Leia a nota, na íntegra, em que a mística, sincrética Bahia anuncia a morte da Mãe Carmen, aos quase 99 anos, filha e sucessora da Mãe Menininha
Sexta 26/12/25 - 12h26Anunciado em Salvador, nesta manhã:
Morreu na madrugada desta sexta-feira, aos 98 anos (segunda-feira completaria 99), Mãe Carmen, ialorixá do Ilê Iyá Omi Axé Iyamasé, conhecido como Terreiro do Gantois, um dos mais tradicionais centros do candomblé no Brasil.
Ela estava internada há cerca de duas semanas no Hospital Português, em Salvador, após apresentar complicações causadas por uma forte gripe.
Mãe Carmen nasceu em 1926, mas teve o registro oficial feito dois anos depois.
Filha de Mãe Menininha do Gantois, uma das mais importantes lideranças religiosas do país, Mãe Carmen comandava o terreiro desde 2002 e foi a sexta ialorixá da história da casa, fundada em 1849.
Iniciada no candomblé aos sete anos de idade, ela teve atuação marcada pela preservação das tradições afro-brasileiras.
e pelo reconhecimento nacional e internacional do Terreiro do Gantois como patrimônio cultural e religioso.
O terreiro ainda não divulgou informações sobre velório e sepultamento.
Nota do Terreiro de Gountois:
"É com profundo pesar, respeito e reverência que a Associação de São Jorge Ebé Oxóssi comunica a passagem da Ìyáloriṣa do Ìlé Ìyá Omi Àṣe Ìyámaṣé, Mãe Carmen de Òṣàgyían.
Ìyáloriṣa, mulher de axé, guardiã da ancestralidade e herdeira de uma linhagem que pavimentou a história do Candomblé na Bahia e no Brasil.
Filha direta de Mãe Menininha do Gantois, Mãe Carmen nasceu para o sagrado. Desde muito cedo, foi formada nos fundamentos, nos ritos e nos saberes que sustenta uma nação. Sua infância foi preparação espiritual; sua vida, missão. Nada em seu caminho foi acaso, foi legado, destino, desígnio dos Orixás.
Há 23 anos à frente do Gantois, Mãe Carmen assumiu com amor, coragem e responsabilidade a condução de uma Casa que é fé, memória e identidade. Ser Ìyáloriṣa em sua presença, sempre significou cuidar, proteger, orientar e sustentar o axé com dignidade, firmeza e sabedoria, zelando pela comunidade e pela continuidade de uma tradição ancestral.
Mãe Carmen foi farol, colo, caminho e fortaleza. Sua palavra ensinava, seu silêncio acolhia, e seu fazer cotidiano era atravessado pela entrega, pelo respeito aos Orixás e pelo compromisso com a vida coletiva. Em seu corpo e em sua condução, a herança de Mãe Menininha permaneceu viva, pulsante e afirmada dia após dia.
Como Ìyáloriṣa desempenhou com dedicação e firmeza o cuidado cotidiano do axé, contando com o apoio de suas duas filhas, que estiveram ao seu lado na condução da roça, compartilhando responsabilidades, saberes e a sustentação da Casa. Mãe Carmen deixa ainda três netos e quatro bisnetos, expressão viva da continuidade, da memória e do futuro que segue sendo tecido a partir de sua presença e de seu legado.
Seu retorno ao Orun acontece em uma sexta-feira, dia consagrado a Oxalá, Orixá da criação e da serenidade, um símbolo que traduz uma trajetória marcada pela retidão, cuidado e fé. Em Oxalá, o descanso, na ancestralidade, a permanência.
Hoje, nos despedimos de sua presença física, mas afirmamos com convicção: seu axé permanece. Seus ensinamentos seguem vivos, sua missão continua inscrita na história e sua memória permanece como fonte de força, amor e sabedoria para as gerações que virão.
ASJEO"


