófilo Otôni, n.º 50, no Bairro Roxo Verde. Ali, a cem metros da linha férrea. Rua de cascalho, de saudosas “peladas”, onde aprendi a jogar bola e a curar feridas na cabeça do dedão do pé, lacerada por alguma pedra, com a junção de urina própria e terra. Resistência orgânica de verdade, feita desses emplastros naturais, que se não matassem, nos guardariam de todos os males para sempre. Amém.

Daí, o enfrentamento de doenças tantas, desde sarampo até a peste chinesa, sem grandes sobressaltos.

A vida tranquila de então só era alterada quando se aproximava o mês de agosto.

Ao lado da nossa casa, morava o Sr. José Aristides, um homem gentil, trabalhador na Central do Brasil. Era muito querido por todos. Todos os anos sua casa era tomada pelos Catopês, que ele coordenava. E o barulho de tambores e cantorias enchia a rua.

Na mesma rua, na esquina, a poucos metros, o Sr. Aníbal coordenava a Marujada.

Tudo era tomado por gente e fitas, tambores e músicas, espadas, guerreiros em batalhas lúdicas. E a meninada acompanhando os ensaios. A formação do povo brasileiro simbolizada naqueles festejos – brancos, índios e negros.

Não éramos divididos por ideologias. Somente brasileiros, todos.

Que tempo bom!

Na verdade, naquele tempo achávamos tão naturais aquelas manifestações folclóricas que nem dávamos a importância merecida. No dia da festa, em agosto, todos os marujos e catopês, mais Caboclinhos, reuniam-se, desfilando pelas ruas poeirentas de Montes Claros, em homenagem ao Divino, São Benedito e Nossa Senhora do Rosário. Não havia patrocínio público. Tudo feito com esforço pessoal dos festeiros, especialmente dos Mestres, que eram os coordenadores.

Veio o tempo com suas tenazes.

Morreram Aníbal e Zé Aristides, há décadas.

Mestre Zanza manteve a tradição, junto a outros.

Houve reconhecimento público deste patrimônio cultural da cidade, enfim. A Marujada, Catopês e Caboclinhos continuam enfeitando e alegrando o mês de agosto na nossa cidade.

Agora, com o passamento de Mestre Zanza, que seu trabalho e dedicação sejam heranças permanentes de outros festeiros, mantendo viva a memória. Não apenas dele, mas de todos os que, como ele, guardaram a tradição até estes tempos.

Descanse em paz, Mestre Zanza! Aqui, o barulho dos tambores, em agosto, vai certificar sua pessoa e seu legado, “ad perpetuam rei memoriam”.


85908
Por Isaías Caldeira - 20/10/2021 08:49:47
CABELOS BRANCOS

Isaías Caldeira Veloso


Meus amigos têm cabelos brancos. Tingidos de neve pelos anos.

Dizem “não os pinto”, como se a tinta fosse um capitis diminutio, uma desonra ao que são, ou se pretendem: machos alfas em seus haréns monogâmicos, onde, sob juramento de fidelidade eterna às amadas, acham-se na obrigação de envelhecerem juntos, eles e elas. Mesmo que estas - as amadas - se artificializem em plásticas, cílios e tintas.

Eu, não! Só tinjo os cabelos, porque tudo é falso.

Cecília Meireles já me libertou - desde os dezessete anos, quando li sua obra poética - da escravidão à opinião alheia sobre o que somos. E Cecília o fez com estes versos, que cito de memória: “… que importa estes cabelos e este rosto, se tudo é tinta, a vida, o contentamento, o desgosto”.

Chico Xavier, que se sabia atemporal e eterno, recomendava que os feios buscassem artifícios que minorassem seus aspectos, onde incluía, com seu exemplo pessoal, uma indefectível peruca e alguma maquiagem.

Sim. Sei que um velho conservado não deixa de ser um velho. Uma velha com um colar de esmeraldas não esconde a pele flácida do pescoço.

Mas, não fazemos essas coisas para enganar ninguém. Fazemos por nós mesmos, para nossos espelhos de todos os dias. Se nos sentirmos jovens, assim estaremos, embora não o sejamos. Doce ilusão! Breves serão nossos dias, afirma o Eclesiastes. Vanitas, vanitas! Tudo vaidades!

Um oleiro nos aguarda, indiferente ao que fomos. Barro adiado, criamos adornos efêmeros num corpo volátil como um fumo, que será disperso, numa amanhã impossível.

Entretanto, insisto em negar o espelho. E, assim, maquio a face com a ilusão de mentir o que sou. Mesmo certo que desfilo desnudo aos olhos dos meus contemporâneos, fartos de enganos.

Um homem que recusa o tempo, paga pelo tempo que tem. Não nego nada. Mas, acinzento tudo, reconheço.

E vou distribuindo as moedas da ilusão pelos caminhos, sem grandes pretensões. Mas, afirmo-me como sou: quase um velho. Mas, sempre cheio de vontade e potência! Que outros se entreguem ao tempo e suas ruínas.

Meus martelos, com acrescentada força, vão me afirmando como ser, enquanto mascaro esses desenhos feitos pelo tempo. Ainda que o espelho diga "não", certificando as rugas, uma a uma, neste mapa que é meu corpo, que é meu mundo.

Não engano ninguém. Iludo-me, somente. Uma ilusão a mais, neste mundo mágico!

Sim, somos todos ilusionistas de nós mesmos!


85902
Por Isaías Caldeira - 18/10/2021 06:46:17
A NOITE É INFINITA

Isaías Caldeira Veloso


A noite é infinita.

As estrelas testemunham a eternidade em seu silêncio de luz em meio às trevas. Tudo acontece num segundo. Tudo é o eterno retorno. E, assim, nunca tem fim. É sempre presente o que foi, o que é .

O que será, foge do meu testemunho. Só o meu tempo certifica o mundo. O mais não passa de delírios advindos de expectativas construídas sobre o efêmero e imponderável.

As manhãs serão sempre feitas de sol, pontualmente, como testemunham os galos, que anunciam arrebóis. A noite apenas confirma o dia e a luz adiada.

Inutilmente, aparo o tempo na memória, porque fugaz, indiferente à luz ou penumbra. Mas, não tenho como evitar sua passagem na eterna rotação do céu que nos guarda.

Sou apego ao que vivi e aos meus enganos sensoriais. Afinal, tudo é ilusão.

Vastas, as impossibilidades certificam o real. E Pandora cumpre seu destino de esperança.

Toda noite é um castelo de desejos em forma de sonhos, revelando o inconsciente.

No instante vivido, presente, nesta noite dominical, apanho os arredores festivos no bar onde confabulo, comigo, esses somatórios de desejos de tantos. Os mesmos, desde sempre, que afastam o cálice de fel da vida de cada um. Mas, que todos provarão seu gosto amargo. Destino dos homens.

Mas - pasmem! - sou feliz!

Meus avós sonharam esses mesmos sonhos e cerraram os olhos cientes da permanência real, na descendência, ou pela fé, na imortalidade espiritual.

Por mim, creio que ambas são reais.

Então, como almejo certo conforto eterno, sigo tentando não sacanear ninguém, não ser hipócrita, nem acumular bens.

Neste item, sei que tive sucesso: aos 62 anos, moro de aluguel e não deixarei bens a inventariar. Meus sonhos, porém, encherão obituários! O amor de tantos, hauridos na lida cotidiana, será meu acervo, herança na memória de alguns.

O mais que fui, não vale nada.


85873
Por Isaías Caldeira - 30/9/2021 21:33:52
MEUS MORTOS

(por Isaías Caldeira Veloso)

“Carrego meus mortos do lado esquerdo do peito, por isso ando assim, meio de banda". Drumond não me conhecia, mas nos conhecia.

Enterrei meus pais, irmãos, uma tia que foi minha mãe também, outros tios, primos, amigos. Tudo gente que eu amava.

É um peso danado trazê-los comigo no peito.

Vezes há em que ameaçam implodir este edifício onde habitam sob forma de saudade. E a dor que causam é tanta que penso desalojá-los, rompendo o fio que nos separa. E, desfeita a chama da vida, buscar noutro coração o "habite-se" de alguém que tenha a mesma vocação amorosa e o mesmo vezo à doação.

Seria, como eles, saudade também.

Mas, a razão me diz que é inócuo antecipar a sentença a que todos fomos condenados, no plano material.

Numa hora incerta, provarei o sentido do nada, do não ser, liberto dos sentidos que me sustentam a existência.

Então, vou conversando com esses entes, nessa linguagem transcendente em que a voz é a do silêncio, com o qual os faço ver que continuam aqui, vivos, como testemunham os seus incontáveis gestos de bondade na memória de tantos.

Não. Meus mortos não me pesam, em verdade. Não pesa quem amamos! “Mas como dói“!


85863
Por Isaías Caldeira - 27/9/2021 15:05:28
Cadê Meus Amigos, Onde Andam?

(por Isaías Caldeira Veloso)

Cadê meus amigos, onde estão?

Sem nenhum contemporâneo da minha geração ou mesmo próxima, sou indez dentro da noite. Nesta noite, que cinge minha cintura num abraço secular, sou ave desgarrada, em voo solo.

Sexagenário, ignoro meu tipo roto pelos anos, este arquiteto de ruínas e que de tudo faz esquecimento, como testemunham meus antepassados e todos que, como eles, foram oxidados, depois consumidos, e hoje habitam Efemérides.

As moças passam com seus gestuais, lindas, com seus corpos em exposição, por entre as mesas. O bar fervilha. Tenho a idade de algumas mesas somadas.

Os rapazes, fartos da liberdade e do usufruto dessa volúpia edificada sobre hormônios, olham distraídos essas rosas que aspiram à tarde, prontas a serem colhidas, uma a uma, e postas sobre vaso de linho ou qualquer espaço que abrigue luxúrias. Eles colecionam feitos sob o manto de Afrodite. Fugazes. Mal sabem esses moços que, vindo o tempo e suas tenazes, verão que o prazer de instantes não supera longas e demoradas preliminares, e que lamentarão, na idade madura, a desatenção a esse ítem. “Sexo não faz tanta falta; mas, beijar na boca, faz”, disse uma linda atriz brasileira, ao fazer 65 anos.

As preliminares são a cereja do bolo.

Não, não faltam mulheres aos que transitam cobertos dessas cinzas do tempo, como eu. Faltam esses ademanes, esses ornamentos, essas fantasias que fazem a tessitura dos encontros amorosos.

Aos envelhecidos, faltam essas expansões amorosas, carentes desses desvelos femininos, desses carinhos que ornam os amores na juventude.

Na noite, fazendo dela e seus sortilégios, a minha Shangri-la, vou apreciando a paisagem.

Sou um homem atemporal, com a idade dos presentes. Não um sátiro dentro da noite, entre ninfas, mas alguém que se sabe efêmero e a quem o tempo lembra a condição de barro adiado.

Carpe diem!

(Montes Claros, 26 de setembro de 2021).



N. da Redação: Isaías Caldeira Veloso é escritor, poeta e Juiz de Direito em M. Claros, da Vara de Família


85619
Por Isaías Caldeira - 24/4/2021 07:52:15
Paulinho Ribeiro morreu ontem à noite. Quase hoje. Sujeito de luta. Brigador, mas amoroso. Amante da natureza, de quem fez causa, não como esses debilóides que vivem repetindo jargões sobre o tema, mas não sabem diferenciar caatinga de mata seca, e falam de ambas com uma ignorância loquaz. Aliás, falam de tudo que não sabem. Paulinho era operacional. Fazia. E fez muito na área. Os passarinhos e matas estão em luto. A obra feita testemunhará sua vida, cada árvore salva será um registro de sua passagem neste mundo.Não são todos que sobrevivem a si mesmos. Bom descanso, Paulinho! Os versos de Neruda, o chileno de Isla Negra, podiam ser também seu epitáfio, não em um túmulo, mas na memória e coração dos que o sobrevivem e dos que virão.

“Tenho pronta a minha morte, como uma roupa

que me espera, da cor que eu gosto,


da extensão que inutilmente procurei,

da profundidade que necessito.

Quando o amor gastou sua matéria evidente

e a luta consome seus martelos

em outras mãos de acrescentada força,

vem a morte apagar os sinais

que foram construindo tuas fronteiras.”

(trecho do poema A Morte, de Pablo Neruda)


85595
Por Isaias Caldeira - 8/4/2021 11:11:13
(Isaías Caldeira)

Moc sob o influxo da lua
acaso cheia.
Poderia ser minguante,
mas, lua que clareia,
luz em si,
ou sonho dos amantes.

(Deus meu!
Na roça,
um whisky,
uma lua cheia
e então
o mundo dos avós,
com o mesmo encantamento,
desenha no terreiro
as mesmas ilusões).

Outros virão.
A lua permanece.


85593
Por Isaías Caldeira - 7/4/2021 20:10:28

BH nao tem praias ou locais públicos acolhedores. Então ,inventamos os bares, universo onde mesas e cadeiras agasalham braços que, à míngua de outros espaços de acomodação, se entrelaçam, emendando calçadas e ruas, num microcosmo de vozes e gestos amorosos e fraternos. Mas os tempos são outros. Cadê os beijos dos amantes, naqueles enlevos que os álcoois exacerbam, ou mesmo encorajam os tímidos aos passos seguintes , em direção à conquista, onde os bares e cafés serviam às expansões sentimentais? Cadê o burburinho das ruas cheias?Dos camelôs e ambulantes, que fizeram da cidade de todos os mineiros uma representação das velhas urbes orientais? As galerias cheias, a feira de domingo, espaço de artes e lazer, onde Minas se encontra e pulsa com o mesmo sentimento de mineiridade, cadê?Quem devastou nossa história, nossa hospitalidade, nosso acolhimento a todos, mineiros ou não, que nos fazia abrir as portas das nossas casas ao estrangeiro desconhecido, mal nossas mãos se apertavam num gesto indez, nos tornando irmãos desde a epigênese da infância? Cadê Minas? Cadê os Gerais? Um caudilho, desses que não passam de estrume na história, entendeu de roubar nossa identidade, feita de amor e simplicidade, de aconchego e abraços, nos enclausurando numa ilha de tristeza. Belo Horizonte, síntese do Brasil, coração multifacetado, onde o país inteiro se resume, agora é silêncio, tristeza e solidão. Ruas e praças desertas . Nem homens nem ideias. Minas não há mais, como disse o poeta mais mineiro de todos os tempos. Mas o que era só licença poética, ganhou vida e se fez tragédia , sob o silêncio do povo mineiro, não mais como virtude de uma gente trabalhadora, mas como a escatologia de uma população submissa e medrosa, que não tem mais voz e, calada, perde sua identidade e destrói sua história. Pobre Minas, liberdade agora é só uma palavra na bandeira , nada mais. O pior é que não se vislumbra alguém capaz de reerguer nosso estandarte, mesmo que tardiamente.


85440
Por Isaias Caldeira - 9/1/2021 00:04:11

Era uma vez a America. Luta fratricida na terra de Tio Sam. Os inimigos da liberdade conseguiram realizar seu sonho de uma América dividida e frágil. Uma Confederação reside num pacto entre Estados independentes que, por razões superiores, se agregam e formam uma União, como os Estados Unidos da América. Hoje uma jovem foi baleada e morta dentro da Casa do povo, o Congresso Americano. A bandeira Americana jamais poderá esconder o cadáver da jovem desarmada, e o seu sangue manchou o estardante da liberdade, que guiava o mundo livre há mais de um século. O mundo nunca mais será o mesmo. Quando o forte se enfraquece, os fracos sofrem as consequências. Prefiro mil vezes a cultura do Mikey, do Superman, das estrelas de Hollywood, que nos fizeram amar ee admirar os guardiões da liberdade, defensores do bem e da Justiça, a esses seres que se esconderam do mundo por meio século, até ressurgirem como pestes, inundando o mundo com seus miasmas e males de laboratórios. Estamos no fim de um período maravilhoso da história, onde a liberdade do homem era o fim primeiro do Estado. Aniquilar o indivíduo, sob o pretexto da coletividade é o fim da civilização como a conhecemos e pela qual nossos ancestrais lutaram, hoje abatida por globalistas, que intentam nivelar a todos, sob o comando de um consórcio dos que acham que o mundo foi feito para eles, milionários e grandes corporações. A terra é pequena para suas ambições. Esquecidos de Deus, esses agnósticos e ateus fabulam uma religião humanística, tendo o homem como fim, naquela construção Niestzsniana que aniquila a transcendência e nos condena às limitações existenciais, do pó ao pó, e nada mais. Pobre mundo que se avizinha. As luzes que iluminavam as ruas e praças agora vigiam os transeuntes. Todos os olhos sobre os cidadãos. Não há resistência possível. É hora de submissão. Neste mundo novo, os que amam a liberdade serão defenestrados, e vagarão como vivos numa terra de zumbis. Não há mais a terra da liberdade e a cavalaria amofinou-se diante do politicamente correto, que prefere a morte à defesa da vida.Deus, intervenha por amor a nós, seus filhos abandonados e entregues às barbáries dos fariseus!


84688
Por Isaías Caldeira - 27/4/2020 16:59:12
Ninguém carrega pasta de ex. Aprendi isso observando o mecanismo que faz girar a roda do Poder. Um juiz chegava ao fórum pontualmente no mesmo horário, e sabendo disso e que ele sempre trazia volumosos processos, porque naquele tempo não tinha nenhum assessor, advogados ficavam à sua espera e, chegando o já envelhecido magistrado aos portões da casa de justiça, o acudiam de pronto, tomando-lhe das mãos os autos, e subiam as escadas até a secretaria, onde depositavam os volumes, sempre sob agradecimento do juiz. Pediu aposentadoria e, publicada esta, no outro dia foi devolver processos em seu poder, muitos. Não havia ali uma viva alma que o ajudasse, subindo as escadas com aquela carga ,sob a indiferença dos presentes. Assim acontece com reis e todas as demais autoridades no mundo. Sem o lastro do poder, as pessoas submergem no oceano comum onde todos navegam, perdidas as tessituras que cerziam seu império, mesmo que modesto, e o tornam alguém que tem somente o passado como referência. Para uns é muito, para outros, solidão. Moro, incensado por muitos em razão de seu ofício, quando da lava a jato, embora com reservas daqueles que acham melhor a absolvição de culpados que violar a legislação penal/processual, viveu seus dias de glória. Mas a glória pode ser a antevéspera do desprezo, porque o enaltecido nunca poderá exercer o direito ao erro, sob pena de ver desabar o seu passado glorioso, estigmatizado pelas circunstâncias do presente. Vejam, nada há de mais vil que alguém, valendo-se da intimidade, confiança ou amizade, gravar uma pessoa e depois tornar público o conteúdo. Coisa a que só os canalhas se prestam. O ex juiz e ex ministro nunca mais será respeitado por quem tem na ética, no dever ser, um norte. Praticou, à revelia de um axioma imperativo da ética, ato revelador de um a personalidade capaz de tudo para alcançar objetivos pessoais.Ademais, seus gestos foram todos calculados, como aquele personagem tolo da Tv , o Chapolin Colorado, pois já com prints a serem exibidos no horário nobre da emissora que vê nele sua chance de ditar as regras no país, como sempre fez até a posse do atual presidente. Não contava com a reação daqueles que não se guiam pela grande mídia e que, por vontade própria, sem nenhuma ajuda oficial, colocaram na presidência seu pupilo, para fazer exatamente o que ele hoje faz: aniquilar a corrupção e os corruptos. Moro olhou-se naqueles espelhos que aumentam a imagem e se viu maior do que é. A biografia dele importaria aos seus pósteros, à história, mas ele achou que podia antecipar os louros e que o tapete lhe fosse estendido desde já, mesmo que ao custo da destruição do país que diz amar e defender. Moro agora é passado. Traiu quem confiou nele e o respaldou com cargo relevante na república. Antes, apenas um juiz de carreira. Depois ministro de Estado. Quanta honra! Sucumbiu, parece, aos apelos do poder e a mosca azul , banido agora à esquerda e à direita, deixando- o na vala comum dos Silvérios dos Reis, figuras sempre presentes na vida nacional. Que suba as escadas sozinho, se tiver forças.


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Por Isaías Caldeira - 18/3/2020 01:18:38
Paixão é uma música antiga que já nem sei a letra. Sei que era comovente e me fez desafiar todos os tons na mocidade ,mas agora desafino. Tudo hormônios que secaram em minhas veias sexagenárias, e agora o solo rachado do meu corpo- essas rugas e adiposidades- há de permanecer infenso às transfusões por osmose do corpo jovem que abraço . Ela me pergunta se já terminei e sentencia a pantomima das gerações, nesse enlace polimórfico. Tão bela!! A pulsão inconsciente revela a distância que nos separa. O vácuo das palavras são enciclopédias da alma. De minha parte, a dor da indiferença, não dela, minha, de ser impermeável a qualquer exasperação sentimental diante do desamor que me devota.Velho não apaixona. Nada é mais triste nesta idade, quando mal se anuncia o cinquentenário e o espelho revela nossa face. Mais passa o tempo e a aridez se acentua- um vento seco sopra neste deserto, onde jazem enterradas todas as paixões . Vontade de sofrer como antigamente, ouvindo canções de dor e esquecimentos. Vontade de sentir as mãos frias e o coração disparando, a voz presa e as palavras perdidas, sem nexo, que só os corações proferem e entendem.Tudo tão ontem. Agora para sempre inacessível, como outra margem de um rio que nunca mais atravessaremos, porque as águas são outras e a gente também. Alguma coisa me diz que, sem paixão, aprende-se a desapegar da vida, numa forma silenciosa de aceitar o fim, nesta mágica em que o Todo Poderoso revela seu engenho e arte, ao nos fazer permeáveis às circunstancias que nos cercam. Nos resta o sonho, onde somos sempre o que fomos. O mais, são apenas saudades, amainando a realidade presente, com as memórias dos amores antigos.


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Por Isaías Caldeira - 15/1/2020 19:52:08
Pitacos sobre a vida

Isaias Caldeira

Sim, aos sessenta, um bom observador já viu tudo e pode, querendo, expor seus olhares. Faço-o, não com a tola pretensão da verdade, mas com a firme certeza da sinceridade . Meu amigo, não há fórmula nenhuma para encontrar a felicidade, sonho de todos, pura quimera , mas é possível ter uma vida feliz, o que é diferente. Meus pais deram o exemplo para a família: honestidade e apreço ao conhecimento acadêmico. Logo eles, que nunca foram à escola. 10 filhos formados e graduados! Nada de herança material, mas escola, sem necessidade de trabalho remunerado, embora alguns tivessem emprego, pois não tínhamos mesadas e nem podiam nos dar. Nos ensinaram que até na desordem tem de haver ordem, ou seja, nos hábitos não de todo puros, afinal somos pecadores, termos prudência e discrição. Na bebida, moderação, após os primeiros sintomas do álcool, rumo de casa! Comer o que se quiser e como quiser, porque isso não é da conta de mais ninguém. Aos homens da casa, buscar ter sempre um pouco de dinheiro no bolso, pois não há homem feio ou bonito, gordo ou magro, negro ou branco, velho ou novo, mas duas espécies apenas: com dinheiro e sem dinheiro. Às filhas, recomendavam juízo e independência financeira, afinal não é livre quem depende de outro para viver, especialmente de marido. Acho que apreendemos e guardamos conosco aqueles ensinamentos. Então, mortos meus pais , e me vendo chegar aos sessenta, sabendo que não terei nenhum arrebatamento e nem irei subir em uma “nave de fogo”, como Elias no deserto, vou me preparando espiritualmente para o retorno de onde vim, não sei aonde, se morte definitiva e absoluta, ou para uma invernada em outras paragens, na busca de melhora e evolução do espírito que monta este “cavalo”. Tenho certeza que nunca fiz maldades, deliberadamente, contra alguém, gostando ou não do semelhante. Fiz a caridade que pude, e este foi meu maior investimento, uma poupança onde saco incontáveis “Deus lhe pague”de alguns favorecidos, que na maioria das vezes nem me lembro quem são, mas de quem recebo esses óbolos com a alegria de alguém que encontra um dinheiro guardado e esquecido num bolso de uma calça. Continuo bebendo meu wisky ou vinho, cotidianamente, mal se esconde o sol, porque a luz do astro me diz que o dia é para o trabalho e não congemina com libações alcoólicas. Ainda cultivo outros prazeres ínsitos ao pecado da luxúria, mas que a decência recomenda severo silêncio, quando não nos encontramos entre amigos da mesma geração. Entre os excessos da idade madura- sim, porque velho é quem tem 15 anos a mais que a gente, segundo o livro não escrito da Sabedoria- é recorrente o hábito de se narrarem façanhas próprias da juventude, com uma convicção que desafia aparelhos de detecção de mentiras. Estou ainda pegando jeito e maneira, aprendendo com os amigos, alguns mestres nesta arte, que não prescinde do domínio da retórica e argumentação. Não tenho vocação para santo, apenas uma vontade imensa de ser bom. Minha consciência, eterna preceptora e vigia, me diz que ainda não consegui, mas estou no caminho. Sei que o trágico do erro é acreditar que se está certo, mas conheço minhas boas intenções. As más, sublimo, ou mantenho ferrenho combate. Termino por recomendar, nesta idade quase provecta, que você, meu irmão, tem o direito de existir, de ser e se pertencer. Beba, se quiser. Não vá para academias, se isto virou obrigação social apenas . Coma o que quiser, indiferente às patrulhas e patrulheiros . Dificilmente você vai passar dos 80 anos, mesmo seguindo os manuais mais rigorosos, com suas dietas salvadoras. Todo tempo de vida é suficiente, se foi o bastante para você fazer algo de útil para alguém. Se pudesse deixar um ensinamento para as pessoas, sem muitas palavras, diria apenas, AME. Amor relativiza tudo, perdas e ganhos, e dá ao sofrimento que a todos nós visitará um dia, sua dimensão real, algo que passa e será esquecido ou minorado com o tempo. A felicidade real é a ausência de dor. Um pé com calo agradece quando seu dono fica descalço. Humildemente, pecador confesso, mas sempre bem intencionado, registro minhas convicções , neste momento, afinal,amanhã pode me acontecer uma “estrada de Damasco” e mude minha concepção da vida. Sempre há uma esperança aos pecadores!


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Por Isaías Caldeira - 21/4/2019 21:53:15
O VAR

Isaias Caldeira

O futebol brasileiro nasceu nas ruas e becos, cresceu em lotes vagos, que se tornaram campos de memoráveis peladas. Sempre foi marginal, porque os pais não queriam os filhos jogando bola. Coisa de vagabundo. Deste modo, sem as amarras oficiais, sem submeter -se aos regramentos que enclausuram os homens, em todas as atividades, incontáveis Basquiat , Warhol ou Van Gogh –artistas marginais - deram matizes e nuances únicas ao futebol brasileiro, nas penas tortas de Garrincha, na inteligência de Tostão, na precisão de Gerson . Pelé foi a soma deles e ocupamos, por décadas, o palco da bola, inquilinos dos sonhos de torcedores espalhados pelo mundo. Paramos guerra na África. Nos tornamos Mexicanos, por um torneio. O mundo, uma bola, tinha a cor verde-amarela. Então, vieram os que têm e querem o mundo arrumado e dividido uniformemente, construindo fronteiras entre os povos, com suas normas e regras, sempre bem intencionados, enquanto trilham o caminho do inferno. A tecnologia tornou-se a dona do espetáculo. Pelé nunca mais vai enfiar o seu braço no braço do zagueiro adversário e, malandramente, cavar um pênalti. Maradona nunca mais vai usar a mão para um gol antológico e decidir um título. Acabaram com a malandragem, o sal do futebol, e o esporte Bretão tornou-se um amontoado de regras submissas à tecnologia, sem espaços ao imaginário, ao desejo, agora servido frio na mesa de um operador extra campo, que para o jogo e muda o lance, driblando o sonho e trazendo ao jogo a burocracia dominante em todos os estamentos da vida social. Empacotaram o futebol, servido agora sem o tempero da jogada duvidosa, peça da engrenagem futebolística, e o grito de gol ficou postergado para os minutos depois do lance, e só o eco do que foi será ouvido, frio como carvão, sem o sopro da alegria do momento único - o gol, desiderato deste esporte. As câmaras mataram a emoção, deixaram em suspenso a arte, sempre fruto do imponderável quando genuína, e os tecnocratas nunca mais vão permitir que uma flor brote de um descuido do árbitro, fazendo-se de tese para anos de discussões apaixonadas entre os amantes do futebol. Esses mesmos que querem plastificar o amor em conceitos politicamente corretos, sem espaços para lágrimas e desavenças entre os casais, onde a intolerância ao erro mínimo leva à rupturas e o ego dita as regras, agora se voltam para os esportes, em todas as modalidades. Nunca vão entender o que é paixão. Esquecem que tudo é ilusão e nos querem enjaulados na realidade, sem espaço para sonho. Para esta tecnologia que enquadra o jogo e paralisa a emoção, fica a minha mensagem, pedindo desculpas pela linguagem: VAR para a PQP!!


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Por Isaias Caldeira - 17/2/2018 20:43:18
Isaias: no princípio era o caos

Isaías Caldeira *

Tardo, mas não falto. Dizem que depois que tentaram me processar, criminal e administrativamente, por artigos que escrevi aqui, sob acusação de crimes contra a honra ( ?) - embora nunca tenha nominado em meus textos as pretensas vítimas, até porque as conheço “en passant” e nem as tenho como dignas de citação- teria deixado o ofício da opinião escrita, premido pelo medo comum nacional de afrontar esses que, sem prestar contas a ninguém, arvoraram-se em polícia universal e a todos intimidam, inocentes e culpados. Não! Abjuro tais maledicências. Sim, fui o primeiro a denunciar o “ monstro” que emergia, no mesmo formato de sempre,com o mesmo discurso , neste devir histórico, que nos obriga ao eterno retorno ou ao pêndulo de Tocqueville, onde a prostituta das construções sofistas, a tal moralidade pública , em permanente cornucópia com todos os governos, em todos os tempos, empala alguns em praça pública, sob ovação da massa ignara e de aproveitadores políticos, e tem aí sua epifania. Agora, agindo como “ justiceiros” oficiais, desgraçadamente amparados em um “ cumpra-se “ de algum juiz infenso aos rigores ínsitos ao devido processo legal , nada e nem ninguém os intimida, nem um Ministro do Supremo, pois não hesitam em críticas ácidas e mesmo mal-educadas às decisões proferidas pela Instância Superior do Judiciário. Tomam a história de assalto, e não podendo incriminar judeus , como outros já fizeram em passado recente , elegem a classe política como alvo, não aleatoriamente, mas de caso pensado, com um “progron” a ser cumprido, onde o extermínio moral tomou o lugar da morte física, sem deixar de ser horroroso e infame. Sim, também fui o primeiro a denunciar a tal “ condução coercitiva” de quem nunca se recusou a comparecer perante autoridade. Como juiz criminal por mais de 10 anos, nenhum Promotor ou Delegado teve meu amparo a tal ignomínia jurídica, pois sem qualquer previsão no Código de Processo Penal. Entendo, data venia, que diante de tal ilegalidade, todo o processo deveria ser anulado, mesmo ao custo de se absolverem criminosos confessos e seus séquitos, pois o que se busca preservar é maior que o mal porventura feito e não punido- a garantia do processo amparado na lei, sob pena de qualquer casa ser assaltada por agentes estatais, fortemente armados, encapuzados, para levar um pai de família inofensivo à Autoridade, sem que ele saiba sequer de qual crime é acusado, sob regozijo da turba . É o que temos visto país afora. Nunca faltam aplausos quando a guilhotina é acionada na casa do vizinho. Nem no regime militar vi coisas assim. Quando alguém era retirado de sua casa , e foram raros, geralmente pessoas envolvidas na luta armada, isso era feito de forma clandestina, sem o conhecimento ou aprovação das instâncias superiores de poder. O Presidente Geisel pôs termo a esses atos, exonerando generais e outras autoridades que praticavam ou toleravam esses abusos. Basta comparar o número de mortos e desaparecidos nos governos militares do Brasil com os governos Chileno, Argentino e Uruguaio, estas, sim, ditaduras cruéis. Pouco mais de uma centena aqui. Milhares lá. Claro, não faço defesa daqueles atos dos nacionais, como não defendo os atos de hoje. Tudo igual e infame. A diferença é que hoje tem a chancela institucional, o que é trágico. Quando as instituições patrocinam ou autorizam a barbárie, é sinal que a democracia claudica, e que um tempo de desesperança e medo permeia o vento que se avizinha. Sim, a história é pendular, nunca um evoluir permanente. Pessoas sempre estarão na busca de um “ déjà vu”, repetindo a história, mesmo ignorantes disso, pois poucos se ocupam do passado, e cada nova geração acredita que a civilização começa com ela. Enfim, agora outros se ocupam em dizer o que já verbalizei há anos neste espaço, não estou mais sozinho. As reações começam, partindo de pessoas que não querem mais violações das garantias Constitucionais e que têm instrumentos e poder para retirá-las do cotidiano nacional, acabando com o dantesco espetáculo das execrações publicas. Já era tempo. Aos protagonistas das cenas lamentáveis, que jactavam-se de seus feitos nas redes sociais e na mídia em geral, os aplausos diminuem. Logo os excessos serão posto na balança, e por causa deles, se a história repetir-se, como é de sua natureza, serão execrados, da mesma forma como fizeram a tantos nessas condenações prévias e sem processos, que foram a marca destes tempos. Não lhes desejo o final do “ Duce” ou do” Furher”: seus cabedais são poucos, míseros arlequins animando a pantomima, e seus atos não passam de um traço no livro da História, embora acreditem, como os bobos da corte, que o reino não prescinda deles. A eles, ao final,tenho certeza, um epitáfio lhes prestará a última homenagem em seus túmulos: vanitas finis.

* Isaias Caldeira é Juiz de Direito em Montes Claros


81907
Por Isaias Caldeira - 21/10/2016 11:05:27
Sobre leis abusivas

Isaias Caldeira *

Os amigos que me leem sabem que sou um sujeito enojado de uma das práticas mais comuns àqueles que expõem ideias em público, a tal hipocrisia, onde a verdade jaz subjacente, enterrada sob palavras do agrado geral, no desejo real do sujeito de se apresentar bem aos olhos críticos dos leitores. Pois bem, na unanimidade quase geral que avasssala o País em apoio às medidas de combate à corrupção propostas e em exame no Congresso Nacional, de iniciativa do Ministério Público, da Polícia Federal e de parte do Judiciário, guardo minhas resistências , pois, como dizia o velho Brizola, “ venho de longe”, e sei que o Estado, esse monstro de punhos de aço, tem o vezo de abusar de suas forças, em detrimento da cidadania. Já temos leis penais em demasia no Brasil. Não creio que algum País no mundo cultive tanto esse jardim , onde , ao invés de flores, medram espinhos normativos, como óbice à sanha dos refratários a paz social. Há sempre uma ideia nova , numa criatividade ilimitada, para punir e vigiar. Imaginem, dentre as inovações pretendidas, basta ao agente do Estado alegar boa fé na sua conduta, por mais abusiva que seja, para validar uma prova em um inquérito ou processo. Mais, prevê a possibilidade do agente se insinuar ao servidor público, induzindo-o a cometer quaisquer dos crimes contra a administração pública, e deste modo ser processado, criminal e administrativamente. Isso é crime preparado pelo Estado, incentivado por ele, num retrocesso medieval, digno daqueles ambientes da idade média, onde a Inquisição tinha igual procedimento e tática. O mais absurdo é que, contrariamente a esses abusos, as mesmas vozes se mostram refratárias às inovações pretendidas na ineficiente Lei de Abuso de Autoridades, vigente no Brasil, de n. 4898/65. O “novo” projeto de Lei é de 2009 e foi agora movimentado por Senadores, a pedido de Ministro do STF, preocupado com os excessos nas investigações policiais, de promotores e de juízes, obviamente em casos pontuais, não sendo esta a regra. Investigados alguns Senadores pela operação Lava a Jato, haveria, na opinião bronca de alguns críticos, razão para se posicionarem contrários às inovações. Dizem que as mudanças visam atingir a famosa operação em curso. Não é verdade. Por imperativo legal, a lei nova não retroage para punir, só para beneficiar. Assim, nenhum dos agentes e seus atos, já praticados no âmbito dessa operação, seriam atingidos, permanecendo infensos aos novos rigores legais a gizarem as investigações em geral. Sei que as associações de Magistrados também são contrárias às mudanças, mas delas permito-me, respeitosamente, divergir, acompanhando o posicionamento do Min. Gilmar Mendes, e dos juristas que elaboraram o projeto em gestação. A nova lei que pune o abuso de autoridades já deveria estar em vigor, como forma de inibir os excessos nas acusações, nas denúncias lastreadas em hipóteses, sem concretude nas provas. Um inquérito ou processo criminal é , em si, uma punição ao cidadão, que perde a sua tranquilidade, convivendo com uma ameaça permanente à sua liberdade. As autoridades incumbidas pelo Estado de investigarem e promoverem a ação penal devem ser melhor controladas em seus atos, e nada mais óbvio, para se alcançar e vivenciar o Estado Democrático de Direito, que impor limites às ações desses agentes. Como Magistrado, a lei não me intimida, ao contrário, será o coroamento de uma esperança que sempre tive, da plena cidadania, pois abjuro toda forma de abuso Estatal, mesmo quando os autores alardeiam fins nobres no martírio imposto aos indivíduos investigados e, não raro, previamente castigados com antecipações de pena, em inquéritos e processos que , muitos deles, ao final, resultam em absolvições tardias.

* Isaías Caldeira é Juiz de Direito na Comarca de Montes Claros


81708
Por Isaías Caldeira - 8/7/2016 20:15:16
Vae victis ( Ai dos vencidos. )

Isaías Caldeira

Nessas operações policiais em curso no país,vejo alguns acusados, com prisões temporárias decretadas, expostos na mídia e nas redes sociais com as cabeças raspadas, nesta que é a forma de sujeição do indivíduo ao Estado policial e punitivo, sempre pronto a constranger a liberdade, enquanto escamoteia outras obrigações que lhe são impostas pela Constituição Federal. Trata-se da humilhação e aniquilamento do indivíduo, sinalizando a perda de poder sobre o próprio corpo, não se contentando os agentes públicos com a mera constrição da sua liberdade, sendo necessário o ritual de iniciação, que dá-se com a raspagem da cabeça, e posterior fotografia, devidamente uniformizado, para divulgação na mídia, o que seria proibido, em tese. É evidente que, em se tratando de prisioneiro sentenciado, por óbvio que a medida tem até um caráter higiênico, evitando-se a proliferação de doenças do couro cabeludo, facilmente transmissíveis nos presídios, especialmente a contaminação por piolhos e similares. Entanto, fora dessas hipóteses, tratando-se de prisões cautelares, a prática é abusiva e completamente desnecessária, não fosse o vezo de constranger pessoas um hábito comum àqueles que se acham em poder de mando, em todas as escalas. Não se admitindo mais a tortura física, resta a alternativa da humilhação, que é tortura psicológica, de modo que um prisioneiro, que sequer tem denúncia formal contra a sua pessoa, já sofra esta pena antecipada, na forma de supressão de suas melenas, à força, como a dizer que sua individualidade ali já não conta e que ele não tem o mínimo arbítrio sobre si, enquanto sujeito à prisão. A prática de raspar a cabeça do acusado ou suspeito não é nenhuma novidade histórica, mas no Brasil tudo é copiado do resto do mundo com atraso, até o que não presta. Quem não se lembra das mulheres francesas acusadas de terem mantido relações com os alemães, durante a ocupação nazista, e que tiveram suas cabeças raspadas em praça pública, enquanto o povo as hostilizava, no ano de 1944, com a França já libertada? A maioria apenas tivera simples contatos com os invasores, mas foi o suficiente para a execração pública, como se elas fossem colaboracionistas dos invasores alemães. Esse desejo de destruição do outro, física ou moralmente, é descrito pela psicanálise como produto do inconsciente coletivo, encontrando na prática uma forma de punição e alívio às nossas culpas, sempre recaindo o castigo sobre o outro, imolado na fogueira pública, sob aplauso popular. Mas não nos limitamos, atualmente, a esses desatinos. Num País onde a Constituição regra as prisões, causa desconforto, para dizer-se o mínimo, ver pessoas sendo tiradas de suas casas, logo no desjejum matinal, conduzidas coercitivamente, para prestarem depoimentos em inquéritos, sem que se tenham negado previamente a isto. Resta clara a afronta às suas garantias Constitucionais, especialmente de se verem processadas dentro de procedimentos previstos na Lei Processual Penal, onde não consta tal modalidade de constrição, mesmo que momentânea, de sua liberdade. Ser conduzido por agentes policiais, diante de sua família, é uma desonra imensurável. Mas parece que a honra pessoal foi suprimida pelo Estado, e os homens, neste País, foram reduzidos à condição de coisas, sem alma, sem espírito a animá-los, desprovidos de suas subjetividades. Honra a quem tem honra, exorta o Evangelho, mas no Brasil ela é apenas um apetrecho ornando a superfície do cidadão, degradável sob os ditos interesses públicos, essa justificativa genérica para os atos de força. Também as prisões cautelares tornaram-se regra, e não mais exceção, como se ensina nos livros de direito pátrio. Prende-se desde o inquérito, sob qualquer argumento. Se inocente após investigado, liberta-se, e o sujeito volta à sua casa, mas não à sua vida, para sempre destruída moralmente, e até financeiramente. Agora as prisões se justificam pela chamada delação premiada, onde o Acusado, após ser preso até por meses, é instado a delatar seus comparsas, se os tiver, já então destroçado pelo longo tempo de acautelamento. Aniquilado moralmente, delata, recebendo regalias no cumprimento da sentença imposta. A prisão para delação premiada é uma espécie de “ pau de arara” politicamente correto, ao gosto da modernidade brasileira, avessa aos métodos de tortura física, pois a modernidade tem viés esquerdista e é traumatizada com os governos passados, dos quais se diz perseguida, mas admite esta tortura psicológica, desde que com finalidade nobre, claro, no combate à corrupção. Sei que sou caniço contra o vento geral que varre o País de norte a sul, mas mantenho-me sobre as águas revoltas do pensamento dominante, sob minha ótica. Combater a corrupção, sim, mas dentro da Lei e da Constituição Federal. De minha parte, enquanto modesto Juiz de Província, sei já inútil minha disposição de não ceder às tentações do mal, porque voto vencido no tribunal público, mas contrariamente à laicidade que os materialistas dominantes impõem ao País, continuarei servindo à lei, sem descuidar da transcendência, e à imitação do profeta Daniel, não serei responsável pelo apedrejamento de nenhum Acusado, culpado ou não.


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Por Isaias Caldeira - 15/3/2016 07:25:26

40 anos do 55º BI

Isaías Caldeira

No ano de 1978 ingressei no Exército Brasileiro, prestando o serviço militar no 55º BI. Éramos o terceiro contingente de jovens a fazê-lo, sendo a primeira turma de 1976. Tinha 18 anos e a rebeldia natural da idade, de quem deseja mudar o mundo, desde os valores ensinados no âmbito familiar, até o governo da época, especialmente num País onde a liberdade era relativa, do ponto de vista político, com as restrições ideológicas própria de regimes militares então em curso na America Latina. O mundo ainda era o da guerra fria, com a divisão patrocinada pelos EUA e URSS, cujo símbolo diversionista era o muro de Berlim. Éramos quase 200 recrutas, com jovens de todas as camadas sociais. Necessariamente, aqueles que tinham alguma curiosidade sobre coisas para além do óbvio, buscavam na literatura e autores de esquerda, como Sartre , Marcuse e outros, saciar a curiosidade sobre o mundo do dever ser, do mundo perfeito, sem miséria, com plenitude de liberdade e cidadania, que nossa ingenuidade creditava ao socialismo utópico então disseminado , capaz de mudar o estabelecido pela sociedade arquetípica ocidental, com lastros na família tradicional e seu forte conteúdo religioso, cheio de proibições e dogmas. Numa época ainda de costumes quase vitorianos, com o aniquilamento das vontades em prol do establishment familiar e ainda patriarcal, evidente que autores que dinamitassem essas crenças e valores eram amados, afinal não queríamos 100 virgens após a morte, mas as desejávamos em vida, com a vantagem de não termos bombas amarradas ao corpo, mas dentro dele, de testosterona. Quando me apresentei para o serviço militar, não imaginava ser escolhido, mas fui. As primeiras semanas foram terríveis, recolhidos ao quartel em quarentena, ficávamos o tempo todo a mercê do tacão de sargentos e praças antigos, naquilo que é clichê no universo militar, onde sempre há um Tainha infernizando a vida de um recruta indócil e refratário aos deveres hierárquicos ou obrigações da caserna. Aos poucos íamos acostumando com as regras rígidas da vida militar, e aquele período de recolhimento no quartel domava nossa rebeldia, enquadrando todos na nova vida que teríamos sob o verde-oliva de nosso uniforme e as pisadas firmes dos coturnos na ordem unida cotidiana, ao som da canção do soldado. Na minha companhia de fuzileiros pontificava o então Tenente Toscano, nosso Comandante e o maior líder que conheci em minha vida, com uma voz de comando que faria o mais medroso e débil dos soldados transformar-se num portento, num samurai, arrostando todos os perigos da batalha sob suas ordens. Pensei que chegaria a General por merecimento. Parece que não conseguiu, mas para nós, recrutas do 55º BI daqueles tempos, será para sempre o comandante da tropa, na permanente defesa da Pátria e dos seus valores, que tem no nosso Exército seu maior guardião. Quantas saudades! Passado tanto tempo, ainda sonho com os toques da corneta, com as formações para as batalhas que fazíamos em treinamentos, com toda a casta de militares com os quais convivi, acordando emocionado, por ter, mesmo em sonho, vestido a velha farda e empunhado o mesmo fuzil, retirando-os do escaninho de minhas memórias, onde latejam, permanentemente lustrados pelo amor à Pátria, a cada dia mais ardente em mim. No 55º BI completei o ciclo necessário a minha formação como homem e cidadão. Hauri valores que ostento orgulhoso, especialmente aqueles cívicos, alargando nossas responsabilidades para além do círculo familiar e próximo, nos tornando responsáveis por todo este Continente que os Portugueses nos deixaram por herança. Um só Brasil, um só povo, uma só nação. Nesses 40 anos do 55º BI, coloco no altar da Pátria, sob a guarda segura do Exército Brasileiro, tudo aquilo que ele me entregou e que tenho como patrimônio maior, resumindo-se na vocação de servir ao País, honradamente. Nesses momentos de turbulência na vida nacional, aqui, neste canto de Minas, um brasileiro, já quase envelhecido e um pouco fora de forma, se preciso vai à luta, como naquela velha canção, bastando para tanto que lhe dêem um velho FAL, um cantil e uma bandeira brasileira como escudo e esperança. Parabéns, 55º Batalhão de Infantaria do Exército Brasileiro! Do alto dos nossos Montes Claros a Pátria vos contempla!

* Isaías Caldeira é Juiz de Direito em M. Claros


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Por Isaías Caldeira - 15/2/2016 16:21:24
Sobre o Carnaval

Isaías Caldeira

Quando tinha 16 anos escrevi um texto exaltando a chegada do carnaval. Hoje, décadas após, me vejo escrevendo outro, mas agradecendo o seu final. Nessas quatro décadas, ambos mudamos, quem escreve e o período de Momo,este pela permissividade atual, o escriba pelo arrefecimento dos hormônios, induzindo os cabelos brancos e a pouca vontade com festividades. Naquele tempo vivíamos governos militares, com censura aos costumes e a liberdade política, mas os jovens buscavam como desiderato o exercício do poder sobre o próprio corpo e de expressarem-se livremente sobre questões nacionais. Desde então existia, nessa época festiva, uma expansão das liberdades, notadamente aquelas referentes aos costumes, permitindo-se alguns excessos, especialmente das mulheres, até então sujeitas ao pátrio poder ou sob o guante de homens conservadores. A vigilância severa dispensada às moças deixava frestas para ousadias a mais nos salões, e era possível ao folião mais arrojado o usufruto de alguns dotes femininos, até então guardados sob o pesado tecido da moral vigente. Em geral não se ia além de beijos e abraços mais voluptuosos, mas era o combustível suficiente para dias, até meses, de parolagens entre amigos, dependendo do grau de dificuldades de acesso à foliona , onde contavam beleza e o percurso feito- se mais difícil, mais loas ao felizardo. Os homens usavam o carnaval para suas conquistas amorosas, enquanto as mulheres buscavam mesmo divertirem-se nos clubes e salões. Se na quarta-feira de cinza não tivesse o folião algum a aventura para contar, era imperativo que inventasse, sob pena da galhofa dos amigos, ao par com a sensação de derrota que o afligia intimamente. Bebia-se, mas drogava-se, ilicitamente, menos. O lança-perfume era proibido, mas não havia fiscalização e era comum o uso de lenços umedecidos da substância estupefaciente nos salões, às vezes por pais e filhos, naquelas famílias mais modernas. Mudam-se os tempos, mudam-se os costumes, dizem os versos poéticos, e nos tempos atuais, com a liberação sexual, são as moças que vão aos bailes em busca de namoros fugazes, não raro estreitados no altar de Afrodite, enquanto os rapazes, enfadados do acesso fácil às primícias femininas, voltam-se para bebedeiras homéricas , quase sempre acompanhadas de cenas de pugilato entre contendores embriagados. Sem frenagens à libido e sem as amarras da moralidade, não há mais espaços para novidades nos bailes e adereços, esgotado o arsenal criativo dos foliões, já despidos das fantasias reveladoras de pulsões represadas e que agora deixam expostas, sem máscaras ou artifícios, onde perversões imaginadas pelo Marquês de Sade ficam ao longe das proezas reveladas pela mídia em geral. Não faço aqui censura moral, pois todo moralista é um canalha enrustido, mas mera observação crítica, afinal é preciso um pouco de mistério nas coisas, sob pena do fastio, do cansaço próprio do que se revela em demasia ou se tem acesso fácil. Algumas matronas, já bem rodadas e conhecidas, deram de se declararem homo afetivas, posando para fotos em lânguidos beijos com presumíveis “namoradas”, em cenas teatrais capazes de renderem manchetes em jornais sensacionalistas, à míngua de outros atributos que lhes mantenham sob os holofotes, perdido o espaço para “rainhas do carnaval” mais jovens e “ saradas”. É preciso chamar às atenções, mais que divertir-se, nestes tempos. As coisas mudam, nem sempre para melhor. Também as pessoas comuns sentem uma vontade, mesmo compulsão, para viagens a outros lugares, sejam cidades históricas ou praianas, em busca de outros carnavais, quando poderiam, se quisessem, fazê-los na própria cidade, se nada impede que se organizem em blocos, criando um ambiente festivo, em desfiles nas ruas ou clubes, na aprazível companhia daqueles conviventes de todos os dias. A felicidade sempre está longe da gente, ou sempre a pomos onde não estamos, novamente recorrendo à poesia. Ainda sem os achaques da velhice, mas em idade claudicante nas vontades, preferi ficar longe das folias, indo descansar no sítio, com familiares e amigos, numa sensação de liberdade gratificante, com um sentimento de completude e paz. Embora saudoso daqueles carnavais, que ainda ecoam em minha memória, mas consciente que o novo sempre vem e que é preciso que cada geração cometa seus próprios erros, pois é deles que tirarão as lições necessárias à construção de seus destinos. Aos foliões de ontem resta a tolerância ao que não entendem ou assimilaram, mesmo porque vida tem seu conteúdo personalíssimo, onde a subjetividade determina a relação das pessoas com o que é contemporâneo. No mais, aos mais velhos é bom que guardem suas vivências para uso pessoal, pois como disse o maior memorialista nacional, Pedro Nava, “a experiência é um carro com os faróis para trás”.

N. da Redação - Isaias Caldeira é Juiz de Direito em M. Claros.


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Por Isaías Caldeira - 24/1/2016 23:21:09
Conheci Rafhael Reys no Café Galo, que ambos frequentávamos, local de uma boa prosa, mas também de muita maledicência, com especial relevo para a vida política local. Tinha uma memória notável, como demonstram seus textos, tantas vezes publicados em revistas e jornais locais e mesmo de outros estados. Suas estórias sobre a vida mundana da cidade e região, permeadas de proxenetas, alcoviteiras, mulheres-damas em geral,de discípulos do pano verde, de homens valentes e brigões, são uma fotografia do tecido social de uma época, que ele desenhava com muito humor, em linguagem simples e graciosa. Homem espiritualista, certamente não pagou pedágio ao barqueiro sombrio, Caronte, na travessia das águas que separam vida e morte, indo ao encontro das almas superiores, como era seu desejo, e também seu merecimento. Que descanse em paz, como descansam tantos que foram personagens de suas estórias, com os quais conviverá no plano espiritual, como era de sua fé.


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Por Isaias Caldeira - 8/1/2016 20:28:32
Saudades

Isaias Caldeira

“ Corram meninos, já vem chuva, e chuva nova faz mal”, ouviram as crianças o grito da mãe ao longe. Tomaram então o rumo da casa, aonde chegaram junto com os primeiros pingos. A primeira chuva em meses de seca. Trouxe consigo o vento forte, bandoleiro, sem rumo certo, o que era, segundo a experiência sertaneja, bom sinal. Foi de tal intensidade que todos foram alojados debaixo da mesa grande, que ficava na sala , afinal era possível que uma telha caísse, arrancada pelo vento, protegendo-se também dos respingos que atravessavam o telhado. Durou cerca de meia hora, mas intensamente. Depois, os pingos rarearam, e todos foram para o alpendre, onde os adultos ficaram, enquanto os meninos corriam para as enxurradas, tentando fazer pequenas barragens de terra, que logo se rompiam ou desviavam as águas para outros rumos. O cheiro de terra molhada espalhava-se no ar . Então vinha uma alegria que só o sertanejo entende, com as pessoas fazendo planos das lavouras plantadas no pó, ou por plantarem, tecendo considerações sobre o período chuvoso advindo, apagando das mentes os dias de sol e seca, como se a vida recomeçasse . Era a estação das chuvas. Para os meninos, era tempo de pularem no rio cheio, descendo na correnteza até por quilômetros, para desespero dos pais. Pegavam tanajuras, que se transformavam em “bois” aprisionados em currais de pedras, sem prejuízo de serem comidas por alguns, após fritas. A passarinhada era só cantigas nas árvores em derredor; bezerros corriam dando pinotes, sob o olhar displicente das vacas; uma profusão de insetos deixavam os ermos onde se escondiam o ano inteiro e enchiam os terreiros das casas, fazendo a festa das galinhas e bem-te-vis. Nos roçados, homens e mulheres se juntavam na lida diária, plantando ou limpando as roças, enquanto contavam “causos”, em geral sobre coisas cotidianas, pois aquela gente simples não admitia maledicências sobre os do lugar, e os malfeitos alheios eram reservados às conversas íntimas, como num confessionário. Se o ano era bom de chuva, havia fartura para todos. Mesmo os mais pobres, sem salário ou renda de qualquer natureza, banqueteavam-se com a profusão de frutas, legumes e leguminosas que abundavam na região. Maxixe e umbus, peixes de todas as espécies, encontrados com fartura nas empoeiras, lagoas e rios, afastavam a fome, então rotineira em algumas famílias. O pirão de farinha agregava seu sabor às demais comidas servidas nas refeições de todas as casas. As crianças refaziam-se, encorpando, assim como os adultos, o que garantia nova safra de meninos dentro de alguns meses. Ninguém falava em governo ou da ajuda de quem quer que seja, ou de sua falta, somente de Deus, a quem eram ofertados todos os agradecimentos. Deus era o governo de todos e somente Dele se valiam, esquecidos dos poderes temporais. O “inverno sertanejo” tingia de verde o mundo, com a vegetação renovando-se com a força das águas, as enchentes alagando os arrozais nas vazantes, e todos ocupados em incontáveis afazeres cotidianos, antes que o tempo chuvoso findasse. Foi assim a infância de todos, até mesmo os da cidade, afinal o Brasil era de população rural, e os citadinos tinham lá as suas origens. Já vai longe aquele tempo de fartura de chuvas, tempo em que todos estavam vivos e a felicidade de todos se entrelaçava, cerzida pelas coisas simples de então. Entanto, em todo verão, de longe ecoam, em forma de saudade, as vozes daquela gente antiga, agora já órfãs de sua presença. E o menino de ontem perscruta os céus, sondando o tempo, e quando as nuvens confirmam o advento das águas, dentro dele grita, daquelas lonjuras que só o coração pode escutar, a mesma voz materna anunciando o temporal que se avizinha, advertindo que a primeira chuva dói, dói, dói.


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Por Isaias Caldeira - 13/11/2015 20:03:24
Lembranças

A casa sede da fazenda era enorme, e enorme era o terreiro em volta, sob o olhar telescópico do menino, que media as coisas por suas pernas curtas, superdimensionando o mundo. O curral de lascas de aroeira em frente, as bananeiras ao fundo, junto ao jirau de madeira, onde se lavavam as vasilhas em gamelas, colocando-as sob o suporte para secarem. A água usada, impregnada de sabão de coada, era despejada nos pés de bananas, gerando cachos enormes, com necessário aporte de uma escora na bananeira. E a vida sempre igual, todos os dias. Então, ao longe, vislumbraram-se as figuras de uma mulher e duas crianças, em passos lentos, em direção à sede, como miragem sob o sol escaldante daquele meio de dia. Aos poucos foram se aproximando, até que se vislumbrassem a criança nos braços da mãe e as outras duas agarradas às suas saias de algodão, num azul de tintol, a blusa branca com rendas coloridas no colo e nas mangas, como se vestiam as descendentes de escravos naquela época. Usava chinelos de couro cru, bem gastos. Os pés das crianças eram descalços, as roupas puídas, mas limpas, num asseio que demonstrava a dignidade daquela mulher, da altivez como carregava a sua pobreza, emprestando-lhe uma humanidade quase arrogante , segura que sua sorte ou destino não lhe arrancara do mundo dos homens, e que era filha de Deus, gente, afinal. Chamava-se Alexandrina, esposa de Miguel Vaqueiro, e moravam a uma légua , no meio da mata. No alpendre, os de casa esperavam. Na chegada, a visitante deu um bom dia respeitoso à dona da casa. As crianças maiores, sendo a mais velha de cerca de 8 anos, embora aparentasse a metade, estenderam as mãos em pedido de bênçãos, enquanto a mãe segurava a mão da de colo, para o mesmo fim. Feitos os cumprimentos, foram convidados a entrarem, seguindo direto para a cozinha. Perguntada pelo marido, respondeu que estava no campo afora, com um companheiro, em busca de gado de criador local, reses que não viam curral há anos, paridas de várias crias na mata, mais ariscas que veado campeiro, arredias a toda proximidade humana. Saíram no final da lua crescente, embrenhando-se na mata, naquela altura do ano bem seca, para aproveitarem a claridade da noite, mais por segurança pessoal, pois abundavam onças naqueles ermos, e era preciso permanecer vigilante. Em volta da mesa, assentadas e caladas, as crianças ouviam a conversa. No fogão de lenha, a água quente foi misturada ao pó de café, moído na hora, e o cheiro bom tomou conta da cozinha, arregalando os olhos dos meninos maiores, na espera da mesa posta com aqueles regalos da fartura, aos quais não tinha acesso em casa. Serviu-se o café quente, acompanhado de requeijão e queijo, bem à vontade. As mãos ágeis dos meninos logo agarraram seus bocados, que quase nem mastigavam. Vendo que aquela família acorrera ali por força da fome, providenciou-se a fritura de ovos e um pouco de toucinho, servindo-se então uma farofa com torresmo, e tudo foi consumido rapidamente. Então, após alguns instantes, a mãe sentiu-se mal, vindo a desmaiar. Foram tomadas as medidas próprias, conhecidas pela experiência dos locais, de modo que ela logo se recompôs, sentando-se à mesa, enquanto arrumava suas roupas. Pediu desculpas por seu mal- estar, envergonhada daquela sua fraqueza. Disse que o marido deixara pouca coisa de comer em casa, acabando os alimentos ao final de uma semana. Que estava a família sobrevivendo de beldroega e caruru, com redenho de gado. Mas o desmaio foi porque não comiam comida de sal havia mais de mês, confessou. Fez-se então uma pequena cesta de alimentos, com os visitantes retornando à sua casa com o suficiente para alguns dias, até a chegada do chefe de família. Na saída, antes de ir-se, empertigada em sua boa altura, com face altiva, fez questão de convidar a anfitriã para um café em sua casa, assim que seu marido retornasse, pois haveria de receber o suficiente para o abastecimento da despensa, e que gostaria de retribuir a gentileza. Sua figura ereta, aprumada sob um corpo longilíneo e magro, perdeu-se logo depois na trilha do mato. Entanto, nos caminhos que ando trilhando pela vida, uma negra alta e elegantemente composta em suas vestes simples, segue na vanguarda dos meus passos, como exemplo de altivez e dignidade, mostrando que o homem está acima de suas circunstâncias.


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Por Isaias Caldeira - 17/10/2015 20:20:27
A porta estreita

Isaías Caldeira

Sou católico de pouca prática, afinal quase nunca vou à igreja, embora me persigne diante dela com o sinal da cruz, acredite na intercessão dos santos e creia numa forma de consciência do que fomos neste mundo, quando apartados fisicamente dele. É o que por ora me basta no que diz respeito à transcendência. Sim, claro, creio em Deus. E o temo. Sei que sou pecador, e pecador que habita a seara de um daqueles pecados ditos mortais, no caso, a luxúria. Gosto dos prazeres da vida: boa comida, embora possa ser a simples, bebida, e principalmente quando esses gostos se encontram com aquelas primícias decorrentes da companhia feminina, e nisto me espelho no mais sábio dos homens, o Rei Salomão, tão querido por Deus. Não cheguei a compor nenhum cântico às amadas, mas só não o fiz por falta de talento, vencida minha vontade. Embora temeroso, dependendo do momento, às vezes chego a recitar alguns versos Salomônicos em apologia ao chamado belo sexo, mas sei que o gosto feminino atual está mais consonante com o fraseado sertanejo ou de comunidades ditas carentes, onde a rima pobre encontra seus congêneres, nesses “esquentas” da vida. Quando jovem, muitas vezes me vali de algum poema de Neruda como método de conquista, quase sempre infalível para demonstrar sensibilidade ao gosto feminino, sem revelar a apropriação intelectual, com o propósito de vencer minhas limitações estéticas em face de rapazes de feições apolíneas. Já cheguei a derrotá-los em algumas disputas, embora possa parecer impossível, mas eram outros tempos e outras as mulheres, e sei que hoje elas quase nem se atentam ao que a gente fala ao lado, somente meneando as cabeças distraídas, enquanto teclam mensagens nos seus telefones. São os tempos e costumes. Não faço aqui nenhuma confissão da linha Agostiniana, afinal ainda espero o sinal de Deus, naquela manifestação ao escolhido, seja pessoalmente, como a Paulo de Tarso na estrada de Damasco, ou em sonhos, para então buscar o meu deserto pessoal e, sozinho ali, vencer essas tentações que me escravizam. Posso parecer pretensioso, mas sei que, em algum momento das nossas vidas, todos já aspiramos à santidade. É menos tolo que querer ser sábio. Afinal, buscam-se mais os conventos e seminários que às bibliotecas, como atestam os censos e o pouco senso públicos. Faço essas considerações em razão da senda encampada pelo nosso Papa Francisco, em seu pontificado. Homem simples e notavelmente bom. Risonho e desapegado de formalidades no seu contato com os fiéis, somente mantendo as liturgias essenciais à preservação da própria Igreja Católica, razão de sua sobrevivência nesses milênios. Sua Santidade vem acenando com um perdão amplo aos pecadores de todos os matizes. Tolerância às diversidades, num evangelho acolhedor , onde as portas do inferno se fecham, abrindo-se o caminho do céu para todos. Ao menos é assim que percebo, na minha ignorância, suas intenções . Tudo isso porque é um homem bom. Pecador confesso, temo que o Santo Padre esteja enganado na sua vontade de acolher os homens, material e espiritualmente, com perdão amplo e irrestrito. De dar- lhes guarida, convencido que o amor de Deus é infinito e que o perdão depende apenas de uma confissão do pecador, mesmo sem o respaldo de mudança pessoal, na crença que são os mandamentos Divinos que devem se amoldar a nós, e não de nos colocarmos sob seu jugo, de suas ordens, do seu império. Ah, Santo Padre, esse caminho largo deixaria o inferno no limbo, vazio de almas, e o próprio Demônio perderia sua utilidade existencial, sob o escárnio dos pecadores em geral, libertos dos martírios de seu reino de fogo e óleo escaldante. Espero que o Papa Chico esteja certo, mas por cautela, temeroso, entrego-me à tarefa de ser justo em meu ofício, procurando dar a cada um o que é seu, enquanto vou pedindo perdão ao Criador por meus pecados, já públicos e publicados, porque no frontispício do meu ser brilha a advertência bíblica de que a porta é estreita, não larga, e que devo porfiar por entrar por ela.


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Por Isaias Caldeira - 12/8/2015 07:46:31
Os Brasileiros.

Isaías Caldeira

Meu pai casou-se em segundas núpcias com esposa quase três décadas mais jovem, afrodescendente, e conviveram por mais de vinte anos, até sua morte, por ela testemunhada num leito de hospital. Mulher humilde, roceira, que da vida somente apreendeu o essencial, prescindindo de toda filosofia para praticar o bem e a aceitar, tranqüila, as vicissitudes, tudo resumindo numa sentença simples: trabalhe duro e pacientemente, tristezas e alegrias se revezam permanentemente na vida das pessoas. Nada é nosso, meros fiduciantes das coisas do mundo e de Deus. Assim, estoicamente, ela passa os dias na lida no pequeno sítio em que viveram, e no qual ainda porfia escavando a terra agreste, sob sol inclemente. Nada entende de política e nem se interessa por isso. Desde nova sabe que o salário que paga ao Criador, cotidianamente, tem o valor de seu suor, e é grata de poder, dia a dia, adimplir com seu compromisso, agradecendo a Deus por braços sadios e mãos que oram cultivando a terra. Por ter enteados juízes, médicas, servidores públicos, bancários e outros aburguesados, não tem acesso as benesses do governo. Numa república onde o mérito reside em quem adere às palavras de ordem e empunha bandeiras de facções, com o trabalho considerado uma submissão aos exploradores capitalistas, dá gosto ver como insiste em cultivar seu jardim. Semeia a boa semente na terra onde labora, enquanto cresce uma descendência miscigenada de África e Europa . Os seus irmãos, vizinhos seu, tão honestos e trabalhadores como ela, são requisitados por todos os proprietários de terras na localidade, com a fama de laboriosos e dedicados aos compromissos assumidos credenciando-os entre todos. Alguns prestam serviços a mais de um patrão, todos eles agradecidos por terem à disposição gente tão honesta e comprometida com o trabalho. Nunca receberam um palmo de terra do governo, pois não integram nenhuma organização campesina, nem se filiaram a partido político. Trabalham duro e têm a mesa farta, às suas custas. Nunca foram contaminados por qualquer ideologia. São, aparentemente, felizes. Digo isso, neste momento de desconstrução da nação brasileira, para lembrar a todos da extraordinária herança portuguesa que nos foi legada, esta unidade lingüística e territorial que o mundo admira e inveja, e esse povo miscigenado. A América espanhola transformou-se em vários países. Somente o Brasil manteve esta unidade territorial, com mesmo idioma, o mesmo sentimento de brasilidade, unindo brancos, mestiços ,índios e negros, miscigenando raças, dando origem ao que Darcy Ribeiro exaltou como modelo de civilização feliz. Dizem que hoje já entregaram 20% do território nacional a grupos ditos indígenas, exigindo apenas uma declaração dessa condição para usufruir da bondade governamental. Pouco importa se avós já eram integrados à comunidades urbanas ou entre outros nacionais, alheios aos rituais de seus ancestrais. Também separam territórios para descendentes de escravos, nominados quilombolas, em prejuízo aos proprietários locais , onde gerações viveram e ajudaram a construir o progresso da região. Sintomático que as terras requisitadas são quase sempre as melhores do lugar, já prontas. Bem que o governo poderia entregar as terras na região norte do Brasil, ainda despovoadas e que precisam de gente disposta a explorá-las, a esses novos proprietários. Mas o norte do Brasil é tão longe de tudo e é preciso trabalho duro para tornar aquelas terras produtivas, o que é um empecilho, certamente. Assim, é melhor requisitar, em geral à força, a fazenda produtiva mais próxima, que logo o governo vem com providencial decreto expropriatório, baseado em laudos antropológicos de engajados, sempre dispostos a distribuírem o que é dos outros. Os proprietários, se resistirem às invasões, passam à condição de latifundiários sanguinários e criminosos, aos quais os grupos organizados exigem prisões imediatas. A justiça social, que é realmente necessária, acaba por ser ser feita injustamente, ferindo direitos. Assim, em poucos anos, conseguiram disseminar o ódio entre os nacionais, dividindo os brasileiros em grupos étnicos e entre classes sociais, entre exploradores e explorados, talvez de forma irreversível. Lembro então do meu pai, vaqueiro, na lida do gado, e minha mãe na cozinha, socando arroz em casca no pilão, para a comida de mais de uma dezena de peões, todos os dias, na fazenda onde trabalhavam no início de suas vidas, ela sem salário. Com esforço e economia, compraram uma modesta propriedade rural , dela tirando o sustento de família numerosa. Todos os filhos formados, com vidas honradas. Vieram ainda três irmãos desta segunda união de meu pai, todos cursando faculdades, no mesmo caminho já trilhado. No país das palavras de ordens gritadas por uma minoria que nada produz, ainda há uma maioria que acredita no trabalho e no esforço pessoal como forma de ascensão social, para brancos, negros, índios e mestiços. Mantermos este Continente chamado Brasil unido, nação e território, é nosso compromisso com os desbravadores portugueses que nos colonizaram e delinearam nossas fronteiras e, mais que tudo, com nossos descendentes, continuadores da epopéia Lusitana.


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Por Isaias Caldeira - 21/7/2015 12:12:56
Uma cena urbana


É março, em pleno verão, ao meio dia . Os transeuntes vagam à procura das balaustradas das casas e dos toldos das lojas , ou qualquer sombra que arrefeça, mesmo que por instantes, o furor canicular. Vejo sair, das dependências da Santa Casa, uma mulher com o filho nos braços. Deve ter pouco mais de 30 anos, e mais ou menos um metro e cinqüenta de altura, e a criança uns quatro ou cinco natalícios. São pobres, sei, como revelam os chinelos de borracha e as vestes estampadas e puídas. Anda rapidamente a mãe, como se aquela criança fosse um complemento de seu corpo e do seu peso, tão agarrados estavam, cingindo ao peito e ombros aquele ser pequeno. O menino que carrega tem os punhos levantados e as mãos fechadas, hígidos, sobre os ombros dela, em clara e transparente anomalia advinda do parto, apodada como paralisia cerebral pela medicina. Sigo-a com os olhos, ou a ambos, mesmo que sejam um só neste desenho de momento, atento ao seu deslocamento pelo centro da cidade, admirado daquela força que só as mães possuem, dessa proeza que só o amor materno é capaz. Coberta de suor , seus passos ligeiros pelas calçadas lembram-me uma estória antiga, dos anos setenta, no século passado, sobre um menino que carregava nos braços um irmão, pouco mais novo que ele, em pleno inverno em Nova York, e que batera à porta onde moravam alguns padres, em busca de ajuda e abrigo. Ao abrir a porta e ver aquelas duas criaturas pequeninas cobertas de neve, perguntou o religioso àquele que carregava, como conseguia levar tanto peso sob seus ombros, respondendo o menino que não levava peso nenhum, mas o seu irmão. Deus meu, amoroso Deus Cristão, a quem me vergo e submeto todos os dias da minha vida, eu sei que a verdadeira força é o amor que pregaste. É ele que remove as montanhas, porque fé sem amor é sino sem badalo, é opacidade e vácuo, é limbo onde jazem as coisas e seres sem alma. Aquela criaturinha frágil e seu rebento , expostos às mesmas leis da gravidade e do calor,jungiam-se naquele abraço amoroso, e se complementavam de tal modo e com tanta intensidade, que era impossível saber quem realmente era carregado, porque o amor verdadeiro apaga essas fronteiras entre doador e donatário. Fisicamente, ambos eram distantes daquela figura da Madona e seu filho ao colo, estampadas nos quadros renascentistas, cobertos pela luz divinal, com a criança rechonchuda e de olhos vivazes, onde a vida se revelava em sua plenitude, com a abundância da saúde somada à alegria materna de ter nos braços o Deus Menino, salvador dos homens, que sabia de destino inigualável. Nada disso animava aquela mulher, certamente, mas somente o amor, na sua forma mais pura, pois não dependente de qualquer esperança e sem nenhuma certeza quanto ao filho que carregava, ao contrário, temerosa de seu futuro sem as rédeas de sua vida, subalterno a terceiros cuidadores, bons e maus. Sei que em mães assim só um medo habita os corações, o de não terem vida longa para cuidarem deles, e por tal se carpem aos pés dos santos e em preces a Deus, na esperança de um milagre impossível. Perdendo-a de vista, mas não em meus pensamentos, imagino que outros filhos à esperam em casa, por isso tem tanta pressa, ou talvez algum marido ciumento, que lhe indagará sobre razões da demora, sem prejuízo de palavras duras. Sei que ela somente se libertará de seu calvário quando chamada por Deus. Então, seu corpo franzino, numa urna pobre e pequenina, será conduzido sem dificuldades para seu último leito, liberto de suas circunstâncias. Mas sua alma enorme, esta sim, demandará uma legião de anjos a conduzi-la, em alegre coro, até o colo do Pai, onde permanecerá, para todo sempre, em descanso, no usufruto daquele mesmo amor que dedicara ao filho neste mundo.


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Por Isaias Caldeira - 21/6/2015 21:50:08
Sobre prisões

Isaias caldeira

A personagem Javert, policial implacável, magistralmente descrito por Vitor Hugo no romance Os Miseráveis, tinha obsessão em encontrar e prender João Valjean, por um furto cometido há anos e que o condenara às galés, de onde fugira, e essa busca constitui-se num dos eixos centrais desta obra prima, que emociona o leitor desde a primeira página. No final da extensa obra, realiza o perseguidor seu intento, encurralando sua presa. Entanto, após tantos anos em seu encalço, conhecendo sua vida dedicada aos mais pobres e honesta, desiste de efetuar a prisão e suicida-se , porque para ele, Javert, ao deixar de cumprir com sua obrigação policial, somente a morte poderia aplacar a vergonha da sua omissão, mesmo que por razões mais que justificadas no contexto da obra. Também em O Alienista, do maior escritor brasileiro, Machado de Assis, a personagem Simão Bacamarte, médico formado em Portugal, que passa a estudar e catalogar os loucos e as loucuras na pequena Itaguaí, no Rio de janeiro, após internar a cidade inteira, até sua esposa, acaba sendo ele mesmo encerrado nas grades do manicômio que criara. Essas obras , uma de caráter mais romântico e a outra realista, desenham quadros sociais perfeitamente reconhecíveis por todas as gerações, evidentemente com as tintas dos notáveis escritores que as criaram. Ambas estão a nos alertar para o perigo dos excessos, das obsessões, das ideias fixas, em como elas se apresentam em algum momento da história, partindo muitas vezes de uma tese plausível, racional na aparência, mas incapaz de uma antítese, sem o corolário lógico de uma síntese. Pois bem, essas lições não são consideradas por alguns dos detentores de poder no aparato estatal, muitas vezes por desconhecimento ou por simples desprezo aos seus conteúdos morais. Contextualizando as obras aos dias atuais, vê-se que nunca foram presas tantas autoridades e empresários como nesta safra da nossa história, o que, se tem um caráter positivo, do império da lei para todos, deixa dúvidas sobre a prevalência da lei processual em vigor, quanto aos requisitos para as prisões preventivas. Basta uma causa ou pretexto palatável ao grande público para justificar um decreto prisional, pois os fundamentos das prisões em geral mostram elevado grau de subjetividade, apoiando-se em perspectivas, na categoria das possibilidades, mas não do real, aqui entendido como fato incontroverso, inserto no mundo e perceptível aos sentidos. Sob a premissa que o investigado poderá fazer ou deixar de fazer algo que dificulte o processo, decreta-se o acautelamento, em geral, mas não unicamente por isso, repito. Pouco importa se o cidadão tem empresas que empregam milhares de pessoas, com décadas de atividades no país e no exterior, gerando rendas e prestígio ao Brasil. Uma vida sem máculas, endereço no País, serviços prestados à nação, nada disso conta quando das prisões cautelares, de modo que fica a impressão que mais vale uma vida desonesta e criminosa, como a maioria dos bandidos que infernizam a vida dos brasileiros cotidianamente, que ter um passado de trabalho e honrado, sob a ótica de alguns intérpretes do Código de Processo Penal. Se suspeito, prende-se. Enxovalhado publicamente e para sempre, pois já teve sua pena antecipada, sem sequer um processo formal que a legitime, em meros inquéritos investigativos. Não podemos esquecer que a execração pública era uma modalidade de condenação em tempos nem tão antigos, com a marca escarlate no rosto do condenado, ou ser arrastado amarrado ao rabo de um cavalo pela cidade, para conhecimento da população, mas depois de um processo. Hoje a mídia se encarrega disso previamente, registrando a morte moral do acusado, na mesma fogueira pública onde arderam as vidas de tantas pessoas no passado, sob o aplauso da massa sedenta de sangue, do martírio de alguém como justificativa para fracassos públicos e privados. Nem falo das tais conduções coercitivas de quem não se recusou a depor. Foram buscar fundamentação jurídica no Código de Processo Civil para este absurdo, o que jamais imaginei presenciar numa democracia, onde a Constituição Federal limita as privações de liberdade aos casos de flagrantes e prisões por ordem judicial, obviamente em cautelares previstas no Código Processual Penal e em sentenças condenatórias. Ser conduzido coercitivamente é ser privado de liberdade naquele momento, sem sequer saber qual crime é imputado. Depois, o investigado tem direito ao silêncio, sem nenhum prejuízo, então é uma medida injustificável juridicamente. Estou certo que ela somente humilha e destrói moralmente o cidadão suspeito. Mas ninguém reclama, incluindo a OAB, todos reféns das boas intenções dos agentes do Estado, dos fins buscados, de coibir a corrupção. Danem-se os meios. Não é esta a Democracia que imaginei após o governo dos militares. O estado de direito deve ser imperativo para todos, com prisões de quem quer que desafie a ordem jurídica, mas dentro do devido processo legal. Receio que com tantas decretos prisionais, ao final sejamos todos encarcerados, sob a ordem de algum Simão Bacamarte do Judiciário, sem termos um Inspetor Javert moralmente capaz de resistir ao cumprimento da ordem.

Isaías Caldeira é juiz na Comarca de M. Claros


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Por Isaias Caldeira - 12/4/2015 08:38:47
DA VIDA E DAS LEIS

Isaias Caldeira

Gastei quase toda a vida inutilmente. Tantas oportunidades perdidas nesses hiatos entre as obrigações cotidianas, debruçado nas janelas , na inútil contemplação do mundo em movimento, do espetáculo encenado que convidava para o palco , enquanto fui quase um tímido espectador dos acontecimentos. Nenhum sábio me procurou nas montanhas em que me isolava, prisioneiro dos meus medos, para mostrar a ponte que conduziria ao homem novo , a um lugar para as expansões dos meus desejos. Poderia ter sido tantas coisas, porque tempo há em demasia, como testemunham nossos domingos vazios, os jogos de cartas e as mesas dos bares. Agora que, em meu caso, o futuro é menos que o passado e que se tem a verdadeira dimensão da vida, nem infinita e nem curta, mas suficiente a incontáveis jardins, corro a semear apressado as sementes que colhi e guardei, plantando árvores que não verei florescer, na esperança de sombras e flores nas manhãs dos que virão. Certamente teria amado mais, se pudesse, porque nada há de mais extraordinário que o amor, rosa sempiterna , com textura e cor iguais a todas as rosas, mas única para alguém que a colhe , no mesmo gesto repetido por todas as gerações . Chego a sentir os corações adolescentes pulsando no primeiro assombro amoroso, seus rostos rubros na timidez da descoberta do outro como parte de suas vidas, renovando-se nas demais fases da existência, afinal não se ama uma única vez, em regra. Sei que isso tem um nome: vida. É ela, que acontece enquanto fazemos planos, tão nossa parceira que não se incomoda com nossa gratidão, nesse seu hábito de se fazer minimalista nas coisas cotidianas. Na verdade, só precisamos do ar que respiramos , porque o resto a vida nos oferta, nesse imenso mercado exposto aos nossos sentidos, onde tudo é escolher e apaixonar-se, como dizia um filósofo do século passado. Mas também teria brigado mais com os hipócritas ,nas assembléias públicas que promovem para venderem suas verdades fabricadas , encilhando suas mentiras com arreios dourados, para que o brilho cegue a verdade e o julgamento se dê escravizado pelas aparências, que se fazem de provas ao édito condenatório. Hoje, ando farto dessa gente e já os rifei das minhas preocupações rotineiras. Deixei ao Eterno, que tudo sabe e perscruta os corações dos homens, o julgamento de suas maldades, pois está dito que como julgamos seremos julgados. A mim me basta saber que, assim como o profeta Daniel, que admoestou os juízes de seu tempo para a injustiça contra a mulher conduzida ao apedrejamento, não fui responsável pelo sangue de inocentes , deixando contaminar-me por sentimentos subalternos ou prevaricando no exercício de meu ofício, com meu cargo a serviço de facções políticas ou contra quem quer que seja, no campo pessoal. Só o sentimento de justiça me anima e move, desde a epigénese de minha existência, pois o homem conduz o Magistrado em todas as circunstâncias. Só um psicopata pode ter prazer em condenar alguém à prisão, esta modalidade de castigo terrível, já que os presídios em nada diferem das jaulas onde animais são recolhidos , para tranqüilidade de um público que se contenta em subjugar quem o ameaça. Entanto, reconheço que o Estado ainda não criou nada melhor que substitua o castigo que atua sobre a liberdade de ir e vir. Ele já teve na tortura física, com chicotadas e apedrejamentos, a punição aos acusados. Infelizmente tais práticas são legitimadas até nossos dias em países onde o direito é regido pela ortodoxia religiosa. Falo de mim e do que acredito, neste opúsculo, não por vaidade, mas esperando ser útil, mesmo contrariando os bem intencionados , mas desprovidos daquela racionalidade singela, que prescinde de maiores argumentações ou provas, assentada tão somente no bom senso, que anda em falta no mercado de idéias. Refiro-me, aqui, especificamente, à redução da maioridade penal, que sou favorável. Não porque, como querem pautar o assunto, vá reduzir a criminalidade, mas porque ela conduz à Justiça concebida pelo homens, de reparar à vítima ou seus familiares do mal imposto pelo ofensor. Uma criança cruelmente assassinada por um adolescente, já consciente este de seu ato, merece uma resposta condizente com a gravidade do crime pelo Estado. Se este nada faz ou faz pouco, é legítima a indignação dos vitimados, o que pode ser um caminho para a justiça privada. Não se trata de reduzir a maioridade em todos atos infracionais, mas tão somente naqueles crimes graves, que causam clamor público, como latrocínio, estupro, seqüestro e outros similares, que não representam quase nada no universo dos delitos menoristas atuais. Uma lei penal que não considera a vítima, reproduz o mesmo crime contra ela, pois legitima o mal imposto, afastando-se do imperativo ético essencial à paz social. Pautada apenas em critério cronológico, sistematiza injustiças, e o momento exige reparos que instrumentalizem uma resposta pelo Estado ao mal imposto pelo agente, seja ele menor ou maior de 18 anos. Que o Congresso Nacional não se esqueça de seu compromisso com a sociedade, que na quase totalidade exige mudanças na legislação menorista, encerrando esse ciclo de impunidade.


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Por Isaias Caldeira - 13/2/2015 09:28:37
Soluções mágicas

Isaías caldeira

Um dia, quando criança, peguei um sofrê com as mãos. Acho que andei pegando mais um ou outro pássaro. Foi o bastante para meu pai alardear meus poderes sobrenaturais na cidade que só conheceria anos depois, quando parti da roça para estudar em Montes Claros. Aqui chegando, logo minhas tias e primos queriam saber dos meus dons extraordinários. Eu, que até então não tinha a dimensão do feito e achava que apenas ocorrera de pegar os passarinhos que se mostraram dóceis e acessíveis à minha aproximação e contato, aceitei de bom grado os atributos mágicos, de modo que cheguei a acreditar nos poderes que me atribuíam. Assim, às escondidas, sem a presença das pessoas, várias vezes me pus a observar os pardais que abundavam nos quintais daquele tempo, tentando deles me aproximar e realizar a façanha de apanhá-los com as mãos. Bichos arredios, logo davam asas, abrigando-se nas frondosas mangueiras próximas, indiferentes aos meus desejos e boas intenções, certamente temerosos do vezo dos meninos de dirigirem- lhes pedradas. Aos poucos, fui aceitando minha incapacidade para o encantamento de pássaros, e quando alguém me pedia para fazê-lo, arrumava uma desculpa qualquer, especialmente de que somente me relacionava com os passarinhos da roça, muito diferentes dos pardais e outras espécies da cidade, que insistam em comer os restos de comida jogados fora e enchiam de piolhos os telhados das casas citadinas. Ainda adolescente, dei-me conta que apenas me ativera e considerara, então, o olhar do outro, nisso que chamamos vaidade, em contraponto aquilo que eu realmente era, um pobre mágico mirim sem cartola e sem truques, incapaz de tirar pássaros do nada, tampouco de apreendê-los em minhas mãos pequenas e inábeis. Hoje, já um velho em gestação, por mais que me esforce em contrário, vez ou outra sou tentado pelos créditos e louros que alguns me pespegam, e me surpreendo em gozos súbitos , movidos por uma satisfação íntima que emerge do somatório das loas recebidas, e chego a acreditar, como o poeta, que alguma mão “anotou em mim o sigilo do gênio”. Graças a Deus não duram esses desvarios mais que alguns segundos, e logo o menino fracassado nos seus pendores extraordinários emerge, colocando em fuga esse pássaro de penas douradas, da mesma gênese volúvel do beijo que antecede o escarro, fruto do barro informe que apodamos de opinião pública. Juiz de província, com um poder liliputiano, esforço-me para dar conta de uma tarefa infinda, levando aos ombros a balança da justiça dos homens, onde devo medir os seus atos, sob o prisma das construções jurídicas previamente estabelecidas e codificadas. Tarefa de Sísifo, quando quase me dou por satisfeito com minha atuação jurisdicional, eis que os fatos jogam-me de novo ao rés do penhasco, e vem a sensação de inutilidade, de fracasso pessoal e das instituições, por não atender minimamente aos anseios de um povo acuado e desprotegido, em permanente risco de morte em meio a uma guerra civil não declarada. Atuando na área criminal há muitos anos, sei que perdemos a batalha contra a criminalidade. Cadeias superlotadas, algumas já interditadas, centenas de novos inquéritos chegando mensalmente às varas criminais, estruturas precárias em todos os setores responsáveis pela aplicação da lei e combate aos crimes, esta é a realidade vivenciada. Não há mais vagas no sistema prisional para maiores e menores. Para se prender alguém, coloca-se em liberdade outro, revezando-se nas celas dos presídios e centros de recuperação menoristas. Acabado o expediente forense, após várias audiências, despachos e sentenças , retornando para casa, imagino o país daqui a alguns anos, se continuar neste ritmo, e temo caminharmos para o impasse, para o confronto social, onde o descrédito nas instituições nos conduzirá à luta fratricida, no desespero das vítimas dessa guerra civil em curso, que mata mais que em países oficialmente em litígios bélicos. Mas talvez exista algum pássaro na cartola das autoridades responsáveis, e façam a mágica de apresentarem ao público uma solução para o impasse, devolvendo a paz hoje perdida, embora desde menino saiba que não é tão fácil pegar pássaros de verdade sem o uso de métodos convencionais, no caso, leis mais duras, com penas que desestimulem os criminosos e efetividade no seu cumprimento. Parece simples, mas é preciso coragem para se fazer o óbvio, deixando de lado malabarismos jurídicos e retóricos. Afinal, a ave da injustiça já se assenta nos umbrais das portas e não é preciso mágica para tocá-la com as mãos.


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Por Isaias Caldeira - 27/1/2015 09:56:26
A terra desolada.

Isaias Caldeira

Na minha infância rurícola, o sol era o relógio de todos. No seu nascer e declínio medíamos a passagem do tempo, as horas de trabalho e descanso dos homens. Amanhecendo, os foiceros e demais empregados iam à cozinha da sede da fazenda e ali, antes da jornada diária, refestelavam-se com coalhadas, leite, queijo e café, livremente e sem medidas. Tudo era muito farto, as coisas da roça eram produzidas apenas para consumo interno. À tarde, inclinando-se o sol por trás dos montes, punham as ferramentas aos ombros e, em fila indiana, marchavam de volta à sede, com seus rostos queimados, banhados em suor, passos arrastados, já pensando no jantar que os aguardava, em geral após um mergulho no rio de águas limpas e fartas. Tudo era sempre igual, dia após dia. Reunidos, a preocupação de todos era o tempo e suas variações. Olhavam para o céu, mediam as nuvens, suas colorações e intensidades. Faziam-se os prognósticos climáticos, sempre na esperança da chuva benfazeja. Não havia “stress”, pois as mentes só se ocupavam dessas coisas simples. Sem televisão, somente o rádio trazia as notícias do mundo. Entanto, as guerras e tragédias, despidas das imagens, não geravam grandes comoções, mesmo porque tudo era tão longe, num mundo que desconhecíamos, de povos que às vezes sequer sabíamos onde habitavam. Depois, era preciso concentrar-se nos afazeres diários, sob pena de dificuldades até mesmo de sobrevivência. Cuidar dos pastos e dos animais, das plantações, das coisas cotidianas, sem tempo para os sortilégios de outros povos ou nações. De tempos em tempos a morte deixava seus sinais na comunidade, tingindo de negro as vestes familiares . Depois, tudo se acomodava. Deus dá, Deus tira, graças a Deus. O homem simples encara a realidade de modo mais objetivo e conformado. Sabe que é frágil e que a dor se apresentará de alguma forma para tudo o que vive, culminando na morte, sendo inútil toda a especulação sobre a justiça na sua distribuição no mundo. Apenas reza a Deus e aos santos de sua devoção, como uma obrigação que se cumpre, mas já ciente de seu destino, prescindindo de qualquer filosofia ou metafísica. Deus quer ou quis. O resto são meras especulações , e as coisas que são , aquelas as quais não se tem acesso às suas causas e tornam inúteis as palavras, essas permanecem distantes da apreensão dos homens, porque inexpugnáveis em seus mistérios e enlouquecem os que se prestam à inútil tarefa de decifrá-las. Rememoro aquele tempo de meninice em razão desta inusitada e assustadora situação climática que passamos. Conheço pessoas com mais de 90 anos que dizem nunca terem presenciado algo semelhante, com tanta seca e calor . Em certas localidades até o mato, em palmo, tostou, além das plantações . Nada cresceu, parecendo que foi usado herbicida de alta eficiência nos campos e pastagens. A terra ressequida verbera o sol, que desde o nascer queima como se no zênite. Até os beija-flores desapareceram dos campos, onde a canícula vergasta tudo o que vive e afugenta os animais para a pouca sombra que ainda resiste. A saracura três potes entoa seu canto inutilmente nas tardes findas, quebrando o silêncio das paisagens , alternando-se com o mugir faminto do gado sobrevivente e que ainda não foi vendido . Um tom escarlate inunda o horizonte e as pedras exalam o calor recebido. Então,os campesinos esperam, adivinhando os sinais da natureza, na esperança de uma mudança no tempo e que a chuva alivie a situação de penúria de todos. No ócio forçado, aguardam o dia seguinte. Mas sobretudo há o medo que o clima tenha mesmo mudado, para sempre, e que um tempo de destruição apocalíptica imposto pela natureza se faça permanente, indiferente a dor dos homens, mas não às suas ações contra o meio ambiente, cobrando o preço pelo mau uso dos recursos naturais ao longo da civilização. Incapazes diante do portento avassalador, somente nos restaria a misericórdia Divina. Rezemos, pois.


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Por Isaias Caldeira - 20/12/2014 19:54:41
Sobre eleições .
Isaías Caldeira

O sistema eleitoral brasileiro fez do que seria um dia festivo, aquele do pleito, num quase luto, tudo em face do excesso normativo em vigor, na busca de um voto livre de toda e qualquer peia capaz de imprimir a marca do servilismo ou da sujeição ao poder político ou econômico. Um dia monástico, sem manifestações de eleitores, sem alegria, num silêncio sepulcral, de uma gravidade análoga à uma sexta-feira da paixão, onde o sacrificado é o direito de expressão política, no culto ao mundo ideal, do dever ser , enquanto a tempestade de realidade política destelha a mansão da hipocrisia nacional.Erra-se no diagnóstico e no prognóstico. Os labirintos que conduzem aos porões onde a práxis política habita, dispensam , na luta pelo Poder, trinta legiões ou armadas heróicas, trocando os velhos métodos pela orgia dos financiamentos escusos e a propaganda enganosa, onde aquele que mentir melhor será o vencedor. Sem a espada de um Perseu moderno capaz de decapitar essa Medusa, ou de um espelho que mostre suas faces disformes, ausentes as luzes da moral e da ética, nesses porões silenciosos onde se ajustam as campanhas, ouve-se o tilintar das moedas, entre sussurros de políticos e mercadores do poder . Os Poderes Constituídos criam as estratégias legais para a lisura do pleito e buscam inibir a corrupção eleitoral pela via de um sofisticado emaranhado jurídico, onde leis e regulamentos esmiúçam detalhes a serem observados pelos candidatos e partidos políticos, com um rigor formal que certamente não encontra paralelo em nenhuma outra nação do mundo democrático. A tentativa de controlar os gastos de campanha resta inútil, pois não há como evitar-se o caixa dois, presente em todas as eleições, notadamente para os cargos executivos, em todos os níveis. Face ao furor normativo, quem ousa candidatar-se passa o seu calvário quando da prestação de contas da campanha, em razão do inferno burocrático ao qual se é submetido, sob pena de impedimento de acesso ao cargo disputado e até de inelegibilidade futura. Todos os candidatos, vencedores ou não, submetem-se às mesmas normas burocráticas . Há alguns anos venho afirmando a inutilidade deste rigor legal, que não inibe a busca de recursos infensos aos rigores da lei eleitoral, no conhecido, muito praticado e já citado “ caixa dois” das campanhas, alimentado pelo também “ caixa dois” de empresas, algumas até fictícias. No “ laranjal” que se espalha de norte a sul do País, motoristas e domésticas se transformam em milionários donos de empresas em épocas eleitorais. O dinheiro é repassado, na maioria das vezes, em espécie, diretamente ao chefe político ou liderança. Por sua vez, essas empresas de fachada fornecem recibos e notas por trabalhos nunca realizados, ou superfaturados. Diante das notícias que enchem os jornais e revistas atualmente, essas afirmações chegam a ser acacianas. Financiamento público das campanhas não vai impedir que essas coisas continuem a acontecer, só que acrescidas do dinheiro do contribuinte. Recursos do caixa dois não são contabilizados nas campanhas, por óbvio. Para impedir e diminuir os abusos do poder econômico, a única solução que vislumbro é o fortalecimento da Receita Federal, com mais autonomia, mais quadros, mais recursos tecnológicos e legais, com amplo acesso à contabilidade das empresas e pessoas físicas, mitigando-se o manto dos sigilos fiscais e bancários , mas com graves punições ao seu servidor que franquear os dados ao público ou a terceiros, aí incluídas as Polícias e o Ministério Público. Penas severas para sonegadores fiscais, como nos Estados Unidos, igualmente para agentes públicos envolvidos nessas falcatruas. Não foi o FBI quem prendeu Al Capone e desmontou a máfia americana por ele liderada, mas a Receita Federal . Se mais prestigiada, a nossa Receita Federal irá dispensar, no futuro, o catálogo de leis e regulamentos eleitorais em vigor, poupando-nos desse vexame do voto tutelado, sob o tacão de juízes, promotores e advogados. Acrescida esta medida com a instituição do voto distrital,a redução da propaganda gratuita no rádio e televisão, e o fim desse cabresto que nos obriga ao caminho das urnas, varreremos da vida nacional esses episódios lamentáveis, sempre reproduzidos após cada eleição, para descrédito das instituições.


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Por Isaias Caldeira - 4/11/2014 08:58:01
Memórias e fatos

Isaías Caldeira

Nasci no final do ano de 1959. Passei a minha infância e juventude sob o governo militar. A primeira memória que tenho da minha infância é do meu pai de prontidão,à espera do resultado das ações das forças armadas, num dia que hoje sei ser aquele em que os militares derrubaram João Goulart. Havia combinado com o fazendeiro vizinho que, caso fracassassem os militares, enfrentariam os elementos da liga camponesa à bala, mesmo sob o risco do sacifício dos familiares, incluindo as crianças, em meio às escaramuças. Vitoriosos os militares, ficamos vivos, escapando do enfrentamento armado, para a alegria do chefe da casa e nossa. Meu pai acreditava na sentença bíblica que condenava o homem a comer ao preço do suor do seu rosto, recusando qualquer forma de governo contrária a sua fé, preferindo a morte. Trabalhava desde os oito anos de idade. Fora oleiro, tropeiro,vaqueiro e conseguiu, com suor e economia, comprar um pedaço de terra, dela vivendo com a família. Devo, de certa forma, às forças armadas, o ainda poder ver a lua crescente de hoje e sei que ela esta noite “não me procurará em vão”, no dizer de um poeta persa. A minha relação com o governo militar de então, iniciada minha juventude, era de indiferença. Depois, passei a achar que a felicidade era poder cantar uma canção censurada de Geraldo Vandré, comprar um disco do burguês Chico Buarque, ou de Caetano Veloso pelado na capa, fatos que pesaram na minha contestação ao regime. De nada valia a vida tranquila, que nos permitia atravessar a cidade a qualquer hora da noite, em bandos adolescentes, sem nenhum perigo, ao não ser de algum cachorro bravo solto na rua, sem riscos de assalto ou de perda da vida por alguma bala perdida. Ninguém, do nosso grupo de adolescentes, usava drogas ou mesmo conhecia algo estupefaciente além de bacardi com coca-cola, limão e gelo, ou o famoso “ rabo-de- galo”, mistura de cachaça, cortezano e licor de pequi. Outros jovens eram mais liberais, afinal vínhamos da contracultura, que teve seu auge nos anos 60, mas eles se limitavam a um visual diferente, cabeludos, de roupas coloridas, à espera da Era de Aquário , na base do “ paz e amor” e “faça amor, não faça a guerra”. Enquanto isso, o governo militar, que duraria 20 anos, entre 1964 a 1984, cuidava de levar o Brasil da 49ª economia mundial para a 8ª posição, quando do seu término, e desde então, 30 anos depois, estacionamos no sétimo lugar no cotejo das nações. Os militares fizeram quatro grandes usinas hidrelétricas, Tucuruí, Ilha Solteira, Jupiá e Itaipu , que permitiram a industrialização do País, além de outras menores; 46 mil quilômetros de rodovias asfaltadas, incluindo Belo Horizonte-Montes Claros, Rio-Santos, Rio-Juiz de Fora, Ponte Rio-Niteroi; a transamazônica; metrôs de São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Recife e Fortaleza; quatro grandes portos; criação da Embrapa, que tirou o País da agricultura de subsistência para exportador de grãos; o Banco Central; o SFH, INPS,IAPAS,DATAPREV, LBA, FUNABEM, FGTS, Funrural; Nuclebrás, com Angras I e II ; Infraero, Polícia Federal, Zona Franca de Manaus; IBDF, BNH, SUDAN; o Proálcool ; a Ferrovia da Soja; fomos o 2ª maior construtor naval do mundo; o Projeto Rondon, Mobral; Embratel e Telebrás; Ferrovia do aço e tantas coisas mais, que é impossível citá-las sem encher páginas. O Brasil crescia até 14% ao ano, em primeiro lugar no mundo, nos anos 60/70. Tudo isso em 20 anos, mesmo tempo dos governos do PSDB e do PT somados. Falava-se de enfrentamento à guerrilhas, e como ficamos sabendo, alguns foram mortos e outros torturados. Dos que sobreviveram, muitos estão no poder atualmente. Todos os presidentes militares continuaram pobres e nem sabemos quem são seus descendentes. Em governos civis apareceram o MST, MTST, e outros congêneres, atuando em frentes ditas populares, a salvo dos rigores das leis, que em tese valem para todos. Não há mais censura, usar droga não dá mais cadeia, bolsas diversas sustentam mais de 36 milhões de famílias, e as faculdades formam milhares de doutores, especialmente advogados. A gente pode cantar qualquer canção, acabou-se a indústria da música de protesto e ficar pelado não escandaliza mais. Gays se beijam em público e até se casam; virgindade é só na oração Mariana; existe a Lei da Palmada, as leis de cotas, e outras tantas em defesa da igualdade formal, que um desavisado acharia que esta nação caminha para ser o melhor dos mundos. Da casa murada, com alarmes, concertinas e cercas elétricas, ouvem-se as sirenes do Corpo de Bombeiros e do Samu, em socorro às vítimas de uma guerra civil não declarada, nas cidades e campos, que mata 60.000 brasileiros por ano, oficialmente. Mais que isso, só no trânsito. Antes, temíamos o guarda da esquina. Hoje o medo está em toda parte. Está nos encapuzados que depredam lojas e o patrimônio público, em índios que interrompem as estradas e cobram pedágios, nos sem-terras que não respeitam a propriedade privada, no grampeamento sem controle por agentes do Estado, na bandidagem que nada teme e se organiza em facções, formando seus exércitos. O Brasil está se deteriorando, apesar da melhora na distribuição de renda. Há um certo desalento , um desgosto com o rumo das coisas. Todos queremos democracia, que não se confunde com baderna. Queremos segurança e saúde . Melhoras na educação. Bandidos na cadeia. O império da lei e governantes honestos. Não é muito, mas o suficiente para a garantia da liberdade, banindo para sempre os fantasmas totalitários, da esquerda ou direita.


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Por Isaias Caldeira - 29/10/2014 11:28:08
Engenheiros políticos e a falta deles

Isaias Caldeira

Neste momento político , com o Brasil dividido não só eleitoralmente, mas passionalmente, com um ódio entre classes sociais que beira àquelas situações extremas, onde a chama do dissenso apresenta-se como o estopim ao enfrentamento fratricida entre os nacionais, é preciso buscar os exemplos de homens que, a despeito dos métodos e das diferenças ideológicas, buscaram o caminho do consenso, num diálogo político que preservasse os interesses do País. Sei que minha abordagem pode ser polêmica, mas nunca me ative ao aplauso fácil ou tergiversei em minhas convicções, hauridas estas na permanente observação dos acontecimentos e no sentimento de justiça para com os homens em geral e dos que foram personagens da nossa história política, com destacada atuação no nosso destino. O General Golbery do Couto Silva, apodado de “ O Bruxo” por seus desafetos e “ O Mago” por seus admiradores, ideólogo da doutrina de segurança nacional, teve relevante papel no regime militar instalado no País a partir de 1964 e foi fundamental para a restauração da democracia do Brasil, com a abertura política iniciada por Ernesto Geisel e consolidada no governo do Gel. Figueiredo. Coube a Golbery o afastamento do centro de poder e isolamento dos radicais de direita, refratários às medidas liberalizantes no campo político, inclusive da anistia, construindo pontes com a oposição, num diálogo que na maioria das vezes dava-se em movimentos sibilinos, incompreendidos por muitos, longe dos holofotes e da mídia, para não despertar reações dos adversários das negociações, no caso os radicais de ambos os campos políticos, da situação e oposição. Homem de destacada cultura e imenso patriotismo, além de sua exemplar atuação política, que o fez merecer de um dos ícones da esquerda beletrista, o cineasta Glauber Rocha, o epíteto de gênio da raça, deixou-nos uma monumental obra geopolítica , onde traçava os caminhos a serem percorridos pelo País em suas relações com o mundo, especialmente a America Latina. Parcela da oposição radical tudo fez para desmerecê-lo , face ao ódio cego ao homem que era o estrategista do regime militar, não reconhecendo sua atuação serena e equilibrada, na permanente restauração dos postulados democráticos, mas de forma lenta e gradual, para não melindrar companheiros de farda “ equivocados mas patrióticos”, no dizer do então Presidente Geisel. Aos poucos, já no governo Figueiredo, implementou a anistia política e a volta de lideranças expatriadas pelo regime, possibilitando com sua atuação que a sucessão presidencial se desse dentro de um clima político tranqüilo, com a ascensão de Tancredo Neves ao cargo de Presidente da República,escolhido pelo Congresso Nacional. Nunca lhe prestaram os tributos devidos. Naquele tempo, por conta da antipatia devotada pela oposição, que via nele o maior obstáculo à conquista do poder, como ideólogo do regime, e hoje em face da prevalência do ideário esquerdista, com um nítido viés revanchista, reescrevendo a história ao seu modo, na visão dos derrotados de então e que estão ao leme da política nacional , guindados ao poder por força do voto, coroando aquelas iniciativas do velho General. Assim como Golbery, que nunca foi devidamente reconhecido por sua a atuação no campo político, guardadas as diferenças ideológicas e de estilo, também o petista José Dirceu sempre teve a repulsa de setores da oposição , por ter sido, no mandato do Presidente Lula, o mais influente político em atuação, quem de fato traçava as linhas mestras do governo, com viés de esquerda, mas sem radicalismos, bem próximo da social democracia. Ignoram que foi ele , antes mesmo de Lula ganhar as eleições em 2002, o mentor de canais de diálogos com o mercado e sistema financeiro, chegando a ir até os Estados Unidos para conversas com o governo do Presidente Bush, no que foi bem sucedido, de modo que, eleito, pode Lula encontrar-se com o americano, numa aproximação que gerou até mesmo afinidades pessoais entre ambos os presidentes. Naquela eleição, coube a José Dirceu também buscar aproximação com setores moderados do país, dentre eles Itamar Franco, ainda governador de Minas Gerais, com parcela do PMDB e outros partidos de centro-direita, através de suas principais lideranças. Instalado o governo Lula, isolou setores mais à esquerda do PT, resultando no afastamento de parlamentares e ideólogos ditos históricos, mas de viés socialista, aos moldes Cubanos. Em 2004 parte desses políticos formaram o PSTU. Em 2005, formou-se o PSOL , ambas as agremiações descontentes com o que chamavam de “ viés conservador” do governo Lula. Enquanto isso, consolidava-se uma política financeira com forte influência do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, oriundo do mercado financeiro. Com o advento do mensalão encurralando o Presidente Lula politicamente, sua atuação foi fundamental para o afastamento do seu “ impeachment”, sendo bom lembrar que Aécio Neves era citado como um dos seus interlocutores junto aos partidos de oposição, visando impedir a medida drástica, que colocaria o país, pela segunda vez, sob risco da instabilidade política, como ocorrera na época do presidente Collor de Melo. José Dirceu comandava a blindagem ao Presidente Lula, resultando no término do seu mandato e em sua reeleição à presidência. Com o julgamento do mensalão, veio sua derrocada, condenado pelo STF com base em teoria que nunca fora adotada nos meios jurídicos nacionais, a até hoje contestada “ teoria do domínio do fato”, mesmo sem provas concretas de que comandasse o esquema de compra de parlamentares. Afastou-se a necessidade de prova absoluta de culpa para a condenação criminal, contrariando entendimento até então dominante que a tinha como imprescindível. Preso, viu-se afastado do poder político, e ainda cumpre sua condenação. Lembro esses fatos para dizer que, se estivesse presente no comando do PT, certamente as últimas eleições não teriam chegado a esse estágio de guerra, de divisão do País entre “ nós e eles”, de radicalismo sem precedentes. Ele sabe que em caso de enfrentamento, a tradição conservadora do País inviabilizará o governo da Presidente Dilma, com o perigo de uma crise jamais vista, em prejuízo da Democracia. Impossibilitado de atuar politicamente, com seus direitos cassados, não se vislumbra de parte do atual governo alguém capaz de construir pontes, de um diálogo confiável com a oposição, hoje bem mais forte e articulada que antigamente. Como disse, ambos os articuladores,Golbery e José Dirceu, foram e são vítimas da disputa política, que cega os homens e só permite que acreditem naquilo que amam.


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Por Isaias Caldeira - 23/9/2014 21:13:27
Sobre a Lei Maria da Penha

Isaías Caldeira

Oscar Wilde escreveu no poema “ A balada da prisão de Reading: “ Os homens matam o que amam, seja por todos isto ouvido, uns matam com acerbo olhar, outros com palavras de lisonja, o covarde mata com um beijo, o bravo mata com punhal. Os homens matam o que amam”. Ao ver ir ao patíbulo um prisioneiro que assassinara a mulher, na prisão onde se encontrava condenado por sodomia, o poeta escreveu esta balada memorável, por guardar imperecível retrato, esculpido sob o influxo mágico das palavras, das circunstâncias que permeiam a condição humana, no paradoxo do amor que mata . O homicídio é o mais grave dos crimes, mas de natureza universal, com seu registro primitivo no assassinato de Abel por Caim, daí repercutindo em todas as gerações, até os tempos atuais. Mata-se, não obstante as leis dos homens e de Deus, no indomável anseio da supremacia do indivíduo sobre o outro, ou por simples vaidade, sob o manto do amor próprio, ou por puro desamor, que equivale ao ódio. A mão assassina, mensageira do desejo pervertido, tece os fios que moldam a realidade construída no imaginário do verdugo e levanta-se com o instrumento que esculpe a morte , seja o punhal ou bala, manchando de sangue a arena onde a vida do outro construía seu avatar. Faço esse prólogo para expor minha vivência cotidiana no universo jurídico que permeia a sociedade brasileira após o advento da chamada e aclamada Lei Maria da Penha. As intenções nobres do legislador, esculpidas na lei 11.343/06, buscam a proteção da mulher frente à violência do homem, decorrente de relações familiares ou amorosas, de modo a inibir essa prática perversa e cruel, tão recorrente na sociedade brasileira, em todas as suas classes sociais. Do proletário, passando pelo burguês, até a nobreza que alguns ostentam, com seus brasões familiares e ancestrais, o uso da força física como instrumento de persuasão, do aniquilamento moral e físico ,subjugando a mulher à vontade do agressor, é recorrente. Recebo cerca de 40 inquéritos por mês relativos à violência doméstica, com pedidos de medidas cautelares, notadamente o afastamento dos autores das proximidades das vítimas. Após entendimento do Supremo Tribunal Federal no sentido que as ações penais da Lei Maria da Penha são públicas, exceto no delito de ameaça, a mulher não pode mais desistir após feita a ocorrência policial e instaurado o inquérito. Tornou-se comum o inconformismo de vítimas com a continuidade da ação penal, porquanto a maioria manifesta-se, diante do Juiz, arrependida das providências tomadas, desejando encerrar o caso. Pesa o fato da maior parte dos casais envolvidos serem jovens ainda, e as condenações pífias recebidas pelo agressor, se não o mantém por muito tempo preso, redundam em impedimentos de aprovação em concursos públicos ou mesmo em empregos em algumas empresas, por exigência de folha corrida sem mácula criminal. Se um casal discute e há empurrões, pode se acionar a polícia e o Autor ser preso em flagrante e condenado a uma pena de alguns dias de detenção. Não chega a ficar preso pela condenação, mas passa a ser um “ ficha suja”, do ponto de vista criminal, e não mais consegue certidão negativa de seus antecedentes. Reconciliado o casal, como ocorre na quase totalidade desses casos, restam óbvias as dificuldades de emprego, em prejuízo da própria família. Mesmo no caso de lesões leves, também com pena irrisória, tornando-se crime de ação pública, de nada adianta o perdão da mulher, pois o processo independe de sua vontade. Como é de domínio no mundo jurídico, a legislação brasileira caminha para a descriminalização de delitos sem maior gravidade, com aplicação de penas alternativas para a grande maioria dos crimes, exceto para aqueles descritos na Lei Maria da Penha. Ao considerar esses delitos como de ação pública, caminhou-se em direção contrária, com o viés político prevalecendo sobre a realidade do ato delituoso, em si considerado. É evidente que algo tinha que ser feito para inibir um costume cruel incorporado na sociedade, que enxergava essas situações como algo natural, legitimando o uso da força pelo homem nas suas relações com o gênero oposto. Mas a experiência tem mostrado que, mais que simplesmente condenar o Autor, com processos arrastados e que enchem as pautas de audiências dos juízes, em detrimento da apuração e punição de crimes gravíssimos, como estupros, latrocínios e tráfico de drogas, era preciso que o legislador buscasse, primeiramente, um estudo social do casal, com orientação psicológica das partes, antes do recebimento da denúncia e instauração do processo criminal. Óbvio que ao Juiz ficaria a possibilidade de medida de força, prévia e efetiva, em caso de real ameaça à integridade física da vítima, incluindo a prisão do Autor. Mas a demagogia legiferante não tem limites. Já há projeto de lei que condena o agressor verbal ou físico ao impedimento de exercício de cargo público, com base na Lei Maria da Penha. Se matou um desafeto, pode ser servidor público. Se empurrou ou somente a ameaçou a mulher, não. É evidente que se trata de uma proposta desarrazoada. A Lei Maria da penha é uma conquista, mas não substitui a educação, orientando as pessoas ao respeito ao próximo, independente de gênero. O curioso, mas também trágico, é o incentivo de sociólogos e juristas, engajados politicamente, ao endurecimento da Lei Maria da Penha, mas são contrários ao encarceramento de bandidos por crimes muito mais graves. Não são nada Kantianos, como se vê. É preciso também que as mulheres assumam a responsabilidade de suas escolhas amorosas, afinal, desde o namoro o homem se revela. Se despótico, ciumento, possessivo, ou simplesmente violento, logo sinaliza com suas atitudes e exigências. Àqueles camaleônicos, quando se mostrarem à luz e suas realidades , sempre é possível enxotá-los, cabendo à mulher a decisão neste sentido. No mundo atual não há mais espaços para paternalismos, e o Estado, tão presente quando se trata de cobrar impostos e prender as pessoas, deve abster-se da normatização exagerada da vida, afinal o maior dos Juízes, Deus, nos legou apenas 10 artigos, em forma de mandamentos. Quanto mais leis, menos direito e justiça.



78275
Por Isaias Caldeira - 4/7/2014 15:43:23
Fim de conversa

Isaías Caldeira Veloso

Sêneca condenava a ira, porque somente aquilo que nos surpreende legitima este destempero emocional , jamais as coisas previsíveis. Quem sai de carro no trânsito caótico de nossas cidades sabe que pode acontecer um imprevisto, um abalroamento qualquer. Então, não é razoável que se enfureça, mas que mantenha a calma, pois tudo estaria dentro de um contexto,dentro das possibilidades . Faço esse prólogo em atenção ao que escrevi neste site em resposta a um policial, onde deixei de lado a natural moderação para , de forma direta, retorquir os assaques contra a minha pessoa. É o meu tipo sanguíneo, a genética de quem não suporta desaforos. Mas confesso que não me vanglorio da resposta às calúnias perpetradas . Mas dela me penitencio.No momento em que começava o jogo do Brasil contra o Chile, tomei conhecimento do texto do policial. Num átimo, sem pensar duas vezes, respondi, diretamente dentro do site “ montesclaros.com”, sem correções, sob o influxo da ira, de modo que sequer vi o primeiro tempo do jogo. Daí alguns erros de ortografia e concordância. Peço desculpas, afinal não é lógico que alguém que sempre criticou o entorpecimento da inteligência e da cultura neste país deixe de dar bom exemplo. Quem critica pode ter resposta e ser criticado. Conhecendo a natureza dos meus hoje desafetos, não poderia esperar algo civilizado, no caso, especialmente, do Delegado, embora tenha certeza que seu texto tem várias mãos, mas não digo cérebros, por óbvio. Prometendo não mais me ater a este assunto específico, sobre a tal Operação Conto do Vigário, necessito desmentir inverdades postas tanto na nota de esclarecimento de dois promotores, quanto na da Associação de Delegados Federais. Primeiro, nunca critiquei processos, nem juízes, mas os métodos dos investigadores, no caso Ministério Público , com a participação do Delegado mencionado. Sou contra a espetacularização dos atos, com a mídia adrede preparada para as filmagens e jornalistas a postos, quando das prisões. Prisões em geral por 05 dias, as tais “ prisões temporárias”, já apodadas atualmente de “ prisões para humilhações” . Sei que são decretadas por juízes, mas o que os investigadores não dizem é que formam eles uma “ tropa de elite” e fazem pressão sobre magistrados, em geral em pequenas Comarcas, apresentando números assustadores de verbas que teriam sido desviadas. Imaginem as presenças de quatro ou cinco promotores, mais delegado federal, no gabinete de um magistrado ainda iniciante no ofício, e no caso, cheio de boa fé e com vontade de servir seu país, coibindo a roubalheira, que é real. Como duvidar das palavras e números apresentados por integrantes de instituições de tamanha grandeza? Colegas já me relataram essas pressões. Os investigadores sabem que falo a verdade. Tenho provas. Ministério Público quando atua como parte deve ser tratado como tal, sem qualquer privilégio, sob pena de se desvirtuar o devido processo legal e a paridade entre acusação e defesa. Qualquer iniciante em direito sabe disso. Na operação conto do vigário, pelo que sei, anunciaram na denúncia desvio de 10.000,000,00 ( dez milhões de reais ), número impressionante, capaz de comover e convencer qualquer um. Mas nas alegações finais, naquele processo, o próprio Ministério Público pediu a condenação dos cinco acusados por desvios de R$36.000,00 ( trinta e seis mil reais ). Se assim for, quanta diferença! Claro, nenhum centavo deveria ser desviado, mas o excesso na acusação é conduta condenável, também ao que sei. Esclareço que este processo está findo, com três condenados,dentre os 16 presos, somente um com pena de quatro anos, os demais , ainda pelo que sei, com penas alternativas. Ratifico que não conheço os acusados e nem sei se estão indiciados ou denunciados em outros processos. Mas só me referi a tal conto do vigário em meu texto. Processo findo não é processo em curso. É processo terminado. Ao menos para a acusação, já há trânsito em julgado. Leiam a LOMAM com calma. Depois, pago impostos como os senhores , tenho filhos e amo meu país e a democracia. Enfim, sou cidadão. Não vou me calar quando sentir que os postulados democráticos estão sendo atacados. Não quero ditadura, sob nenhum pretexto. Já vivi sob regime de exceção. Chega! Respeito a Polícia Federal e mantenho com todos os demais integrantes da corporação um excelente relacionamento. Em verdade é a Associação dos Delegados que deveria ouvir seus pares locais, aí incluindo os policiais em geral. Parece que ele não é benquisto entre os seus. É o que dizem. Depois, temos uma Corregedoria séria, que não tolera desvios. Se entenderem, representem contra o magistrado. Como disse um jornalista russo, “ agora que os fatos tomaram as palavras, os que nada têm a dizer seguem falando, quem tem algo a dizer, que dê um passo e se cale”. É o que faço. Encerro por aqui. Vamos resolver institucionalmente a questão.


78227
Por Isaias Caldeira - 28/6/2014 14:31:34
Enfim, a carapuça se assenta.

Isaias caldeira

Poderia esperar mais um tempo para, de modo sequencial e mais substancioso, rebater insultos de um ignorante contra minha pessoa, mas como sabem, resposta tardia se assemelha aquele sujeito que, ao ouvir uma piada, somente dias depois ri. Uma coisa sei: nunca fui tolo e sei os riscos que enfrento. Como leitor do Eclesiástes, sei que não se deve manter contenda com loucos e pertubados, pois eles só acreditam no que amam. Mas não posso deixar sem resposta uma agressão, mesmo que partindo de um tipo menor, seja em caráter ou cultura. Tivessse este elemento lido um pouco em sua vida, além de gibis e letras de músicas populares que cita em seus textos,ou manuais do seu ofício, se ousasse ter mais conhecimento -afinal saber não dói e vacina para toda a vida contra a estupidez- teria ao menos deixado as generalizações de lado e apontado os fatos, de modo específico, como no meu texto eu fiz. Terá certamente a oportunidade de fazê-lo, pois já acionei o meu jurídico para que ele esclareça as acusações de prevaricação, tráfico de influência e corrupção, que assocou contra este signatário. Como já disse, se tivesse rabo preso eu não teria a ousadia de denunciar tais arbitrariedades perpetradas na região, onde este senhor, embora não seja da Justiça Estadual, tem sempre a primazia das prisões, em processos nesta Justiça. Há algo de podre no ar, e não é só o cheiro da estação de tratamento da Copasa em Montes Claros-MG. Não sou amigo de estelionatários e nunca permiti que infratores, de qualquer natureza, fizessem sala em meu gabinete. O Doutor sabe de quem falo. Vamos sinteticamente aos fatos.Apontei uma operação , a tal Conto do Vigário, cujo nome foi o delegado quem disse, onde 16 pessoas foram presas e somente 03 foram condenadas. 11 delas sequer foram denunciadas naquele processso. São fatos irrefutáveis, confirmados pelo STJ. Se foram denunciadas em outros processos, o que não sei, não implica na injustiça daquelas prisões. Se foram inocentadas naquela, é possível que sejam também em outras. Mas não as conheço e nem sei desses processos. Me atenho aos meus. Foram ouvidas pessoas no ãmbito da Polícia Federal, com presença de escrivão e promotores de ( in )justiças, sobre minha pessoa e sobre minhas relações pessoais.As cópias estão no Habeas Corpus que impetrei,onde tais promotores, no caso Impetrados, negaram intenção de me investigar, ao prestarem informações solicitadas pelo Judiciário. Acovardaram-se. São fatos. Não invento nada, ao contrário do caluniador, a quem, sem nominar em meu texto anterior, apodei de "Show Man", por uma questão de ética e respeito à instituição a qual ele pertence, mas que sinceramente não passaa de um " Bozo", com todo respeito aos que fazem da pantomima uma profissão. Digo mais, em resposta ao caluniador. Com base em um documento em que eu mesmo pedi ao TRE para me deslocar para São João da Ponte-MG, por ter sido advogado em Montes Claros e por não querer atrasar a prestação jurisdicional em processos de natureza eleitoral - pois alguém poderia alegar suspeição, que eu não aceitaria, foi deferida a permuta, sabiamente, pelos dirigentes daquela especializada. Valendo-se dessa permuta e com base no documento que eu, espontaneamente, fiz, lograram tais promotores uma decisão onde, por aquele meu excesso de virtude, foi deslocada competência para a 2ª Vara Criminal local de um processo nominado " Pombo Correio", remetendo-se os autos, com intuito, segundo a decisão, de preservar o Juiz. Até hoje, um ano depois, nada foi feito naquele processo. Estivesse comigo, já teria sido julgado, condenados ou absolvidos os réus. Da decisão caberia recurso ao tribunal. Esclareço, também, que nunca fumei charutos, até porque detesto o cheiro de tabaco. Mas invejo o gosto daqueles que se aprazem neste hábito ou vício. Tenho amigos empresários, políticos, garis, garçons e muita gente mais. Centenas, graças ao meu bom Deus. Bebo Wiskie, cachaça, cerveja, ou qualquer coisa que tenha alcóol, desde os 17 anos até esta provecta idade de 54 anos, sempre as minhas custas e sem excessos. Não me consta que isso desabone alguém.Não sou dos alcoólicos anônimos- que respeito- e nem fiz qualquer voto de abstinência. Não tenho outros vícios, somente o de amar meu semelhante e sofrer com as injustiças que pessoas más perpetram valendo-se de seus cargos e funções. O delegado não sabe o meu conceito com os presos locais e da região. Não sabe que prendi todos os líderes de facções criminosas da cidade, com medalha ofertada pelo Governador, a medalha Tiradentes, da gloriosa PMMG, com a maior produtividade em Minas Gerais.Não sabe do meu trabalho cotidiano no fórum, nesses 16 anos, sem nenhum processo ou sindicância contra minha pessoa.Não sabe porque perde seu tempo em ações midiáticas, que nem são da sua competência, mas da Polícia Judiciária do Estado de MInas Gerais, sempre escamoteada pelos acusadores e acólitos seu ,pois sabem que alí não se busca holofotes, mas a verdade dos fatos. Recebo quase 300 inquéritos por mês da Polícia Civil, com todas as suas dificuldades operacionais . Quantos inquéritos produz o delegado? Pergunte aos advogados, aos Defensores Públicos, aos Promotores que trabalharam e aos que trabalham comigo sobre minha atuação.Sem falsa modéstia, de todos ouvirá - meu Deus, devo dizê-lo!- que fui e sou o melhor com quem já trabalharam. É generosidade deles, sei,mas nenhum deles me deve nada, ao não a alegria de me proporcionarem convívio tão profícuo e respeitoso. Do doutor delegado, parece-me que seus colegas não dizem coisas assim. Por fim, para não me alongar, gastando meu tempero com carne podre, espero que o delegado tenha as provas contra a minha pessoa dos crimes que me acusou. Já me preparo para, enfim, quitar o meu carro de consórcio e comprar um apartamento, deixando de vez o aluguel de R$1.200,00, que me custa tanto pagar todo início do mês. Minhas filhas, papai vai dar a vocês aquela viagem à Disney!


78207
Por Isaias Caldeira - 25/6/2014 09:31:51
Um Conto do Vigário.

Isaias Caldeira

Depois de ser preso temporariamente ou preventivamente, apresentado nos noticiários de tvs e jornais como ladrão de dinheiro público e integrante de uma sofisticada organização criminosa, mesmo consciente de sua inocência, veja-se entrando em sua casa, onde o esperam a esposa amada, filhos, parentes e amigos. Como você olharia nos olhos deles? Após amargar dias em cadeias ou presídios, junto à marginais de toda a espécie, sofrendo o escárnio da sociedade, condenado sem o devido processo legal, destruído moralmente pela sentença precipitada diante dos meios de comunicação, em geral sedentos de notícias que elevem suas vendas ou audiências, como você se sentiria? E as vidas de seus familiares, especialmente dos filhos, nas escolas e na comunidade onde vivem, como serão doravante? Desde que me entendo por gente, sei que é preciso colocar-se no lugar do outro antes de o acusar. A isso chamamos ética. Mas ética hoje é apenas “ um nome no pântano enganoso das bocas” de mistificadores e sofistas. Afinal, é tão fácil acusar e destruir pessoas quando se bradam palavras ao gosto popular, especialmente no combate a corrupção e na necessidade de se moralizar a administração pública, que aos olhos do povo, desde que o mundo é mundo, mostra-se corroída pelos desmandos dos políticos. A tese nunca encontra combatentes, deixando aos acusadores um campo aberto para atuação, sob o aplauso quase geral , de modo que acaba se transformando- esta licença sem limites- em escandaloso abuso, levando ao cadafalso moral pessoas de bem, tantas já encanecidas e com relevantes trabalhos na sociedade, que nunca tinham pisado antes em uma delegacia de polícia. O gozo da histérica é a destruição do ser amado, diz a psicanálise. É a inveja, esse câncer que abunda nos fracassados, que impele à destruição de quem galgou alguma projeção na vida pública, numa aparente forma de nivelar a todos ao chão existencial onde vivem os salteadores da honra alheia . Pois bem, explico a minha indignação, que não é atual, mas repetida à exaustão aqui desde alguns anos,desde a primeira barbárie levado a cabo pelos contumazes discípulos de Torquemada. Como foi noticiado anos atrás, realizou-se uma operação policial em cidade ribeirinha, na nossa região. Dezesseis ( 16 ) pessoas foram presas e apresentadas como ladrões de dinheiro público, diante de câmaras de tvs e jornais, tendo como “Show Man” um policial, circundado por integrantes do Ministério Público, todos eles apresentando os prisioneiros como troféus, afinal aqueles homens e mulheres roubariam verbas destinadas à pobreza, ao serviço público, num país onde tudo falta e as pessoas morrem em filas de hospitais. Sucesso midiático infalível, a causa é nobre. Em sua fala diante dos holofotes, a autoridade policial busca comover a população, fala dos filhos e do prazer da missão cumprida, de olhar nos olhos de seus rebentos, após prender os malfeitores, com o orgulho de um servidor cumpridor de seus deveres. Acesa a fogueira pública onde arderam vidas e honras, vem a Justiça, mesmo que tardia, a absolver quase todos os acusados, inclusive em instâncias superiores. Pasmem, a própria Acusação somente denunciou 05 ( cinco ) daqueles presos, de modo que onze pessoas foram execradas publicamente, para todos os séculos, nas redes sociais ,TVs e jornais, postas algemadas e com roupas de presidiários, e depois sequer foram denunciadas pelo Ministério Público. Somente 3 ( três ) foram condenados, ao final do processo, dentre os cinco que foram denunciados. Trânsito em julgado da decisão, ao que consta. Não conheço nenhum desses infelizes brasileiros, vítimas dessa barbárie praticada por agentes do Estado, o que me autoriza a crítica e indignação. Em geral os acusadores sabem que as pessoas são inocentes, mas prendem porque querem alguma revelação sobre aquele que pretendem condenar, o verdadeiro alvo da operação. Tal prática já foi até denunciada em matéria no jornal Folha de São Paulo, e naquele estado da federação também ocorre. Assusta a omissão da OAB, que tem uma história de luta contra o arbítrio, diante dos abusos sistemáticos perpetrados na região por tais autoridades. Que as vítimas busquem reparação na mesma Justiça, contra todos. De minha parte, que nunca tive rabo preso e nem cultuo falácias, por mais que estejam enfeitadas com guizos de virtudes , saibam que vou continuar esperneando, no meu ofício solitário neste campo de idéias, afinal quero viver numa democracia verdadeira, onde os agentes públicos submetam-se ao império da Constituição, vedando-se os abusos, com severa punição àqueles que desvirtuam os fins das leis e dos cargos que ocupam. Não há amor e justiça em quem tolera o mal. A punição de um inocente agride toda a humanidade, e o demônio do arbítrio tem o vezo de instalar-se onde não o repelem. Vade retro Satana!


78145
Por Isaias Caldeira - 16/6/2014 23:12:09
Os revisionistas

Isaias Caldeira

Após brasileiros manifestarem-se nas redes sociais em apoio ao regime militar deflagrado no ano de 1964, certamente mais por desespero do que saudades daqueles anos, em face de uma guerra civil não declarada, que mata mais que em países do oriente médio oficialmente em conflitos, da anarquia reinante e do descrédito generalizado nas instituições,os detentores do poder e seus guardiões se alarmaram. Buscam, então, reescrever a história impondo, pela via da repetição midiática, teses fantasiosas em que terroristas e assaltantes de bancos se transformam em heróis , na defesa da liberdade e da democracia,em contraposição a um governo que perseguia esses bons e bem intencionados brasileiros. Seqüestros, assassinatos seletivos, assaltos a bancos e outros crimes, sob a premissa da ausência de liberdade política, justificariam os métodos revolucionários, o enfrentamento pela via da luta armada. Mas o que queriam eles, afinal? Certamente nunca foi a restauração da liberdade, mas seu aniquilamento definitivo, como fizeram seus camaradas na antiga URSS, em Cuba, na Coréia do Norte, China e agora com esses aprendizes de ditadores que emergem na Venezuela, Bolívia, Equador e outras repúblicas latino-americanas. Engendram a destruição da classe média, que detestam e têm como óbice aos seus propósitos, enquanto deixam o grande capital financeiro auferir lucros astronômicos, conquistando sua confiança,como o pescador que ceva o peixe para depois fisgá-lo. Arrivistas delirantes, destroem crenças e sentimentos que nos identificam como nação. Espalham a cizânia e a secessão entre os brasileiros,dividindo-nos em brancos exploradores e negros e índios escravizados, para manterem-se poder pela via do dissenso entre os nacionais. Buscam a desinformação para confundir o povo e a grande imprensa se submete aos desejos dos revisionistas. Daí o surto apoplético da mídia contra governo militar que se instalou no Brasil há 50 anos , malgrado a justiça de algumas críticas,mas omitem-se as conquistas em todos os setores da nacionalidade, na infra-estrutura , com estradas e serviços de telecomunicações, com a alfabetização e assistência ao homem do campo, notadamente a sua inclusão no sistema previdenciário, que revolucionou o comércio nas pequenas cidades e grotões deste país.Esquecem-se que os mandatários daqueles tempos nunca tiveram seus nomes envolvidos em falcatruas, indo à eternidade pobres, deixando descendência de quem sequer sabemos os nomes, se vivos ou mortos. Afinal, como se chamam ou fazem os filhos de Castelo Branco, Costa e Silva, Médici, Gelsel e Figueiredo? Quanta diferença dos dias atuais! Exaltam guerrilheiros de ontem e execram os governos militares, numa generalização perniciosa, de santos guerreiros contra demônios, como se todas as forças armadas fossem partícipes de um império do mal e estivessem diretamente envolvidas nos excessos ocasionais daqueles tempos. A insegurança atual nas cidades e campos, com a disseminação das drogas e aumento da criminalidade, a corrupção generalizada, o aparelhamento da máquina pública por partidos políticos, o enfrentamento entre milícias camponesas e produtores rurais , o desrespeito à propriedade privada, com invasões de imóveis urbanos, o fechamento do espaço público por grupos de desordeiros, em prejuízo do comércio e da circulação de pedestres e veículos, dão aos brasileiros a sensação de caos generalizado. Os desordeiros de hoje aprenderam as lições daqueles que sempre pregaram a desobediência civil, daí as ofensas públicas às autoridades, o desrespeito puro e simples,grosseiro e vulgar, sob os olhos do mundo . Assim, qualquer ação que restaure a ordem pública e devolva a paz aos brasileiros, torna-se válida ao olhos da população acuada. Ostensivamente buscam transformar este país rico e pacífico numa república “ Lamarquiana ou Maringeliana”, cópia da desventura vivenciada pelo bolivarianismo catastrófico da Venezuela. Comitês populares são criados para a gestão do patrimônio público, sem prejuízo de avançarem, querendo, sobre a propriedade privada. Vão, sob os augúrios das lições Gramscianas, “ comendo pelas beiradas”. Mas, por certo, não passarão. Os brasileiros saberão manter, pela via da legalidade, a nossa unidade territorial e convivência étnica, esta indez dentre as nações do mundo, revigoradas pela ação de mandatários compromissados tão somente com o progresso e felicidade do nosso povo , dentro de uma democracia real, sob o império da lei e da ordem, na paz que merecemos.


78125
Por Isaias Caldeira - 11/6/2014 12:58:03
A sedução do mal

Isaías Caldeira

Após jejuar por 40 dias no deserto, Jesus foi tentado pelo Diabo com a oferta das riquezas da terra, honra e glória, se lhe prestasse vassalagem e fidelidade. Como é de conhecimento dos Cristãos, o Messias renegou-lhe culto e submissão, mantendo-se fiel ao Pai, não obstante já soubesse o suplício que o aguardava como Deus encarnado, senhor do tempo e ciente de seu calvário de cruz. Ele sabia que a verdadeira riqueza estava no plano espiritual, e que os bens deste mundo tinham valor efêmero, submetidos todos eles as inflexões do tempo e espaço ,até a libertação das peias da existência material e do desejo que nos une ao que o acaso nos emprestou na vida, às coisas que conquistamos, que temos como nossas propriedades e que nos impulsionam cotidianamente: os bens materiais, nossos afetos, amores e certezas. Quando Jesus recusa os bens materiais ofertados, sinaliza a supremacia da alma, perene elo com a eternidade,atributo Divino, em contraposição ao que é perecível, ao momento que nos consome fisicamente e cujo somatório ao final resulta no que fomos, do que de nós permanecerá na memória da posteridade, nessa intricada construção social que nos torna a todos necessários, alinhavando e dando colorido ao multiforme tapete da vida. Nem só de pão viverá o homem , sentencia a mensagem salvídica, alertando para as coisas espirituais. Afinal, nem pão nem circo impediram as ruínas de impérios, como registra a história. Esquecidos disso, governantes teimam em repetir os mesmos métodos, tentados pelo aplauso fácil e manutenção do poder temporal, ignorando que o desejo humano tem o céu por limite, que aquele pouco recebido com alegria e agradecimento hoje, amanhã estará incorporado ao patrimônio do beneficiado como um direito seu e obrigação do Estado. O que era para acudir a fome, já não serve mais, afinal quem recebe o almoço passa a querer também janta e sobremesa, e assim sucessivamente. Esgotados os recursos públicos e a capacidade de atender as novas demandas populares, caminha-se para a sedição, para as revoluções que destroem impérios, levando ao cadafalso ou prisão governantes pouco antes endeusados. A história sempre se repetindo. No Brasil atual, criou-se uma nova forma de aposentadoria precoce, através dos programas assistenciais, pois quem é inserido nas tais bolsas, ali permanece, sem previsão de mudanças, no gozo pleno do ócio , sob sustento dos impostos dos que trabalham e recolhem aos cofres públicos, para o proselitismo caridoso de mandatários ocasionais. Por migalhas, compraram o sentimento de nacionalidade, perdendo-se uma das nossas melhores características, a cordialidade, como demonstram a violência e desrespeito para com pessoas e patrimônios, na fúria devastadora de baderneiros que integram movimentos ditos sociais e que infernizam as cidades e campos. Nada respeitam e ninguém os pune. Chantageiam o governo publicamente, até serem recebidos e atendidas suas demandas. O custo das benesses é bancado pela outra parcela da população, a que trabalha e sustenta o país. Nas periferias das cidades, mulheres jovens e obesas sentam-se às portas de suas casas, vendo o tempo passar, enquanto cuidam da multiplicação da espécie, afinal um Brasil carinhoso incentiva a parição irresponsável. Na zona rural, cada parto é contemplado com quase três mil reais, além de parcelas sucessivas de quase duzentos reais. Trabalhar virou coisa do passado escravagista. Deus em breve será julgado por conselhos populares e condenado, certamente, pois é dele a lei que impôs ao homem a obrigação de comer o pão com o suor do seu rosto, o que é, nestes tempos de perplexidades, a legitimação da exploração capitalista. Neste deserto moral e ético, que avança sobre o Brasil, o Demônio busca estabelecer o seu reinado. Aos brasileiros cabe resistirem ao mal.


77858
Por Isaias Caldeira - 29/4/2014 23:11:23
Os nossos mortos.

Atravessado certo período da vida, vamos nos especializando em ossários, nas tratativas memoriais que mantemos com aqueles que nos deixaram, levando consigo parte de nossas vidas e do que somos. Após os cinqüenta anos, como é o meu caso, enterrados os pais, alguns irmãos e tantos parentes amados, além de incontáveis amigos, é de se esperar algum alheamento, uma certa aceitação do inevitável, tal o ofício dos sobreviventes na dolorosa e contumaz prática dos rituais fúnebres que a vida nos obriga. Mas não há como desnaturar a dor a perda, do impossível reencontro com o ente querido, agora guardado nos escaninhos das nossas recordações, não mais como ser ativo, mas como elemento subjacente da nossa história pessoal, personagem de algum feito, de alguma experiência em comum, para sempre no passado. O Livro da Sabedoria recomenda tirar o luto após trinta dias, pois breve será nossa vez. Mas a lacuna deixada pelo falecido lateja, às vezes por toda a vida. Quando ocorre do finado integrar o rol da infância ou juventude, compartilhando momentos que somente sua pessoa foi testemunha, seu passamento rasga páginas da vida, órfã da chancela de sua presença, perdida a partitura em comum, as aventuras vividas, para sempre nos condenando à solidão da memória. Apenas o testemunho solitário da nossa consciência permanece intacto, mas sem o lastro convivente, sem a sua amálgama necessária , a nós mesmos dando a certeza do ocorrido, face às artimanhas da memória, que as vezes se perde em seus labirintos. Os que vivem muito sofrem desta solidão nostálgica, não encontrando com quem compartilhar suas vivências, notadamente da mocidade. Aos mais jovens, um turbilhão de acontecimentos no presente não deixa espaços à nostalgia dos velhos, sequiosos todos do desfrute do tempo que passa, sedentos de vida. Olham para a frente e vêem a vastidão do porvir, enquanto os mais velhos olham o passado e sabem que tudo é fugaz, relampejante. O calor do fogo de ontem ainda aquece a alma, e não raro nos surpreende com sentimentos e emoções distantes no tempo, incandescentes à menor lufada do vento antigo, como um sopro nos corações encanecidos, e que chamamos de saudade. Paradoxalmente, no nosso inconsciente está assente que a morte é libertadora, daí a pulsão - tema tão recorrente em Freud - que conduz o indivíduo ao seu encontro, mesmo negando em palavras aquilo que confirma em atos, materializando-se nos nossos vícios como ofertórios no altar a Thanatos. A prova cabal de nosso apreço e respeito à indesejada mostra-se patente no repúdio àqueles que, mortos, ousam acordar deste sono, seja subitamente, durante as exéquias, ou por obra de algum milagre. Imaginem Lázaro, após quatro dias de sua morte, apresentando-se diante das pessoas. O terror de imaginá-lo diante de sua amada, dos amigos, da sociedade enfim. Pobre Lázaro ressurreto, sem saber ao certo o seu espaço, perdido no tempo, cadáver adiado, refém do escárnio dos contemporâneos, não obstante o milagre de sua ressurreição. A morte sempre será um mistério insondável. Dela falo neste espaço para lembrar-me de tanta gente querida que perdi nesses últimos meses. O último foi amigo de infância. Companheiro de bairro. Gente humilde, como todos nós, moradores próximos da linha férrea que corta os bairros Roxo Verde e Lourdes. As malinezas da infância ainda verberam na memória, aliadas às brincadeiras ingênuas dos meninos daqueles tempos inocentes. Tudo tão ontem! Ainda lateja o sangue do menino que desmaiou na linha férrea e foi atropelado pelo trem , com seu corpo esquartejado recolhido diante de nossos olhos infantis, tingindo de vermelho as pedras e dormentes. A dor da velha que perdeu uma perna naquelas linhas, de propósito, apenas para vingar-se de um filho com quem se desentendera horas antes, ecoa em gritos na nossa memória. Também as brincadeiras de finca, de bafo, porta-bandeira, do futebol de rua, de brigas entre “trincas”, de todas essas coisas que moldaram nosso caráter, forjados ludicamente, desapegados das didáticas que nos impõem ao longo da vida, quase todas elas com o propósito de perpetuarem a infelicidade dos apedeutas que ditam regras e costumes no mundo. Nesse ambiente, vivenciei com Natalino, morto recentemente em acidente de carro, as alegrias suburbanas de então, que a memória agora evoca de forma pungente, saudosa de sua presença e do seu testemunho dessas coisas simples. Acima de tudo, da amizade inocente que permeia as relações infanto-juvenis, do pacto firmado e selado sem a nódoa da inveja, da disputa e da hipocrisia, cimentado na confiança que há entre meninos, e que os adultos tem o vezo de esquecer, presos aos grilhões de seus desejos, à escravidão ao poder, político ou financeiro. Natalino morreu sem deixar patrimônio material, que eu saiba. Mas deixou muitos órfãos entre a gente simples, e era comovente ver o choro coletivo sobre seu esquife. Insondáveis são os desígnios de Deus, a quem submetemos nossas vidas. A ausência de Natalino dói como uma chaga viva, mesmo na certeza de que ele, discípulo de Nossa Senhora Aparecida e apostador contumaz, por certo deve estar a fazer uma fezinha no jogo entre o bem e o mal, nesta peleja entre Deus e o Demo, apostando suas fichas na vitória do bem, no xeque-mate do Criador no dia do juízo final.


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Por Isaias Caldeira - 18/3/2014 17:33:29
Cidadania sem violência.

Minha filha mais velha estuda arquitetura em Belo Horizonte, numa das melhores faculdades da cidade, em bairro central. Há mais de um mês vem me ligando apavorada, em prantos mesmo, diante da violência que invadiu as cercanias daquele espaço estudantil . Nos últimos meses contabilizaram-se ali três mortes de jovens, incluindo-se alunos, vítimas de assaltantes, quase todos os algozes menores de 18 anos . A legislação tupiniquim tipifica tais ações criminosas como “ atos análogos ao crime de latrocínio”, num eufemismo que só a lógica perversa incrustada no âmago dos nossos legisladores consegue sofismar, na tentativa de convencer o mundo que o bandido com 17 anos, onze meses e 29 dias de vida, tem menos tirocínio que aquele que completou 18 anos no dia anterior ao ato criminoso. Deram aos maiores de 16 anos o poder do voto . Podem influenciar nos destinos da nacionalidade como eleitores. São cortejados pelos políticos, que lhes imputam inocência pueril quando cometem crimes graves, mas ressaltam o amadurecimento quando buscam legitimar a condição de eleitores. O paradoxo desafiaria o filósofo Zenão, pois a flecha dos interesses políticos se move segundo leis próprias, onde prevalecem a conveniência eleitoral e a demagogia.Conta, também, a influência nefasta de sociólogos engajados e militantes, que unem-se na defesa da bandidagem mirim, com os argumentos já por demais conhecidos,repetidos à exaustão, de modo que ninguém mais se preocupa em desmenti-los e, consequentemente, tornam-se verdades, haurido o vezo na lógica do nazista Goebels. As leis penais já não são feitas sob o influxo inteligente dos juristas, mas impõem-se pela força e barulho desses militantes políticos incrustados em Ongs , Ocips , nas cátedras de universidades públicas e partidos radicais, que fazem valer seus propósitos diante da fragilidade intelectual e moral dos nossos representantes políticos, com exceções óbvias. Ser minoria não lhes retira o destemor, pois o poder legislativo brasileiro é um gigante com pés de barro, não aquenta tranco ou pressão , movendo-se ao sabor das ondas, reais ou fabricadas. Pauta-se o legislativo pelas mentiras daqueles que se dizem vítimas do sistema e que buscam suas vindictas através da destruição do “ status quo”,aniquilando todos os que foram ou são empecilhos à construção de um regime socialista neste território brasileiro. Pautados nas estatísticas construídas sobre números fabricados e fantasiosos, em teses falaciosas, legislam sem preocupação com a nacionalidade, destruindo com suas leis valores e crenças que sempre nos marcaram e que nos identificam, de tal modo que aos poucos o País vai se transformando em guetos,dividindo os brasileiros. Ali, território quilombola, acolá indígena, noutro, área de sem-terras , ou sem-tetos, vedando-se, inclusive, o acesso a quem não for da turma. Há direitos a serem conferidos, mas os excessos são evidentes. Sofismam os demarcadores de cidadanias, e até alguns que não comungam com o ideário socialista, à míngua de maior conhecimento da matéria ou dos fatos, se põem de atalaia como sentinelas na defesa das teses descabidas dos fariseus, que usam as palavras liberdade e democracia como se as cultuassem, como arrimo aos seus propósitos ocultos. Tais valores são diametralmente opostos à prática incrustada nos regimes totalitários de esquerda,onde o que conta é a coletividade, sem oportunidade de expansão da individualidade, e o cidadão é mero instrumento ou peça de engrenagem do núcleo social, sem direito à construção de sua subjetividade, à expansão de sua vontade pessoal. Enquanto isso, menores e maiores matam mais que na Síria em guerra civil, encurralando os brasileiros honestos, que se fecham com concertinas e cercas elétricas sobre muros residenciais, fazendo do País o único no mundo em que tais aparatos são tão disseminados entre ricos e pobres, e os políticos se omitem.É preciso reagir. Oportunizar ao Judiciário reduzir a maioridade penal em casos de crimes graves é uma das medidas urgentes, mas nada será feito sem a mobilização dos verdadeiros trabalhadores, dos que constroem o Brasil com seu labor, tomando o espaço que é seu , hoje ocupado por diletantes políticos,minoritários, que só vêem seus interesses subalternos. Por tudo isso, para tranqüilizar meu rebento na capital distante, mas sem meios de remediar materialmente sua proteção, recomendei-lhe rezar os salmos 23 e 91, afinal, em matéria de segurança no Brasil, só contamos atualmente com a proteção Divina.


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Por Isaias Caldeira - 11/2/2014 09:33:48
Democracia não é baderna

Isaías Caldeira *


Esses elementos que saem às ruas em protestos estão brincando de revolucionários. Viram filmes e reportagens sobre os anos 60/70 do século passado e acham que devem repetir aquelas passeatas da Une e dos sindicatos contra o regime militar. Mas as fazem como pantomima, sem um ideário a ser alcançado, por simples balbúrdia, pelo gosto único de manifestar-se contra o que sequer definiram , sejam centavos de aumento em qualquer tarifa ou a copa do mundo, ou coisa alguma. Ao contrário do passado, estamos hoje em uma democracia, onde o voto livre substitui a força bruta na alternância do poder , de modo que este é exercido por meio da vontade popular, em eleições democráticas, com a participação de todos os grupos políticos, de todas as orientações ideológicas. A bizarrice da situação seria cômica, não fossem os resultados até aqui apresentados, onde depredações do patrimônio público e privado, a violência contra pessoas e o desafio às autoridades e ao aparato da segurança pública, dão a dimensão da estupidez dos manifestantes, sejam mascarados ou não. É certo que os mascarados integram grupo organizado, de natureza anarquista, que prega a destruição de todos os valores que sustentam a sociedade atual, com o aniquilamento das instituições e do próprio estado. São inocentes apenas nos seus propósitos, de todo irrealizáveis, fruto da desocupação das coisas úteis, do ócio em que vivem. Sem sustentação intelectual, nulos de conhecimentos, sob o influxo do peso da liberdade a que estamos submetidos e que nos torna senhores de nossa história pessoal , são os fracassados em busca de uma justificativa externa para suas angústias, e não querem mudar o mundo, mas destruir o que está feito para nivelarem as coisas ao chão em que arrastam suas existências. São violentos, pois falta-lhes discernimento para o diálogo, e a ignorância recomenda o embate físico, avessa aos ditames da racionalidade. Outros participantes desses movimentos são integrantes de partidos nanicos, com as velhas palavras de ordem da esquerda ancestral e caduca, que hoje somente serve como passaporte a algum cargo público, afinal esta gente não sabe sobreviver sem um emprego de terceiro ou quinto escalão ou se acomodar em algum sindicato. Só não querem é trabalho sério, com jornada certa e de alguma utilidade pública. Querem tirar proveito político da onda, com suas bandeiras escarlates, com os mesmos integrantes desfilando as velhas caras de sempre, e os mesmos discursos decorados de tanta repetição nestes últimos 30 anos de democracia. Os demais participantes são cooptados nas redes sociais, entre jovens da periferia e alienados políticos que alçaram à classe média ou estão próximos , em geral alunos medíocres nas escolas que freqüentam, todos com seus celulares na mão, teclando inutilidades, num diálogo que dispensa o uso de neurônios , construído à base de instintos e hormônios. Formam eles o caldo que entorna nas ruas das cidades grandes e médias, sob o olhar de uma sociedade amedrontada e desamparada, inertes as autoridades garantidoras da Constituição Federal, que se negam a cumprir com suas obrigações , extirpando a semente da secessão social que ameaça inviabilizar o País . Com a polícia acuada, receosa de agir, pois teme ser apontada na mídia como responsável pela violência , quando apenas estaria cumprindo o seu papel Constitucional de defender a sociedade da ação desses vândalos , chegamos pouco a pouco à beira do abismo institucional, sem lei e sem ordem , num estágio de desobediência civil nunca visto antes, onde se agrega a violência patrocinada por criminosos em geral, numa guerra onde a vítima é sempre a população trabalhadora. Há 50 anos o cenário nem era tão grave e deu no que sabemos e vivemos. A história sempre se repetindo. Pedro Nava tinha razão, a experiência é mesmo um carro com os faróis para trás.

* Juiz da Vara de Execucões Criminais na Comarca de M. Claros


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Por Isaias Caldeira - 12/1/2014 21:42:05
Maranhão: a bola da vez

Isaias Caldeira

No campeonato nacional de hipocrisia, os críticos da família Sarney disputam, cabeça a cabeça, quem atravessará a linha do absurdo à frente, com as apostas naquele que tiver o nariz mais comprido, à semelhança de pinóquio. Senhores cronistas políticos, tomem tenência, ninguém, em perfeita sanidade mental, deixa o poder por vontade própria, e é natural o desejo de perpetuação no centro político-administrativo. O grupo do ex-presidente FHC tinha planos de 20 anos de PSDB no poder. O PT, a face um pouco mais à esquerda do PSDB, também alimenta os mesmos sonhos, e parece que caminha para os 16 anos, com pretensão de atingir a meta sonhada do antecessor. Em São Paulo, de Covas até Alkmim, o mesmo grupo já domina a política há 20 anos. Por que essa birra com a família Sarney? Ah, eles são nordestinos e então são todos corruptos! Como se o sul maravilha não estivesse no comando do País desde que isto aqui virou Brasil. Como se no sul, de Minas para baixo, não fosse do mesmo jeito. Nas terras Gerais, o PSDB já atingiu a maioridade no poder. As mesmas pessoas ditam os destinos do Estado. Não vejo críticas sobre isso. O sobrenome Sarney não implica domínio de uma família, mas de um grupo político. Poderia ser a família Neves, Alkmim, Serra. Nunca estão sozinhos, mas agrupados politicamente, onde aquele de maior prestígio lidera, sempre atento aos interesses dos demais integrantes. É a democracia, com todos os seus dilemas, mas o melhor sistema político conhecido. Sarney, o patriarca, foi essencial na transição democrática, negociando com Tancredo nos bastidores. Foi um presidente da república tolerante, suportando os insultos desrespeitosos de Collor, então caçador de marajás. A imprensa era livre e o processo político teve continuidade, com uma nova Constituição em seu governo. Mas a mídia do sul nunca fala sobre isso. Não sou admirador dos Sarney, mas respeito o José, patriarca, porque sei que na democracia que ele ajudou a construir, as pessoas de lá, do Maranhão, votam neles porque gostam e eles devem ter feito algo de bom para permanecerem no poder por todos esses anos. Quanto aos presídios Maranhenses, eu os enxergo em todas as masmorras nacionais, com presos de norte a sul defecando uns sobre os outros em celas medievais. A violência nesses antros decorre não somente da promiscuidade em que vivem os presos, mas principalmente do domínio dos presídios por organizações criminosas, que fazem ali suas próprias leis, onde a pena capital, por enforcamento, decapitação ou qualquer outro meio cruel, após torturas escabrosas da vítima, é a forma de controle do grupo sobre os demais condenados. Há 15 anos venho afirmando que a matriz do crime é São Paulo, onde o PCC comanda todos os presídios e de lá exporta seus métodos para todo o Brasil, ramificando-se. Até mesmo nas cadeias do interior os detentos são “ batizados” por elementos oriundos de São Paulo e que são presos quando em ações criminosas em outros estados. Sei o que falo. Sou da área e atuo em Vara criminal. O diabo, nestes tempos, é que os pinóquios mentem as verdades que pautam a vida nacional, e escondem seus narizes colossais sob o manto das boas intenções, esta lona do grande circo brasileiro, onde todos querem ser os artistas, quando não passam, em sua maioria, de “mata-cachorros”- o cara que faz a guarda do lado de fora da lona.


(Nota da Redação - O autor é Juiz da Vara de Execucões Criminais na Comarca de M. Claros)


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Por Isaias Caldeira - 11/1/2014 19:50:14
Por sete anos Gilmara foi minha assessora jurídica. Tinha 36 anos e muitos planos, próprios e para as duas lindas filhas, tão lindas quanto ela, Gabi e Doti. Estávamos ambos em gozo de férias. No dia 07 deste mês retornaríamos ao trabalho. Conversamos no domingo à noite, por telefone. Estava gripada, mas animada, e me disse que tomaria uns chás e que estaria bem na terça. Muito trabalho nos esperava. Fez mingau de milho verde para levar para Bocaiúva, terra de sua família. Na segunda amanheceu bem, mas no mesmo dia à tarde sentiu-se mal. Uma irmã a levou à Santa Casa. Não conseguindo respirar, foi para o CTI. Pneumonia dupla. Na terça os rins pararam. Já inconsciente, respirando artificialmente, deixou de responder aos medicamentos. Na quarta feira, infecção generalizada. Quinta feira, por volta do meio dia, seu coração generoso deixou de bater. Foi para a eternidade e ficamos mais pobres, sem sua amizade, sem sua presença zeladora. Ficaram órfãos, além das filhas, os infelizes que passam pelas salas de audiências das varas criminais e depois amargam as agruras do presídio, aos quais ela devotava todas as suas forças e energias, anotando suas súplicas, reportando-as a mim e até a colegas juízes, para as medidas necessárias. Sentia-se responsável por todos os familiares de presos que batiam às portas do nosso gabinete e a todos ouvia, ciente das carências a que ficam submetidos sem o sustento pelos encarcerados, especialmente os infantes nascidos em berço estigmatizado pela miséria e pela condenação penal de ascendente. Nada tinha nas mãos que não fosse para repartir. Acreditava na reincarnação, Kardecista que era. E se assim for, deve estar nascendo, em algum lugar do mundo, um lótus feito gente, calmo e tranquilo, posto em meio às águas turbulentas do rio da vida, como sinal de que a obra continuará e que haverá sempre, em todos os tempos e lugares, pessoas com a missão de cuidar de outros, no exercício de cotidiana caridade, a mais pura manifestação do amor. Mas, sabe-se lá, talvez queira o Criador mantê-la consigo, assessorando-O nos pleitos dos homens aqui na terra, ouvindo suas preces e reportando-as ao Pai, no gabinete celeste, onde nossas ações encontram-se processadas, à espera da sentença que merecemos e que nos será dada pelo maior dos Juízes. Fique em paz, Gil, e obrigado por fortalecer a minha convicção que só o amor conduz à Justiça.



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Por Isaias Caldeira - 21/12/2013 16:25:11
Nunca alimentei a esperança do homem bom de Rousseau ,corrompido em sua inocência pela sociedade. A maldade nos é inata, mas a civilização impôs frenagens aos nossos instintos ancestrais, mitigando ou domesticando nossas naturais inclinações à barbárie, ao aniquilamento do outro motivado por nossos pendores egoísticos. O mal, entretanto, lateja em nós, e é contra este demônio interior que travamos a nossa luta mais renhida, de tão difícil êxito que nominamos santos aqueles que conseguiram domar seus desejos , aplacando em si a semente das ambições mundanas. O Budismo chama de nirvana este estágio espiritual. O Cristianismo, ao sinalizar desapego material e busca de uma vida eterna, de caráter espiritual, vai pelo mesmo caminho do preceito budista. Conseguimos, apesar de todos os ingredientes contrários, chegarmos ao estágio civilizatório atual, mesmo ao custo de guerras, de terrorismos de todas as espécies e da melancolia geral. Mas é preciso atenção permanente. Nunca deixar de se indignar com o mal, com a imensurável capacidade do exercício da torpeza e da hipocrisia em sociedade .Mas é preciso compreender a luta pela sobrevivência e seus excessos, o que não significa aceitá-los. Enfim, a luta por espaços numa sociedade consumista e hedonista fomenta o enfrentamento. Todos querem a felicidade pessoal, como se fosse possível encontrá-la em um ambiente socialmente desigual , onde se come em restaurantes rodeado de pedintes que, em geral enxotados, nos aguardam nas esquinas para nos tirar um naco de patrimônio, quando não a vida. Certo é que, mesmo atribulada e com todos seus reveses, a vida vale a pena. Vale principalmente se for vivida de modo consciente, sabendo que a caminhada tem início e fim, mas que no caminho é possível compor a paisagem, dando-lhe nuances e coloridos pessoais, no fazer cotidiano de cada um. Não é preciso despojar-se de bens materiais, nem ser sábio ou asceta, mas tão somente lembrar-se quer ninguém vive sozinho e que em sociedade caminha-se mais facilmente de mãos dadas, e por isso a alegria do outro é uma necessidade. Afinal, não há nada mais desagradável que a companhia de alguém alquebrado pela tristeza, infeliz. Sentir a dor do outro e se colocar em seu lugar são requisitos para uma boa convivência, ciente que a tolerância é uma das maiores virtudes humanas. Como disse um velho índio norte-americano, que não se julgue um homem sem andar sete luas com suas sandálias. Fundamentalmente, é preciso amar. Sem medo e sem limites, pois este patrimônio aumenta na medida em que é distribuído. Há algo melhor e mais gratificante que ser útil a alguém na prestação de um obséquio, de suprir uma lacuna com uma ação desinteressada? Humanidade é isso, são esses laços que tecemos e que formam as imagens das nossas vidas, do que somos e do que aqui deixaremos quando, já alheios à voz do mundo, tornarmos-nos tão somente a vaga lembrança de algum gesto bom na memória de uns poucos. Não há tempo a perder, a areia da ampulheta vaticina o fim do percurso, da jornada de cada um, e a messe anseia por mãos desprendidas e laboriosas. Também é preciso arrostar os medos, afinal todos eles são filiais do ancestral medo da morte, e a história não prescinde de homens que, mantendo a prudência, ousam enfrentar os desafios, construindo pontes sobre abismos da ignorância e do mal, criando um porto seguro aos novos caminhantes. Neste natal que se avizinha, muito mais que dar presentes , que a semente da verdade brote em cada um de nós para, alheios às paixões momentâneas e ambições pessoais, cumprirmos o desiderato do Crucificado, que deu sua vida como sinal de amor aos homens,mesmo posto sob o suplício dos ferros que lhe atravessaram as carnes, mas não violaram seu coração incorruptível. Feliz Natal e próspero ano novo a todos os homens e mulheres do mundo!


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Por Isaías Caldeira - 16/7/2013 18:01:44
Os Corvos.
Isaías Caldeira

O procurador Luiz Francisco de Souza, algoz de Eduardo Jorge, assessor do ex- Presidente FHC, e implacável perseguidor do governo tucano, encontrava um culpado por semana, nas palavras do jornalista Augusto Nunes. Com sua aparência adunca, seu biótipo era de um corvo, aquela ave que Edgar Allan Poe imortalizou no mais extraordinário e perfeito poema que a Inteligência humana já concebeu, cuja perfeição rítmica ainda não encontrou par, titulado com o nome da gralha negra que a crendice associa aos vaticínios mais sombrios. A noite, na janela de infeliz amante, pousou a ave preta, e inquirida a Agourenta a anunciar mensagem da amada que partira desta vida, insistia em resposta monocórdia às suas esperanças, à todas elas retorquindo: “ Nunca Mais”. Mas sua manifestação na realidade brasileira não tinha nenhuma poesia e não batia à janela de personagem fictício. O corvo ostentava insígnia de uma instituição séria, tinha nome e sobrenome e era senhor do poder estatal de fazer a perseguição de acusados por crimes ou ilícitos de qualquer natureza. Suas aparições semanais davam-se nos portais de desafetos políticos, habitantes destas esferas terrenas, sujeitos às leis dos homens e não das hostes celestiais . Sua aparência humilde e vida espartana ganharam o gosto do povo e da mídia e, encantados com tamanho despojamento, já o incensavam no altar dos justos, dando-lhe espaços destacados nas edições de finais de semana, em revistas e jornais. Deslocava-se em um velho fusca, em franciscana imagem de desprendimento dos bens materiais, isto num mundo repleto de vaidades. Mas a história demonstrou que este homem gralhava mentiras e, tempos depois, surpreendido pela maré da verdade, flutuou, pois nada mais era que um santo do pau oco, um fariseu ciente e consciente que laborava inverdades com fins políticos , atingindo suas vítimas sem dó ou piedade, para os sórdidos propósitos de facção política, da qual fora militante antes de alcançar cargo federal. Desnudo, após sofrer punição de seus pares, submergiu. Dizem alguns que de forma conveniente, afinal o partido de seu coração agora é o dono do poder central. Mas deixou seguidores. O capeta tem seu séquito. Laboram na escuridão de propósitos infernais e ergueram-lhe um altar nos porões onde tecem planos malignos, repetindo o mesmo credo do mal e os mesmos métodos do mestre. Do aparato que ostentava a antiga vestal, só lhes falta um fusca velho. Infestam o judiciário e a polícia com denúncias, enquanto tratam, eles mesmos, de divulgá-las à mídia escrita e televisada. Não são os acusados suspeitos, mas autores de crimes graves contra o erário, com prévia condenação diante de câmeras de TV, sem ao menos habitar o universo jurídico a peça inicial, a Denúncia formal que abre o processo criminal. Mas a platéia já desconfia do excesso acusatório, sempre direcionado a um grupo político, mesmo que outras administrações não possam se dizer “ cheirosas”, inclusive com a presença, em cargo relevante , de quem se revelaria o maior estelionatário do norte de minas, estranhamente ainda virgem da fúria punitiva dos discípulos do procurador Luiz Francisco, ficando suas vítimas ao desamparo. Do procurador, caiu-lhe a máscara. Os de hoje , de tantas injustiças praticadas, já não se escondem mais, confiantes na impunidade. Agem já sob a luz do sol, em aberto desafio ao Estado Democrático e à Constituição Federal. As respostas têm sido amenas, mas o brilho da verdade há de impor-se ao final, fazendo voltar às catacumbas os despojos desses litigantes temerários, restaurando a dignidade e os propósitos dos relevantes cargos que ocupam ,com a necessária varredura de suas memórias do Livro da Justiça, que deles, há de registrar-se: “ Nunca Mais “.


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Por Isaias Caldeira - 19/6/2013 12:35:00
Quem semeia vento colhe tempestades. O velho bordão exprime, como nenhum outro, o momento atual. A esquerda brasileira sempre teve em sua pauta o incentivo à desobediência civil, com apoio programático aos ditos movimentos sociais, onde o desrespeito às autoridades e as leis integram a praxis política desses grupos. Um dos seus mais renomados e respeitados teóricos, Vladimir Safatle, em suas colunas na grande imprensa, incontáveis vezes defendeu o não cumprimento de leis, se estas contrariam interesses dos autointitulados excluídos. Invasões de propriedades rurais, de imóveis urbanos, desobediência às ordens judiciais, fechamento de estradas, são a materialização dessa política fundada em orientação maxista, na luta de classes, na busca incessante da instalação de um regime socialista, aos moldes cubanos, no País.Apenas fato. Pessoalmente, nada contra a forma de ação, face ao espírito democrático que norteia minha vida. Mas a velha esquerda, agora no poder, esqueceu-se disto, de suas responsabilidades de governante, e que a semente jogada ao vento caía em terreno para além dos limites dos grupos amestrados, sem o controle dos ideólogos e orientadores de suas ações. Enquanto pregavam suas teorias sociais, os alienados das políticas partidárias e ideológicas teciam as linhas de suas angústias em outras plagas, no espaço cibernético e virtual das redes sociais. Então, para desespero dos atuais detentores do poder central, esses novos burgueses, muitos alçados recentemente a esta condição, aprenderam as lições e resolveram por em prática os ensinamentos adquiridos, chamando o povo às ruas para demonstrarem suas insatisfações, tudo de forma genérica, sem uma bandeira específica, pelo simples prazer de protestar. Não há famintos dentre eles, nem condenados ou perseguidos políticos. Não têm lideranças e nem causas; não têm comando, senão aquelas teclas dos computadores que remetem às redes sociais; ajuntam-se e saem às ruas, desprezando a ingerência política e partidária. A maioria bem intencionada, mas sem saber sequer o porquê das manifestações. Centavos cobrados a mais, saúde, educação, corrupção, qualquer coisa enfim, é razão suficiente à adesão ao movimento. Dentre os participantes, como sempre acontece, radicais e extremistas atuam. Daí a destruição do patrimônio público e o enfrentamento com o aparato da segurança estatal, o vandalismo puro e simples. Vai piorar, pois não se sabe como estas coisas terminam. Aliás, sabemos todos: quando o poder e a autoridade se esvaziam, criando um vácuo em seu espaço de ação, com certeza outro grupo aparecerá para ocupá-lo, restaurando a ordem e a legalidade, para o bem ou mal.


75344
Por Isaias Caldeira - 1/5/2013 23:50:03
Muito barulho por nada

Isaias Caldeira

Desgraçadamente sou um empedernido humanista, maturado nas lições hauridas nas observações cotidianas, consolidado o vezo na leitura de escritores humanistas , todos eles assentados nas obras do bardo inglês, Shakespeare, que tem entre suas extraordinárias e incomparáveis criações aquela que leva o título acima, prenhe de humor e tragédia, onde a calúnia é um dos pilares da estória. Esta velha chaga sangra, mesmo mudados os tempos e os costumes, e hoje tem a chancela do Estado. Não são mais as relações pessoais, com ênfase em questões amorosas, o pântano em que viceja esta mórbida flor amoral. Sua gênese medra, hodiernamente, nas intrigas políticas, fomentadas por ações de agentes do Estado e apaninguados, que conspiram à moda medieval , e como novos “ comissários do povo” tramam seus atos tendo por mote a apodada “ moralidade pública”, esta que põe-se a serviço dos objetivos mais torpes, ela que é a mais subjetiva das construções hermenêuticas. A moralidade pública veste-se segundo o figurino do seu tempo e despe-se segundo a tara dos que usam seus préstimos. Foi ela o combustível da Inquisição e de quase todos os genocídios, em todos os tempos, perpetrados por déspotas e pseudo-democratas, tendo por fundo, quase sempre, as palavras de ordem em apoio ao morticínio e ao justiceiro, gritadas pelos algozes e repetidas pela massa ignara. O dolo desses carniceiros reside na consciência de que agem amparados em sofismas, em indícios claudicantes, e que pretextam tão somente para atingir objetivos pessoais ou de grupos, mesmo destruindo pessoas, pois a honra pessoal é atributo indispensável ao homem, e sua privação o nivela aos animais irracionais. Não há vida plena sem honra , pois a vergonha a inibe de ver-se , de sua auto-imagem,pois aos olhos da vítima é a pecha que lhe foi imposta que se revela no espelho, tomando o lugar de sua face real, de sua identidade.Para a platéia se dirigem os atos vis dos guardiões da moralidade e a destruição do outro mostra-se sob a roupagem do politicamente correto, do bom-mocismo, da defesa da ética, que tem no combate à corrupção a mais justa aspiração dos cidadãos. Mas este viés é aparente, é apenas o mote desses guardas de quarteirão para o implemento de suas vilanias. É nesta enseada que lançam suas âncoras. Não lhes atormenta a injustiça perpetrada, e nem os norteia sequer a inútil indignação da Rainha Isabel , ao ver ir ao patíbulo sua prima Maria,que sabia inocente, perante a multidão. Da inteligência de Schiller,obrou-se esta pérola, o registro, posto aos olhos da posteridade, da subserviência ao populismo: “Oh, escravidão de servir o povo, vergonhosa escravidão! Já estou cansada de queimar incenso nas aras desse ídolo que intimamente desprezo. Quando ficarei livre no meu trono? Sou obrigada a respeitar a opinião, forçar o aplauso da turba, dar razão a uma ralé que ama os espetáculos. Oh, não é rei quem procura agradar ao mundo! mas sim quem não tem precisão de regrar a sua conduta pela opinião dos homens”. Os justiceiros de hoje repetem a pantomina, e depois de despedaçarem vidas, imoladas no patíbulo público, se reúnem e gozam seus feitos, indiferentes às lágrimas inocentes, sem um grama de arrependimento, pois despidos de consciência e vestidos da brutalidade dos ímpios. Sei que não é fácil combater quem usa de bons argumentos , do poder das palavras e de sofismas para plantar suas verdades, mesmo que escritas sobre a areia, ciente do permanente descontentamento popular com seus dirigentes, em todos os tempos. O que consola é saber que, apesar dos estragos causados, a verdade quase sempre vence, e os salvadores de hoje podem, amanhã, terem revisadas suas biografias, onde a infâmia e a desonestidade sejam a marca escarlate que justificaram suas vidas. Aos caluniados e difamados de hoje consola a máxima do poeta gaúcho: “ eles passarão, eu passarinho”.


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Por Isaias Caldeira - 8/12/2012 21:14:21

Afonso Brant era primo e amigo de meu pai , além de advogado nas poucas vezes em que ele precisou de um profissional. Não era homem de falsear os fatos na defesa de seus clientes. Amava a verdade e tinha ética rigorosa. Não mentia e não deixava a mentira do cliente ganhar vida nas suas petições. Se o consulente insistia em tese descabida, indicava-lhe a lista de advogados da cidade. Não era dado às conversas inúteis e cavilosas, mantendo-se discreto e respeitoso a todo o tempo, de modo que sua figura merecia dos seus contemporâneos permanente reverência. Um nobre, mas investido daquela simplicidade que mais realça um caráter superior. Foi-se como vão as grandes almas, sem deixar à maldade humana espaço para necrológios reticentes, pois a unanimidade dos que com ele privaram ecoa a sua falta, o espaço vazio de sua ausência irreparável. Mas seu exemplo permanece, mostrando que o campo da ética deve ser o espaço de todos , em todas as atividades e, o que é mais importante, que isto é possível.


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Por Isaias Caldeira - 4/11/2012 17:42:23
O mensalão na TV.

Isaias Caldeira.

Êta velho mundo novo! O tempo é a roldana da história, e ela se reproduz a cada volta deste relógio, mesmo como farsa, dizem. Mas se reproduz. Madalenas sempre existirão em todas as civilizações e em todos os tempos. A hipocrisia humana necessita de autos-da-fé para nos redimir,em alívio de nossas culpas, desde que outros sejam os expiadores. Antigamente a multidão reunia-se na praça onde seria imolado o condenado, num frenesi histérico, pouco importando se inocente ou culpado. Era o preço que o governante então pagava para aliviar as tensões da época, sossegando a inquietude e o descontentamento populares.Punindo-se alguém de forma radical, o sangue do condenado lavava as nódoas nacionais e todos se sentiam expurgados de seus pecados, de modo a continuarem com as mesmas práticas, até um novo martírio. Hoje é diante das televisões que a platéia se põe. Não faço aqui crítica ao julgamento do Mensalão quanto as decisões alí tomadas, afinal deram-se dentro das normas Constitucionais e penais vigentes. Os honrados Ministros do STF têm a plena consciência que estão criando paradigmas, de forma que os demais Tribunais e Juízes balizarão suas decisões em matéria penal no precedente da Corte Superior. Estão fixando diretrizes nas análises de concurso de crimes e fixação de penas, daí o tamanho da responsabilidade deste julgamento . São homens e mulheres íntegros, de grande saber jurídico, todos querendo fazer o melhor no ofício de julgar. Mas sou critico do modelo de publicização do processo, da mídia como jurada e do público que bate palmas enquanto se executa a peça, sem prejuízo de autógrafos nos intervalos,fazendo com que os atores aumentem o volume de suas vozes para serem ouvidos. Afinal, os microfones estão abertos, as televisões ligadas, e nas casas, nos bares e especialmente nas redações midiáticas, policiam-se os votos dos julgadores, não sendo incomum críticas e insinuações àqueles que frustaram expectativas, como se fossem meros serviçais da opinião pública. Como manter-se impassível aos holofotes da tv, aos olhos acusadores de uma mídia que antecipa votos, que vaticina penas e aos libelos de colunistas rancorosos, mas de grande prestígio? A cobertura do julgamento concorreu em audiência com novela de sucesso da maior emissora do país. Analistas apressados já anunciam um Brasil novo depois deste processo. Mas outros julgamentos virão, com novas cobranças da mídia e há de se encontrar um limite à pressão popular, haurida nos editoriais dos grandes jornais e na politização dos fatos. Assim, creio no aperfeiçoamento do modelo, com a cobertura dos atos processuais obedecendo um mínimo de isenção,por força de lei, possibilitando aos julgadores a tranquilidade benéfica ao desiderato da justiça. Por ora temo que, ao final, como na novela das oito, os vilões não sejam tão maus , e assim como a vilã principal, tenham o perdão do público, embora na vida real as punições já tenham sido aplicadas e as prisões se consolidado, restando inútil a tardia remissão popular.


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Por Isaias caldeira - 13/7/2012 13:54:03
O velho tema de sempre.

Isaías Caldeira

A tristeza é um dos pecados capitais. É a acídia, essa malemolência da alma, esse buraco negro que nos engole, o grande vazio existencial. São Tomás de Aquino, sábio e santo bispo, ciente que somos todos tristes, mesmo que sem a mesma frequência e intensidade, colocou a tristeza como sétimo pecado capital, pois ser triste seria uma ofensa ao Criador, que nos pôs aqui, além de deixar os homens letárgicos, desanimados de cuidarem deste jardim, obra de Deus. Mas a igreja católica aplacou a nossa culpa deste sentimento acérrimo e nos incentivou a preenchermos o vazio existencial com o labor, nesta azáfama diária que nos livra da pior das companhias, nós mesmos, trocando o pecado da acídia pela preguiça. Quer ver alguém triste e depressivo, visite seu vizinho num domingo à tarde, sem jogo de futebol ou algo que o distraia de si mesmo. Como demora a passar uma tarde assim, dominical. E o demônio é que as pessoas ainda aspiram a eternidade! Imagine-se imortal, para sempre você e suas circunstâncias, sem ter como fugir de seus demônios pessoais, preso às engrenagens que movem seu ser, que o personalizam e o escravizam, perpetuamente! Que inferno pode haver pior que este? Sim, nos liberta de tal horror aquela que nos aguarda na esquina do tempo, a mesma que levou nossos ancestrais e tantos contemporâneos, velhos e novos, indiferente às lágrimas derramadas, alheia ao desespero materno, ao status do escolhido. Daí a perplexidade de Hamlet, jovem príncipe Dinamarquês: ser ou não ser! Procuro sempre ter algum problema para resolver e manter a mente ocupada. À falta dos pessoais, ocupo-me do meu próximo, como se não bastassem aqueles tantos que o ofício me obriga, nestes quatorze anos de magistrado. Afinal, se você olhar em volta, há coisas mais interessantes a fazer que jogar dominó na praça ou cartas entre amigos. Combater as injustiças é uma delas. Especialmente aquelas patrocinadas pelo Estado, este ser jurídico concebido para te proteger e zelar por seus direitos. Em qualquer lugar haverá sempre alguém investido de poder estatal se achando no direito de humilhar pessoas, pouco importando idades e vidas pregressas incólumes. Parece até que há um certo gozo em destruírem reputações, talvez como forma de nivelarem todos ao lodo, no terreno sáfaro onde o caráter chã medra, de modo que o espelho possa refletir sempre a mesma imagem distorcida de todos os homens. Somos todos maus, dizem, justificando a máxima com seus atos. A tirania que submete o homem, que o humilha e ultraja, alheia a dor da família e do seu núcleo social, busca justificar-se com argumentos nobres, especialmente o subjetivismo nominado “moralidade pública”. As piores ditaduras, as que mais mataram e reduziram à escravidão, deram-se em nome da coletividade, inscientes que o indivíduo é que conta, por ser único, nesta grande construção do tecido social onde estamos inseridos. O mal a um homem inocente contamina todo o processo, por mais bem intencionados que estejam. Hoje é o seu vizinho o acusado e levado à prisão, sem imputação objetiva. Amanhã, se você permanece indiferente, é na grama de seu jardim que eles pisarão, não sem antes disseminarem uma condenação antecipada, com os holofotes da mídia registrando, para sempre, a nódoa que lhe impuseram, para vergonha sua e de sua descendência. Vamos combater o mal, em todos os lugares, mas fazê-lo à moda Kantiana, como um imperativo universal, mesmo que venha embrulhado com o papel diáfano da moralidade pública, esta construção volátil ao tempo e costumes, tão útil às perversidades humanas. Tristeza, preguiça, medo, nada disso pode ser óbice à luta pela liberdade, ou é melhor responder à indagação Hamletiana com a ponta do punhal ou uma poção libertadora.


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Por Isaias Caldeira - 2/5/2012 09:30:29
Os Ressentidos

Isaias Caldeira

Contrariamente à impermanência de Heráclito, eles nunca mudaram. Freqüentam os mesmos botecos há mais de 30 anos. Estão sempre juntos- malgrado uma ou outra visita do Barqueiro sombrio- desde aqueles tempos em que a barba cerrada , os chinelos de dedo e uma bolsa a tiracolo eram instrumentos visíveis de uma rebeldia juvenil, de um inconformismo com o mundo e de vontade de mudança. Naquele tempo, ser do contra impunha um estilo ornamental , onde pontilhava, mesmo sem a ciência do rebelde interiorano e rude, os ensinamentos de Marcuse, mentor da contracultura, onde os hippies se apresentavam como a materialização visível do descontentamento com os rumos de uma civilização consumista e hedonista. Mas naquele tempo, há mais de trinta anos ( tão longe e tão perto, meu Deus!), contrapor-se à mesmice careta e conservadora era a única possibilidade do novo, da experimentação de um caminho que sintetizava a natural aversão dos jovens às verdades estabelecidas, em par com as experimentações psicodélicas em voga, na construção de uma realidade onde o onírico ocupasse o lugar da sistematização e enquadramento da vida, renegando o modelo adotado por nossos pais, produto da ancestralidade imemorial, calcada na sobrevivência num mundo hostil e famélico. Vieram as palavras de ordem. Faça amor, não faça a guerra. O poder das flores.etc. Tudo embalado por Joan Baez, Bob Dylan e outros, até mesmo nacionais, os quais, passado tanto tempo, já nem lembramos os nomes, pois enviuvaram-se da ditadura, engolidos pela falta de um tema que justificasse suas canções e que lhes devolvesse a admiração popular , pois não há nenhuma graça em falar de miséria em casa de novo rico. A Democracia e suas novidades fizeram vítimas. Há sempre os que perderam o trem da história e, como a Carolina da canção, ficam à janela da vida, vendo a passagem das gentes, dos que assumiram o leme do mundo, enquanto eles elucubram alheios à tessitura orgânica de uma realidade tecnológica, instável e frenética que nos cerca. Com copos de cachaça,bebida preferida, não por modismo mas pelo custo, ombreiam-se nas mesas dos botecos que frequentam, e se reconfortam repetindo os velhos bordões do passado, levantando antigas e rotas bandeiras,agora sem causas definidas, ao sabor das circunstâncias. Faltos de ideologias, apenas e tão somente em busca de um meio de sobrevivência, feitos uma legião estrangeira num deserto de propósitos, agem como mercenários , sempre à disposição da má fé e de interesses escusos de algum charlatão. De rebeldes passaram à condição de ressentidos. De ideólogos do mundo novo, à condição de claques de algum detentor do poder que lhes arrume alguma sinecura, uma boquinha qualquer em alguma repartição pública. Tentam-se fazer modernos, mas lhes falta a prática de algum ofício útil. Então jogam pedras, sistematizam a injúria e a calúnia como prática política, posta à disposição de quem lhes dê uns trocados mensais ou se lhes pague uma rodada de bebida. Assim, já encanecidos alguns e fracassados todos, assistem à história que passa, sentados nas mesmas cadeiras, nas mesmas esquinas, no ócio inútil mas loquaz, esperando algum milagre que lhes dê sentido às vidas gastas inutilmente. Sem saberem, justificam, pessimamente, Parmênides, que negava a mudança das coisas.


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Por Isaias Caldeira - 12/4/2012 02:49:02
Cachoeira de hipocrisia

Isaías Caldeira

O Brasil sempre endeusou a cultura da malandragem. Quem, de minha geração, não ria e aplaudia a esperteza de um “Zé Carioca”, malandro sempre disposto a um jeitinho para continuar sem dar se ao trabalho de algum esforço para sua sobrevivência, sob o olhar criativo de Walt Disney? Os malandros do morro, os contraventores do jogo do bicho, os proxenetas e alcoviteiras em geral, tão romanceados pela literatura nacional, de Jorge Amado a Nelson Rodrigues, sempre sob a aura de gente boa, íntegra moralmente, contra um Estado opressor, dirigido por uma elite egoísta e conservadora, contextualizam o pensamento dominante no cenário intelectual brasileiro desde o século passado. Agora, sob os mais variados pretextos, inclusive em nome da santa ética, a mídia nacional volta-se contra um dos ícones culturais que ela tanto acalentou e deu expansão, levando à berra pública , como se maior criminoso do País, a figura de um decano dos jogos de azar no Brasil, o tal Carlinhos Cachoeira, de Goiás, amigo do discípulo de Catão, o eloqüente Senador Demóstenes Torres e outros tantos. Uma geladeira de presente de aniversário é a prova maior de corrupção, aliada às ligações telefônicas interceptadas, onde o moralista Senador se prontificava a defender os interesses do contraventor em votações na Casa Alta. Como se fosse novidade esse entrelaçamento entre o jogo de bicho , seus correlatos e a classe política, tendo por gênesis a cultura carioca, onde tais contraventores lobrigam de conceito invejável junto à população , especialmente entre a classe média e a pobreza, além de responsáveis diretos pelo carnaval , em que se destacam como benfeitores e líderes das comunidades. Goiás e Goiânia não são o Rio de Janeiro. O tal Carlinhos Cachoeira não levou isto em conta e deu-se mal. Ninguém nega os lobbies de banqueiros, com os maiores lucros de todos os tempos no mundo financeiro , de construtoras e empresas poderosas, com seus inúmeros políticos financiados para defender seus interesses no Congresso Nacional, como se isso fosse legítimo, embora em jogo recursos do erário. Demonizam o Senador Demóstenes, mesmo sem uma única acusação de prejuízo ao patrimônio público, embasados tão somente no fato de defender , também, os interesses do contraventor , em sua atuação política. A hipocrisia nacional não tem limites. A moralidade no Brasil é desonesta, pois veste-se segundo o figurino do Poder, usando como instrumento a mídia amestrada e domada à força de verbas publicitárias ou, quando esta ainda guarda alguns pruridos éticos, os interesses de grupos políticos. O Senador Demóstenes apenas revela, com seu comportamento, a crua realidade da política nacional, onde a ética é relativa, e o que conta é o sucesso da empreita, pois feio é perder. Não fosse o vezo moralista do Senador, o que para mim já é motivo de sua condenação, afinal todo moralista é um canalha enrustido, elegeria o dito como ícone da brasilidade, do jeitinho brasileiro de acomodar-se e sobreviver, sempre de olho na casa do vizinho, enquanto o lixo se acumula sob seus tapetes.


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Por Isaias Caldeira - 10/12/2011 18:49:53
Dizia-se, no tempo do governo militar ( regime que, hoje, comparado à realidade fática atual, não me parece distante, e que outrora, na minha mocidade,já era objeto de minha ojeriza), dizia-se, que em cidade pequena o soldado era a autoridade mais importante. De fato. Lembro-me de um que, sem mandado, a paisano, ia até à fazenda do meu pai para prendê-lo, revirando a casa e, ao final, indo pescar no rio que cortava a propriedade, neste que era seu verdadeiro objetivo, mas antes era preciso humilhar a família do foragido. Esclareço,por oportuno, que naquele tempo não tinha a Lei Fleuri, e o acusado de um crime tinha de permanecer preso até o julgamento. Meu pai, levado a júri por tentativa de homicídio, foi absolvido por 7 a 0, reconhecida a legitima defesa. Mas naquele tempo a honra pessoal era algo quase divino, intocável, a ponto de um homem, não conseguindo honrar suas dívidas financeiras, ser obrigado a "cair no goiás", numa alusão ao bom estado da federação, então local ermo, inóspito, uma espécie de Saara, onde uma legião estrangeira amargava sua existência, foragida da desonra, da vergonha pública pelo inadimplemento de suas obrigações ou por algum crime . Mas era um outro tempo! Hoje ladravazes vão à público pedir desculpas pelo cano dado, não em um ou outro credor, mas em dezenas, enquanto se desestressam em solo estrangeiro,no gozo da riqueza usurpada, certos que o tempo e os artifícios legais lhes permitirão o retorno à vida normal, com o pleno usufruto do produto auferido às custas do suor alheio. A coisa é bem mais nefasta nestes tempos. O que tem de fariseus se passando por bons samaritanos causa repugnância! Quantos canalhas usam de prerrogativas oficiais para enxovalhar a honra alheia, cientes que laboram em erro, propositalmente dirigidos à uma finalidade chã, mesquinha, com o único propósito de atender interesses pessoais e políticos! Uma nova inquisição se estabeleceu no Brasil, onde as pessoas são presas antes de investigadas, expostas ao enxovalhamento público, o que se constitui em tortura- para quem preza a honra- pior que o famigerado "pau de arara", hoje página virada nos métodos dos novos inquisidores. Nestes tempos, não é mais necessário arrastar o corpo inerte pelas ruas, ferrar a face com dísticos humilhantes, ou retalhar o acusado e expor seus membros pela cidade. Não, nada disso é necessário. Hoje, chama- se a mídia, adrede convocada, para o espetáculo do linchamento moral, de preferência com o uso de algemas e sirenes de carros, avisando aos cidadãos que um homem acaba de ser moralmente destruído, e que seu nome deve ser, para sempre - pois a mídia é memorizável e reproduzível- coberto com o manto do opróbrio, e que sua geração, "ad perpetuam rei memoriam", deve merecer o escárnio e a condenação das massas.A nuvem negra das manchetes de jornais são cicatrizes que nunca se apagam. Tempos difíceis estes! Anda-se no fio da navalha. Imaginem se Juscelino faria Brasília, ou Três Marias, usina que abastece esta região, ou tudo que fez em quatro anos como Presidente neste Brasil enorme! Quem pode ter a ousadia de desafiar as probalidades e fazer algo novo? Só um louco pode querer enfrentar uma corrente feita de maledicências, sobre o artifício canalha do " bom mocismo", e que se acha no direito de se impor como portadora da verdade, enquanto não passa de um grupelho de moedeiros falsos.Leitor,peço licença para, volta e meia, quando ciente de uma nova barbaridade em curso, levada a cabo por pessoas que deveriam prezar a imparcialidade e o amor à verdade, dar meu pitaco neste espaço. Não sofri os excessos do regime militar na minha mocidade para, agora, na democracia de cuja construção foi partícipe, assistir aos novos "guardas da esquina", sob vestes talares e insignias , empunharem suas adagas contra cidadãos honestos, tudo em nome de uma suposta moralidade pública, a mesma que levava à fogueira inocentes, enquanto adversários repartiam os despojos do martirizado. Contra essa canalha vou resistindo, na modéstia de um cargo público que ocupo, quando instado a decidir. Assim também, na condição de cidadão, despido da toga, não me canso de abjurar tais métodos aqui neste espaço democrático, pois quem conheceu a força de baionetas e fuzis não se verga ou se cala diante de desses anões, que buscam nos refletores da mídia dar dimensão às suas futilidades e fazê-los , pessoalmente, maiores do que são. Sei que, lendo esta mensagem, eles se reconhecerão. Por epílogo, parelho-me a todos os injustiçados, execrados e torturados psicologicamente, por qualquer dos tentáculos do Estado, certos que os algozes não triunfarão. A história é pendular, o carrasco de hoje em geral é o enforcado de amanhã.


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Por Isaias Caldeira - 23/9/2011 03:00:16
Opúsculo sore a condição humana

Tenho completos 52 anos. Creio já ter visto tudo. Nada que é humano me surpreende, como já não surpreendia outros há centenas de anos. A história da civilização é pendular: parte de uma ruptura no tecido social, com os insurgentes devastando a ordem estabelecida, levando ao fio da espada aqueles detentores do poder, vingando-se de antiga submissão, sem contemplação , dó ou piedade, até que, chegando ao ponto de exaustão, a mesma espada volve-se contra os revoltosos, e com mesma intensidade, aplica-lhes os castigos e punições que prescreviam, levando-os ao cadafalso. Danton e Robespierre não me deixam mentir. No regime militar, com o qual convivi na minha mocidade, eram comuns estórias de humilhações e execrações públicas, onde qualquer autoridade, desde o praça menos graduado, brandia seu poder em praça pública ou nas ante-salas das delegacias, vergando aqueles que ousavam discordar da doutrina e pensamento dominantes. A desgraça do totalitarismo são as palavras de ordem. “Ame-o ou deixe-o”, era o jargão contra quem discordava do regime vigente, tornando malditos os insurgentes ou adversários. Contra esse estado de coisas lutamos, combatemos o bom combate, enchendo praças e ruas de descontentes, insubmissos à ordem estabelecida, onde o apogeu deu-se com a campanha das “ diretas já”, redundando , aos trancos e barrancos, no País e na democracia que temos hoje. Mas a história sempre se repetindo. Restabelecida a democracia, ao reboque trouxe os excessos de sempre. Num País desigual socialmente, aparecem sempre os oportunistas, os justiceiros, os distribuidores do suor alheio à guisa de justiça social, condenado a prosperidade dos que trabalham, obrigando-os a repartir os frutos de seu labor com as lesmas e parasitas que quase nunca se elevam com o nascer do sol, porque acordam tarde, mas que se quedam inertes ao crepúsculo , cheio do banzo, da tristeza de um dia vão, sem nada para contar de feito do dia que se vai. Os distribuidores do patrimônio alheio enchem o peito e falam de justiça social, mas suas mãos são lisas, pois não enfrentaram o sol e a chuva e nem carregaram pesos: o seu ofício prescinde de suor e se sustenta na arte dos sofismas, no engodo das palavras . Estes reformadores do mundo abundam neste momento histórico. O Brasil hoje se divide entre os que trabalham e trazem a prosperidade e os sanguessugas, estes comandados por capatazes ideológicos, montados em suas animálias pré-históricas , que bradam por justiça social, como se não soubéssemos de seus verdadeiros objetivos. Meu pai começou a trabalhar em olaria aos oito anos de idade, puxando o animal que carregava o barro. Criou 13 filhos, dentre os quais dois juízes, duas médicas , advogados, funcionário do Banco do Brasil e professores com pós -graduação e mestrados. Sempre madrugou, e nos deixou este hábito. Principalmente, nos legou o apreço à prosperidade, mas sem perder o enfoque na dor do semelhante, sendo este o limite de nossas ações, nunca ultrapassando as defensas da ética e da moral. Assim vejo o mundo. Assim tenho procurado agir. Sei das fraquezas humanas, e tenho, antes de mais nada, um dó enorme dos homens , de sua fragilidade. Sendo efêmera sua individualidade , dói-lhe a certeza da morte, insciente que é parte do todo, do grande organismo universal, de quem é um átomo perene, seja homem ou flor que brota no mais humilde túmulo. Amo este País, este mundo. Sofro porque vejo injustiças, mas não perco a esperança , não posso e nunca devo perder a minha crença nos homens, na nossa natureza divina. Esses lapsos históricos, sei, são apenas pequenas pedras para nos lembrar da caminhada até à perfeição. O Brasil está se acertando, apesar desses excessos. Contidos os exageros, especialmente os institucionais, os brasileiros vão conduzir a humanidade à paz e a felicidade.
Em tempo: dedico esta modesta mensagem a Ivonei Abade Brito, um dos raros políticos íntegros deste País, a despeito das adversidades do momento . A minha certeza de sua honestidade está acima das vicissitudes presentes, pois não sou homem sujeito à hipocrisia, e sei que no mundo abundam os discípulos de Torquemada, os que sorriem enquanto a honra alheia é posta em chamas, para gáudio da massa ignara e gozo da canalha adversa. Feliz aniversário, Ivonei. Deus é o maior dos juízes.


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Por Isaias Caldeira - 28/4/2011 12:20:08
Apenas coisas óbvias.

Até o ano de 2006, antes da Lei 11.343/06,a chamada Lei de Tóxicos em vigor no País, no Rio de Janeiro, Capital, a venda de "Crack" não era tolerada pelos traficantes que dominavam os morros cariocas. Sabiam os donos das bocas de fumo que o crack mata o usuário em pouco tempo, ou o deixa incapacitado mentalmente, daí não desejarem o seu consumo, até porque é droga barata em comparação com as demais. Mas depois da citada lei 11.343/06, foi esta droga por eles autorizada naquela cidade e Estado, pois perceberam que, vendendo-a, destruiriam a vida de uns tantos, mas agregariam milhares na base de consumo, expandindo-se o universo de usuários. Perdiam uma dezena e ganhavam milhares. Assim tem sido ali e em todo o Brasil. O crack está nas cidades e nas zonas rurais, até mesmo em locais onde a gente imaginava que não chegaria facilmente, como nos municípios de Grão Mogol, Cristália, Batumirim, etc, em que a pobreza avulta, mas de população rurícola, de gente simples e trabalhadora. Fui Juiz ali e fiquei perplexo com o grau de contaminação por este câncer social, introduzido pela ganância dos traficantes e irresponsabilidade dos nossos legisladores e autoridades em geral. Registro a data da Lei 11.343/06 como marco e divisor de águas no tráfico de drogas neste País porque, na prática, esta lei liberou o consumo de drogas ao não punir o usuário. Se preso, somente é conduzido à delegacia e lavrado um TCO, liberando-se o usuário e o encaminhando ao Judiciário, onde recebe advertências ou é determinado que se submeta a terapia. Mas se ele não cumprir, fica o dito pelo não dito. Nunca poderá ser preso por desobedecer a " sentença" dada. Nunca se ouviu falar de crime sem pena, sem punição. Então, óbvio, o uso de drogas não é mais crime no Brasil desde a vigência desta Lei 1.343/06. àqueles que discordarem, peço que examinem as estatiscas anteriores a esta lei e como o consumo de crack universalizou-se após seu advento. É simples, são números de ocorrências ligados à venda e consumo de drogas no País. Ninguém mentalmente hígido quer o simples encarceramento de usuários, mas a lei deveria converter em prisão o não cumprimento da ordem judicial emanada da sentença. Se não frequentasse a terapia ou não se submetesse ao tratamento determinado pelo Juiz,
iria para a cadeia. Afirmo, como Juiz da área criminal em Montes Claros-MG, que o tráfico de drogas saiu do controle do Estado, permeia as cidades e campos, destroi vidas e famílias, sendo responsável por mais de 80% dos crimes cometidos em comunidades como a nossa. De nada adianta o esforço tremendo das polícias no combate sistemático ao tráfico e traficantes. Dezenas são presos todos os meses, mas outros tantos assumem os lugares dos encarcerados. Sugiro, com conhecimento de causa, para não me alongar muito, as seguintes providências: primeiro, aplicar a lei 1.343/06 na forma expressa pelo legislador, não permitindo a substituição da pena privativa de liberdade por alternativas em crime de tráfico; manutenção do regime fechado nesta modalidade criminosa; encarceramento do usuário que não se submeter a decisão do Juiz na sentença; e agregar a prisão perpétua para os grandes traficantes, passível de indulto, mas somente após cumpridos mais de 25 anos de encarceramento. E que, pelo amor de Deus, afastem esses pruridos ideológicos que norteiam a política criminal neste País, onde o bandido é sempre vítima de alguma coisa, jamais responsável pelas barbáries que pratica. Do jeito que a coisa anda, em breve tempo, quem buscar justiça vai ter que fazê-la, tudo por culpa da leniência dos Poderes da República, esquecidos que estão daqueles que lhes arrimam a existência e sustenta o Estado- os homens honestos desta nação.


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Por Isaías Caldeira - 17/12/2010 08:00:18
DE NOVO CLAMANDO NO DESERTO.

Já verberei contra a tal Lei de Ficha Limpa, ou Suja. Agora, com a eleição e diplomação do Sr. Paulo Maluf, em São Paulo, creio que alguns não sectários me darão razão. O político em questão, de forma justa ou não, é o símbolo do que há de pior na política nacional e não foi alcançado por esta lei. Embalde a aclamação popular,a Lei é ruim, e o povo às vezes erra- que o diga o próprio Jesus Cristo.Agora venho me manifestar contra esta lei que exige receita médica para compra de antibióticos em farmácias, e exige mesmo,não obstante a falta de médicos no Brasil. Há regiões, no norte e nordeste, com 1 médico para 10.000 habitantes. Legislam nossos políticos como se fossem cegos e surdos, não assistindo nos noticiários a barbárie na saúde pública. Quem vai receitar para o pobre na compra de um antibiótico para um caso de infecção de garganta ou ouvido, tão comum na infância? Minha assessora, que tem plano de saúde, somente conseguiu uma consulta médica para 8 dias, mesmo com um familiar febril em casa,padecendo de infecção de garganta. Gritou, teve a consulta antecipada, recebendo a receita de sempre, com os antibióticos imprescindíveis à cura da moléstia. E os pobres, como farão? Não têm planos de saúde e nem voz para serem ouvidos pelo sistema. O SUS não acompanhou a exigência legal, não se preparou para isso. É claro que somente médicos DEVERIAM receitar, mas a realidade se sobrepõe a esta, ainda, utopia brasileira de justiça social. Que farmacéuticos possam indicar e vender antibióticos nesses casos simples, onde não há opção à cura e são males de diagnósticos evidentes. Já disse aqui neste mural que o problema brasileiro é que o governo está sempre tentando cuidar de nossas vidas, de nossos destinos, mesmo às custas de nossa desgraça. Que preparem o SUS, encontrem médicos para o pobre, depois exijam o mundo do dever ser. Se não mudarem a lei ou o atendimento médico, teremos agravada a saúde pública no Brasil por conta de uma legislação à Suécia, mas dirigida ao povo com padrões de vida de terceiro mundo. Crianças estão sofrendo e pais estão desesperadas nos postos de saúde e nos corredores dos hospitais. É doloroso ver isto e calar-se, daí minha opinião sincera.


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Por Isaías Caldeira - 2/9/2010 08:52:18
Mais uma Lei das "burras".

Em vigor no País, desde o dia primeiro deste mês, a Lei que obriga o uso de cadeirinhas para crianças no banco traseiro. Mais uma vez cheia de boas intenções do legislador.Na prática, um estorvo, pois refletirá negativamente no dia a dia das pessoas.Vejamos: se alguém sem filhos menores, portanto sem necessidade do acessório, tiver que transportar um carona acompanhado de filho até sete anos,não poderá fazê-lo.Pergunta-se:e se a criança estiver numa fazenda, ou na beira de uma rodovia, precisando de consulta médica urgente, como resolver? E se for um parente do motorista, ou amigo, numa emergência qualquer, como atender à necessidade premente sem incorrer na tal multa? Não se fala aqui em Samu, 190, ou equivalente, pois nem sempre são acessíveis ao cidadão.Pense no cotidiano,no passeio com sobrinhos, vizinhos, etc: tendo mais de uma criança, impossível! No dia 30 de agosto passado, na rodovia de Francisco Sá, um veículo com 05 passageiros acidentou-se. Morreram uma senhora e uma criança que estava em um banquinho deste. Dependendo do acidente ou da fatalidade, a tal cadeirinha não adianta nada, ou muito pouco. Nessa estória, quem vai ganhar são os fabricantes e comerciantes do acessório, além, claro, do governo, que vai encher as burras com as multas aplicadas. Pobre cidadão, que precisa sempre do governo para zelar por sua vida e destino, mesmo como pretexto para arrancar-lhe o couro!


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Por Isaías Caldeira - 9/7/2010 08:36:52
De novo, mas pela última vez.

" Age de tal modo que a máxima da tua ação se possa tornar princípio de uma legislação universal."

A máxima acima, do velho Kant, parece que foi esquecida por nossos legisladores, ou lhes é desconhecida. Cito-a apenas para ratificar minha manifestação neste mural contra a tal Lei da Ficha Suja, que sei, é de agrado do povo, mas tal subjetivismo não a desnatura de sua condição de inconstitucional e perigosa, estou certo. Volto ao assunto, desta vez de forma breve, em razão de recente manifestação de um deputado mineiro,que deixo de citar o nome, que vai apresentar emenda à Constituição Estadual proibindo a contratação de condenados para cargos cargos públicos em geral, com base na malsinada lei.É sempre assim.Quando se abre caminho através de uma lei de exceção, como a " Ficha Suja", restringindo direitos de parte da população, a porteira fica aberta para novas leis, estendendo seus tentáculos a outros grupos sociais ou categorias, tudo na melhor das intenções, para gáudio do inferno. Por isso sou contra. Vejamos: se o prório Conselho Nacional de Justiça e o Governo incentivam a contratação de egressos ( condenados reinseridos na sociedade após o tempo de prisão) até com incentivos governamentais, como justificar as restrições acima mencionadas? Não pode haver duas verdades. Ou todos são tratados igualmente pelo legislador ou a lei não presta, porque não tem esse caráter universal preconizado na frase do filósofo Kant, não tem uma razão moral sólida. Infelizmente me oponho ao sentimento quase geral da população,porque sei que soluções fáceis escondem armadilhas e em geral voltam-se contra a nacionalidade.


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Por Isaias Caldeira - 1/7/2010 17:20:06
Ditadura legislativa

Por Isaías Caldeira Veloso

Este é um tempo de perplexidades, os fatos o comprovam. Ainda extasiados diante de um mundo globalizado, com cada vez menos individualidade, menos privacidade e a exasperação da publicidade, os homens deste tempo ainda buscam uma linha demarcatória para os limites da informação, de modo a preservar o cidadão da exposição e julgamento públicos e, ao mesmo tempo, conceder a todos o acesso ao conhecimento dos fatos e das pessoas, especialmente daquelas que ocupam parcela do poder estatal. Em tempo em que a democracia reina quase que absoluta no mundo, com poucas exceções, os países,notadamente aqueles que não têm uma tradição democrática sólida, vêem-se diante da necessidade de adequar-se à modernidade política, em que avultam-se as garantias individuais, e de igual maneira criar mecanismos de contrapeso à individualidade em favor do Estado e do interesse público. Pois bem, no caso específico do Brasil, que viveu um período de exceção há mais de 20 anos, assistimos a uma tendência de se acentuar essas garantias individuais por meio de leis que, contaminadas pela parcialidade, desprovidas daquele caráter geral que as direcionaria a todos, nos tornando uma só nação, já nos divide. Agora temos cotas nas universidades que se lastreiam em cor, condições sociais e pseudo raça. Querem até impor cotas para raças em contratos de trabalho. Sob pretexto de reparar males da antiguidade da nossa formação como país, mas que hoje mostram-se coerentes e benéficos à nossa sociedade, face à miscigenação decorrente deste casamento racial entre brancos, negros e índios, concedem àqueles que se auto denominam descendentes de escravos - como se a maioria dos brasileiros não tivesse um pé na senzala - ou descendentes de antigas tribos indígenas, direitos que à outra parcela da população são negados. Basta ter a pele um pouco mais clara para ser tratado como explorador e usurpador dos que não a têm, retirando-se ao cidadão, mesmo pobre, os benefícios necessários ao alcance dos bens da civilização, como cursar uma faculdade ou ter acesso à posse da terra, pois exconjurados pela legislação em vigor. Lado outro, em outra vertente, os legisladores se vêem acuados pela opinião pública que, podendo expressar-se livremente, quer uma rápida solução para as mazelas nacionais, dentre elas a corrupção na seara política. Aí, mobilizando-se parcela de eleitores, com o apoio de uma mídia despreocupada com as conseqüências de suas manchetes e opiniões, gestam leis discriminatórias e perigosas à democracia, embora a intenção seja generosa. Nesta esteira, a tal Ficha Limpa ou Ficha Suja, dependendo do sentido que se quiser dar às candidaturas postas. Basta uma condenação por órgão colegiado para retirar do homem público a sua cidadania, que é, substancialmente, votar e ser votado, participando da vida nacional. Ora, além de contrariar a Constituição Federal, que exige trânsito em julgado da sentença condenatória, retira do poder Judiciário a sua obrigação de celeridade processual, punindo o cidadão que se vê processado ao invés de assumir sua responsabilidade pelo não julgamento do processo. Além disso, revela-se uma violação do sistema hierárquico imposto pelo duplo grau de jurisdição, consignado na Constituição Federal, em prejuízo do cidadão e de seus direitos, dando efeito definitivo a uma condenação ainda não consolidada no plano jurídico. Querem mudar o caráter da nacionalidade por decreto, retirando do eleitor a sua responsabilidade pelo voto, tutelando-o, como se fosse um incapaz e não alguém destinatário de informações cotidianas, com o mundo em sua casa, pela televisão e jornais de hoje. A instância final, o STF, que não raro modifica ou cassa as decisões das instâncias inferiores, terá como reparar o mal já feito pela lei que puniu indevidamente um cidadão? Basta que um inocente seja punido, o que certamente ocorrerá, para manchar indelevelmente esta lei. É temerária toda lei que antecipa condenação, e assim como as custódias cautelares, que mantém as prisões abarrotadas de acusados, dentre os quais inúmeros inocentes, esta lei certamente punirá também homens honrados, probos administradores, perdidos dentro deste emaranhado de normas que regem a administração pública, de modo que, estou certo, no futuro fará jus ao seu nome, ”Lei da Ficha Suja”, pois sujo é seu destino, condenada ao lixo da história.




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