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montesclaros.com - Ano 25 - quarta-feira, 24 de abril de 2024
 

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Mensagem: No ventre da Mãe Terra Alberto Sena Combinamos levantar às 5h. Um passaria na casa do outro. Juntos, íamos à Lapa Grande. Éramos amigos. Vários. Certamente, não me lembrarei de todos. Isto aconteceu há décadas, quando ir à Lapa Grande significava andar por trilhas no meio do mato, ouvir o canto de passarinhos logo cedo e até deparar com pequenos animais, como teiús, calangos, almas de gato, pássaro grande, de rabo comprido e vôo pesado. Imagino: hoje a cidade já chegou à Lapa Grande. Faziam parte do grupo: Marlúcio (“Brasa Mora”), Chico Gomes, Rubinho Sena, Reinaldinho, Madureira, Cícero Stru e outros. Como nós íamos precisar iluminar o interior da lapa e ninguém tinha lanterna, combinamos levar querosene para improvisar tochas e assim resolveríamos o problema da escuridão. Cada um cuidou de fazer a sua matula e levar refrigerante, vinho, do tipo garrafão, naquela época, era o que se bebia; senão cerveja e cachaça, o que não era o caso de levar na excursão. E como era chique fumar, nós fumávamos, e cada um tratou de levar a sua dose de veneno. Fumávamos cigarros Minister, em embalagem branca com a marca em azul. Era atraente. ‘Brasa Mora’ passou lá em casa. Juntos, fomos à casa de Cícero Stru, próxima da minha, na Rua Corrêa Machado, esquina de Rua Dr. Veloso. Fomos à casa de Chico Gomes, na Rua Bocaiúva. E descemos a Rua General Carneiro para acordar Rubinho Sena e, em seguida, nos encontramos com os demais ali na Praça Dr. Carlos. Cada um levava sua sacola de mantimentos. O sol de Montes Claros rachava paralelepípedos. Fomos andando, cada um querendo expandir mais a satisfação de estarmos indo passar o dia na Lapa Grande. As ruas da cidade estavam vazias de gente, de carro e de bicicleta. Saímos da cidade e fomos seguido trilhas rumo a Lapa Grande, sobre a qual se contavam histórias e aventuras mil. Lá chegando, na entrada aprontamos as tochas. Cada um ficou com uma. Antes subimos numa elevação já dentro da lapa, logo na entrada. Houve quem subiu nela e não conseguiu descer do topo sem ajuda. Acendemos as tochas e embrenhamos lapa adentro. Deparamos com morcegos, aparentemente não hematófagos. O morcego hematófago transmite a raiva. Toda noite ele vai ao mesmo lugar onde atacou o animal na primeira vez e fica grudado, sugando o sangue do bicho, transmitindo germes da doença mortal, também para o ser humano. A Lapa Grande é dos melhores pontos turísticos de Montes Claros. Além dos mistérios que a lapa encerra, era agradável entrar pelos corredores e rastejar em alguns lugares aparentemente inacessíveis, para encontrar lá no fundo um rio de águas límpidas. Não sei se o rio ainda existe. Aonde a cidade chega, infelizmente, a natureza desaparece porque o bicho homem põe as mãos cheias de dedos e estraga tudo. Em um ponto onde todos tinham de rastejar por estreito túnel para atingir um dos salões da lapa, foi um deus-nos-acuda. Chico Gomes sofreu crise claustrofóbica, passou mal sem poder respirar. Íamos um atrás do outro. Como Chico estava mais ou menos no meio do grupo, a situação dele nos assustou. Mas não recuamos. Fomos incentivando o companheiro a seguir adiante até nos depararmos com um salão. A exceção dos morcegos, nenhum animal nós encontramos. Vimos estalagmites, formações de baixo para cima; e estalactites, formações do teto para baixo, mas não tocamos em nada porque já tínhamos noção da importância de preservar os bens naturais. Encontramos o rio e experimentamos entrar na água. Gelaaadaaa!!!. Incursionamos por vários ambientes da lapa e depois iniciamos a saída. Até que sair foi mais fácil do que entrar. Mas foi engraçado na saída. Rimos até doer a boca do estômago. Ao chegarmos do lado de fora, à luz do sol, um olhava para o outro e disparava a rir. Nem todos tinham ideia do que se passava, mas riam assim mesmo. Houve crise de riso porque cada um tinha marcas nas narinas por ter respirado lá dentro da lapa a fumaça escura do querosene. Eram como dois canudos pretos nas entradas do nariz. Chico Gomes, aliviado, crise de riso controlada, jurou nunca mais experimentar sensação tão estranha como a claustrofóbica, inda mais na Lapa Grande, no ventre da Mãe Terra.

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